Verfallen

Category: Heidegger - Termos originais
Submitter: Murilo Cardoso de Castro

Verfallen

de-cadência [STMSCC]
échéance [ETEM]
entangle, entanglement, falling prey [BTJS]

NT: O termo de-cadência corresponde à expressão alemã "Verfallen", inclusive nas conotações morais e desabonadoras que Ser e Tempo exclui. Trata-se de um termo que remete à estrutura ontológico-existencial que é a pre-sença e não a uma qualidade ou modalidade. [STMSCC:324]



A partir de los acres comentarios de Pascal sobre la huida de uno mismo, Heidegger remonta la raíz de este fenómeno al movimiento de caída (Verfallen) en el mundo de las cosas (cf. GA61: 93).15 Este es un leitmotiv tanto de la obra temprana de Heidegger como de Ser y tiempo, que se expresa en la diferencia bien conocida entre propiedad (Eigentlichkeit) e impropiedad (Uneigentlichkeit). En efecto, la propiedad y la impropiedad no designan nada más que las dos orientaciones posibles que el Dasein puede dar a su existencia: bien la huida [Abkehr] ante sí mismo y de sus posibilidades [Möglichkeit] más propias, bien la apropiación de estas posibilidades que se manifiesta como responsabilidad en la forma de un querer-tener-conciencia [Gewissen-haben-wollen]. [GuiaST]
NOTA: En las lecciones del semestre de invierno de 1921 / 22 Interpretaciones fenomenológicas sobre Aristóteles, Heidegger ya abordó con cierto lujo de detalles las consecuencias y los fenómenos asociados a este movimiento de caída (Verfallen) , tales como ruina (Ruinanz), distancia (Abstand), oclusión (Abriegelung), prestrucción (Praestruktion) y relucencia (Reluzenz) (cf. GA61: 100-106, 117-123 y 131-147). Un asunto que cabe entender como una profundización del fenómeno de la tentación (Versuchung), abordado a propósito del minucioso análisis de la disperiso y tentatio descritos en el libro X de las Confesiones de Agustín (cf. GA60: 210-238). [GuiaST]


NT: Verfallen, Verfallenheit, Verfallensein : échéance, être-échu, avec le fréquent part. présent verfallend, échéant, tout cela dérivant naturellement du verbe échoir = verfallen. Après être resté longtemps captif de la traduction usuelle par « déchéance », que nous croyions aussi inévitable que médiocre, nous avons finalement pensé à la décapiter de son « d » initial, et voici pourquoi : d’abord, le procès de « déchéance » n’est plus à faire, le texte de S.u.Z. réclamant expressément l’abandon de toute notion de « chute », qui présupposerait un « état d’intégrité » du Dasein et suggérerait donc le passage à un état « inférieur » ; ensuite, notre part. « échéant » demeure usuel (cf. « le cas échéant »), et il se trouve que le part. allemand verfallend est employé avec une fréquence particulière par H. (nota bene qu’il ne faut ici songer ni au verbe « échouer », dont l’étymologie est inconnue, ni à « échec », mot notoirement persan) ; enfin et plus fondamentalement, si nous proposons ici de modifier le sens courant du français échéance, il nous semble que cette modification est aussi bien fidèle à ce sens même, qu’il convient simplement de débarrasser de sa connotation de « nécessité fatale » : le Dasein, autrement dit, vient à échéance contre l’étant, non en ce sens qu’il buterait sur lui comme sur un obstacle l’empêchant d’aller plus loin, mais en ce sens qu’il vient donner de la tête contre lui, va toujours jusqu’à lui, se confronte toujours avec lui ; dans l’idée ord. d’échéance, donc, nous écartons la nécessité pour ne garder que celle — différente ! — de ce qui ne saurait manquer d’advenir en ce sens que, fondamentalement, il est toujours déjà advenu. Cf. d’abord § 38. [ETEM]


NT: . . . das Dasein hat nicht nur die Geneigtheit, an seine Welt, in der es ist, zu verfallen and reluzent aus ihr her sich auszulegen, Dasein verfällt in eins damit auch seiner mehr oder minder ausdrücklich ergriffenen Tradition.’ The verb ‘verfallen’ is one which Heidegger will use many times. Though we shall usually translate it simply as ‘fall’, it has the connotation of deteriorating, collapsing, or falling down. Neither our ‘fall back upon’ nor our ‘falls prey to’ is quite right: but ‘fall upon’ and ‘fall on to’, which are more literal, would be misleading for ‘an . . . zu verfallen’; and though ‘falls to the lot of’ and ‘devolves upon’ would do well for ‘verfällt’ with the dative in other contexts, they will not do so well here. [BTMR]


