diálogo

Category: Termos chaves da Filosofia
Submitter: Murilo Cardoso de Castro

diálogo

(gr. dialogos; lat. dialogus; in. Dialogue; fr. Dialogue; al. Dialog; it. Dialogo).

Para grande parte do pensamento antigo até Aristóteles, o diálogo não é somente uma das formas pelas quais se pode exprimir o discurso filosófico, mas a sua forma típica e privilegiada, isso porque não se trata de discurso feito pelo filósofo para si mesmo, que o isole em si mesmo, mas de uma conversa, uma discussão, um perguntar e responder entre pessoas unidas pelo interesse comum da busca. O caráter conjunto dessa busca da forma como os gregos a conceberam no período clássico tem expressão natural no diálogo. A falta de confiança de Platão nos discursos escritos, porquanto não respondem a quem interroga e não escolhem seus interlocutores (Fedro, 275 c) (o que talvez tenha levado Sócrates a não escrever nada e a concentrar toda a sua atividade na conversação com amigos e discípulos), também consolida a superioridade do diálogo como forma literária, que procura reproduzir o ritmo da conversação e, em geral, da investigação conjunta. Foi por certo esse o motivo que induziu Platão a manter-se fiel à forma dialógica em seus escritos e a esquivar-se à pretensão do tirano Dionísio de reduzir sua filosofia à forma de sumário (Carta VII, 341 b). A exigência do diálogo está presente, de modo mais ou menos claro, em todas as formas da dialética, e não se pode dizer que esteja totalmente ausente da indagação filosófica, que, mais do que qualquer outra, procede através da discussão das teses alheias e da polêmica incessante entre as várias diretrizes de pesquisa. Além disso, o princípio do diálogo implica a tolerância filosófica e religiosa (v. tolerância), em sentido positivo e ativo, ou seja, não como resignação pela existência de outros pontos de vista, mas como reconhecimento de sua legitimidade e com boa vontade de entendê-los em suas razões. Nesse sentido, o princípio do diálogo permaneceu como aquisição fundamental transmitida do pensamento grego ao moderno e que, na atualidade, conserva valor eminentemente normativo (cf. G. Calogero, Logo e dialogo, 1950). [Abbagnano]



É nos diálogos que aquilo que é falado possui o seu valor conjuntural. Em verdade, não haveria nenhum diálogo sem aquilo que é dito. No entanto, o diálogo é sempre mais do que aquilo que é dito. A intenção também entra em jogo e sempre como aquilo que se lança para além das intenções dos parceiros de diálogo, um diálogo não é nenhuma troca de palavras, ele não pode ser reduzido às declarações daqueles que tomam parte nele. Foi nesse sentido que Gadamer acentuou o fato de um diálogo não ser “conduzido” em sintonia com o modo de falar corrente. Com maior razão, o diálogo que tem sucesso e que se mostra, por isso, como um “diálogo propriamente dito” não seria “nunca aquilo que gostaríamos de levar a termo”; quanto mais “próprio” é um diálogo, tanto menos a “sua condução” reside “na vontade de um ou de outro dos parceiros de diálogo” [Gadamer, Verdade e método, GW 1, p. 387]. Todo diálogo é um solo comum que não pode ser estabelecido por meio dos parceiros de diálogo. Este solo comum já precisa existir, para que elementos comuns possam ser descobertos.

No contexto do diálogo “propriamente dito” em que Gadamer pensa, é a coisa comum que “já sempre” ligou os parceiros de diálogo como “um perfeito a priori” [Heidegger, Ser e tempo, GA2, p. 114]. O elemento atmosférico não poderia desempenhar um papel menor - a tonalidade afetiva, o ensejo e o ponto de partida esperado, o caráter favorável ou desfavorável de lugar e tempo. Decisiva, porém, é a familiaridade ou a estranheza em relação ao parceiro do diálogo. Delas depende o quão aberta e desprendidamente nos expomos. Por exemplo, o quão aberta e desprendidamente admitimos que não sabemos como prosseguir e indagamos de maneira correspondente. Em que medida isto é possível também tem certamente algo em comum com a experiência do parceiro de diálogo, com a sua formação e os seus hábitos; além disso, essa possibilidade depende daquilo que é e daquilo que não é usual em uma forma de vida. Todavia, as coisas podem ser por princípio questionadas no diálogo. Enquanto podemos perguntar, não precisamos interpretar. [FigalO:79-80]

Submitted on:  Wed, 29-Dec-2021, 19:48