NT: Entangle(ment) (Verfallen: also "falling prey." See translator’s note, 133 n. 3), 21, 22 (ensnared), 36 (fell back under cover), 133-134, 139, 175-180 (§ 38), 177 (ensnared), 181-182, 184-186, 189, 192-193, 195, 201, 254-255, 258-259, 281, 286, 294, 304, 311, 322, 328, 331, 335, 367, 369, 389, 397, 406, 411-412, 426. See also Falling prey [Verfallen] [BTJS]


NT: Falling Prey (Verfallen, also entanglement. See translator’s note, 133 n. 3.), 175-180 (§ 38), 185-191, 193, 195, 206, 221-222, 231, 250-252, 254-255, 269-270, 277, 284-286, 293, 294, 298, 313-314, 316, 323, 328, 338, 345, 346-349 (§ 68c), 350, 369, 378 (fall), 436; See also Entangle(ment) [Verfallen] [BTJS]


Apesar do sentido de deterioração, Heidegger insiste que Verfallen não é um termo de desaprovação moral, nada tendo em comum com a acepção cristã de queda da graça (GA20, 391; SZ. 179s; CH, 329/235s). "Por si mesmo, em seu próprio poder-ser mais autêntico, Dasein já caiu [abgefallen] de si mesmo e de-caiu [verfallen] no ‘mundo’ [an die’Welt’]" (SZ, 175). A queda é uma "fuga de Dasein de si mesmo como poder-ser-si-mesmo autêntico" levada pela angústia (SZ, 184). Heidegger dá três explicações daquilo em que Dasein caiu e, implicitamente, de onde Dasein se afastou (SZ, 175):

1. Verfallen significa: "Dasein está antes de tudo e na maioria das vezes junto ao [bei] ‘mundo’ de sua ocupação" (cf. SZ, 250).

2. "Esta absorção em... [Aufgehen bei...] geralmente possui o caráter de estar perdido na publicidade do impessoal".

3. "Decair no ‘mundo’ significa ser absorvido no ser-um-com-o-outro, à medida que isto é guiado pelo falatório, pela curiosidade e pela ambiguidade".

A explicação 1 sugere que, devido à decadência, Dasein cuida de suas ocupações presentes. Martelando na oficina, ocupado com o processador de textos, desatento ao conselho de Dr. Johnson: " O que quer que nos retire do poder de nossos sentidos, o que quer que torne o passado, o distante, ou o futuro, mais importante do que o presente, nos aproxima da dignidade de pensar os entes" (Boswell, 277s). Verfallen está associado ao presente, assim como a existência com o futuro e a facticidade com o passado. Em que sentido Dasein decaiu de seu "poder-ser-si-mesmo autêntico"? Ele não tem em vista toda a sua vida, do nascimento à morte. Interpreta a si mesmo em função do mundo no qual decai, "pela sua luz refletida [reluzent]" (SZ, 21; cf. GA61, 106 etc.); pensa sobre si mesmo em função de suas preocupações correntes. Não está tomando uma grave decisão sobre a direção global de sua vida. Não está suspenso pela angústia, consciente apenas de seu si mesmo vazio em um mundo vazio.

A explicação 2 introduz um novo elemento. A ocupação presente de Dasein é geralmente uma atividade publicamente reconhecida e aprovada, ainda que praticada em privacidade. Não precisa ser assim: Dasein poderia estar absorto e inaudito numa empreitada escandalosa, "pública" apenas no sentido de que os outros veriam o que coube a ele se estivessem presentes. Heidegger insinua que Dasein está fazendo o que faz apenas porque é o que o impessoal recomenda. Isto não é necessariamente assim. Posso em algum momento ter tomado uma decisão grave e independente para fazer aquilo que atualmente me absorve. Mesmo que o esteja fazendo porque o impessoal recomenda, os detalhes daquilo que faço cabem provavelmente a mim.

A explicação 3 vai mais longe. O que faço pode ser tacitamente guiado pelos outros. Disto não se segue absolutamente que eu esteja "absorvido" pelo estar junto e pelo falatório, pela curiosidade e pela ambiguidade. Por mais difundidos que estejam o falatório etc., eles não parecem ser características essenciais de Dasein no sentido em que são a ocupação com o presente e com o reconhecimento público de suas atividades. E difícil aceitar a afirmação de Heidegger de que a explicação 3 não envolve nenhuma desaprovação da decadência. Sua análise detalhada e vívida do falatório etc. é motivada pelo seu desejo de expôr a decadência como um "movimento" (SZ, 177ss), talvez também para rivalizar com a explicação de Hegel dos mesmos tópicos em sua Fenomenologia do espírito.

A decadência de Dasein prejudica sua capacidade de fazer filosofia: assim como decai em seu mundo, Dasein também "é presa de sua tradição mais ou menos explicitamente compreendida. Isto o priva de sua própria liderança, de seu questionamento e de sua escolha. Isto não se aplica menos à compreensão enraizada no próprio ser de Dasein, à compreensão ontológica e à sua capacidade de desenvolvê-la" (SZ, 21).

Os dois tipos de decadência estão conectados: a ocupação com o presente, central para a decadência nas três explicações supramencionadas, obstrui uma inspeção crítica do que é legado do passado, já que isto requereria um exame explícito da tradição em sua fundação e desenvolvimento. Este é o sentido no qual Dasein, absorto em suas ocupações presentes, está "perdido na publicidade do impessoal", geralmente continuando a atuar e a pensar de maneira tradicional. Sapateiros ocupados fazem sapatos à moda antiga; navegadores da Internet ou filósofos que voam de uma conferência para outra aferram-se à mesma velha ontologia. Não se segue daí que a decadência seja uma coisa ruim. Por mais difícil que seja descrever Dasein que está completamente fora da decadência (SZ, 176), sabemos que ele não iria fazer sapatos nem filosofia. Não teria nenhuma tradição para dar início, para guiá-lo ao desfazer-se da tradição antiga e estabelecer uma nova.

Mais tarde, verfallen não desempenha um papel significativo no pensamento de Heidegger. Verfall continua a ser usado, mas normalmente no sentido de um "declínio" histórico (p. ex., GA39, 98ss), no lugar de aspecto do homem individual ou de Dasein. Como o ser suplanta o homem, passando a ocupar o centro do palco, o "abandono do ser [Seinsverlassenheit]" ocupa a posição que antes ocupava Verfallen: "que o ser abandona os entes, deixa-os a si mesmos e assim deixa-os tornarem-se objetos da maquinação. Tudo isto não é simplesmente uma ‘queda’ [’Verfall’]; é a primeira história do próprio ser" (GA65, 111). [DH]


Verfallen (das), Verfallenheit (die), verfallen sein: «caída», «estado de caído» (o «estar-caído», «caibilidad»), «estar-caído». Verfallen significa literalmente «caída», pero dado que el fenómeno de la caída no es algo estático, sino una propensión o inclinación intrínsecas al Dasein por las que éste tiende a quedar preso del mundo público, también se podría utilizar la expresión «movimiento de caída». La posibilidad de la caída como modalidad básica de la existencia del Dasein nunca desaparece. Es más, siempre hay que contar con ella, ya que forma parte de nuestra propia naturaleza. La caída, pues, es la inclinación del Dasein a perderse en aquello que comparece en el mundo circundante de la ocupación (Besorgen) y del mundo compartido de la solicitud (Fürsorge). En su caída en el mundo, el Dasein está simultáneamente absorbido por la curiosidad (Neugier) y la habladuría (Gerede). Heidegger utiliza incidentalmente la expresión Abfallen («declive») en las lecciones del semestre de verano de 1920, si bien el fenómeno de la caída es tematizado detalladamente en el capítulo dedicado a la Ruinanz («ruina») de las lecciones del semestre de invierno de 1921-1922. En Ser y Tiempo, el movimiento de caída se manifiesta en los modos de ser de la tenta-ción (Versuchung), de la tranquilización (Beruhigung), de la alienación (Entfremdung) y del enredo (Verfängnis). Véanse también las entradas Neugier (die) y Ruinanz (die). [AKJ, p. 34; GA61, pp. 109, 155; NB, p. 23 (tendencia a la caída de la vida fáctica); GA17, pp. 84, 276 (historia); GA20, pp. 178-179 (Dasein), 376-377 (movimiento fundamental del Dasein), 388 (movilidad de la caída), 404 (angustia, cuidado); GA24, pp. 384ss (temporalidad); SZ, pp. 167-175 (habladuría, curiosidad, ambigüedad, condición de arrojado), 175-180 (modo de ser de la caída: tentación, tranquilización, alienación), 221, 250 (caída, existencia, facticidad), 328 (presentar), 346-349 (temporalidad de la caída).] [LHDF]


Verfallen, Verfallenheit (falling, fallenness; or “decadence” when juxtaposed to transcendence) - Used incidentally in conjunction with Abfallen since SS 1920 [GA59], it is first thematized in detail under the heading of Ruinanz in WS 1921-22 [GA61] before it becomes the “pendency” (Verhängnis) of falling in Oct. 1922. [KisielBT]



Submitted on:  Fri, 23-Jul-2021, 18:55