trabalho

Category: Termos chaves da Filosofia
Submitter: Murilo Cardoso de Castro

trabalho

VIDE labor

Todas as palavras europeias para “trabalho” – o latim e o inglês labor, o grego ponos, o francês travail, o alemão Arbeit – significam dor e esforço e são usadas também para as dores do parto. Labor tem a mesma raiz etimológica que labare (“cambalear sob uma carga”); ponos e Arbeit têm as mesmas raízes etimológicas que “pobreza” (penia em grego e Armut em alemão). Mesmo Hesíodo, tido como um dos poucos defensores do trabalho na Antiguidade, via ponon alginoenta (“o trabalho penoso”) como o primeiro dos males que atormentavam os homens (Teogonia, 226). Quanto ao uso grego, conferir G. Herzog-Hauser, Ponos, em Pauly-Wissowa. As palavras alemãs Arbeit e arm derivam ambas do germânico arbma-, que significava solitário e desprezado, abandonado. Veja-se Kluge & Götze, Etymologisches Wörterbuch (1951). No alemão medieval, usam-se essas palavras para traduzir labor, tribulutio, persecutio, adversitas, malum (cf. Klara Vontobel, Das Arbeitsethos des deutschen Protestantismus [Dissertation, Berna, 1946]). [ArendtCH, 6, Nota]



O esforço regulado por uma lei. — O trabalho contrapõe-se ao jogo, que é uma atividade desinteressada; distingue-se do esforço, que pode ser desordenado; caracteriza-se por sua natureza constrangedora (trabalha-se por dever, por necessidade social) e principalmente por sua forma de ação regulamentada (horário fixo, controle do trabalho ou do resultado). Em certos casos, entretanto, o trabalho pode corresponder à vocação de um indivíduo, as suas tendências mais profundas (criação artística, filosófica ou científica): do ponto de vista psicológico, não se distingue então do jogo. Ainda que a noção de trabalho evoque, de maneira privilegiada, a ação física sobre o mundo (agricultura) ou sobre uma máquina (trabalho industrial), o esforço intelectual, a pesquisa teórica, o ensino, a direção de uma empresa ou de um Estado representam também um trabalho: de compreensão, síntese, direção. Existe trabalho enquanto exista "responsabilidade" social ou simplesmente criação verdadeira. — Do ponto de vista jurídico, o "direito ao trabalho" é o direito que cria para o Estado a obrigação jurídica de assegurar um trabalho a qualquer pessoa que o peça. (V. solicitação.) [Larousse]


O homem trabalha, quando põe em atividade suas forças espirituais ou corporais, tendo em mira um fim sério que deve ser realizado ou alcançado. Estudar e orar são autênticos trabalhos, embora nenhum dos dois produza qualquer coisa: outros trabalhos de ordem intelectual e todos os de natureza corporal levam a um resultado exteriormente perceptível, quer seja um produto, quer uma mudança de estado ou situação. Conceptualmente é possível traçar limites definidos entre trabalho e jogo, mas, de fato, tais limites são imprecisos: uma coisa, que por si mesma, em outras circunstâncias, é jogo (exercício despreocupado de forças), pode ser trabalho sério e custoso para quem o executa. — O animal e a máquina também trabalham, mas só na medida em que o homem se serve da atividade de uma e outro e a dirige; o animal compartilha com o trabalho humano a fadiga; a máquina compartilha só o movimento e, ao mesmo tempo, a superação de uma resistência ao longo de um caminho (= conceito físico do trabalho). O trabalho, no sentido pleno do vocábulo, é privilégio do homem, e constitui sua nobreza. — O trabalho supõe tendência a um fim e esforço. Com a primeira a razão dirige o trabalho, que assim adquire responsabilidade moral e mérito; o segundo aumenta-lhe o valor moral, enquanto exige do homem um emprego real de suas energias.

O trabalho intelectual foi sempre apreciado; outro tanto não sucedeu com o trabalho corporal, mas nem sempre com razão. Inversamente, o trabalho endereçado à produção de bens materiais foi, por vezes, sobrevalorizado de modo unilateral, por causa de sua manifesta utilidade. A valorização do trabalho deve ser antes de mais nada "moral"; sob este aspecto, importa relegar, como critério de valor, o mero proveito econômico do resultado do trabalho. Obedece a critério inteiramente diferente a valorização "econômica", a qual assume tanta importância, porque hoje, para muitos homens, a remuneração (o "equivalente") que recebem por seu trabalho constitui a base de toda sua atitude na vida. — Todos os valores culturais só podem ser criados e conservados mediante o trabalho; donde, a importância de revestir de dignidade cultural o trabalho e as condições de vida do trabalhador, sendo indiferente que seu trabalho seja intelectual ou corporal, de direção ou de execução. Uma cultura orientada para o prazer está condenada ao fracasso; uma cultura, que aprecia e honra o trabalho, prospera. — O trabalho é sempre uma bênção, nunca uma maldição. Pode, no entanto, tornar-se em maldição, quando é sobremaneira extenuante e monótona, quando redunda estéril, quando a vida do trabalhador é dominada por circunstâncias que arruínam o homem moral e fisicamente, em vez de fortalecê-lo e aperfeiçoá-lo. — Nell-Breuning. [Brugger]


(lat. vulgar tripalium: instrumento de tortura de três paus) 1. Em um sentido genérico, atividade através da qual o homem modifica o mundo, a natureza, de forma consciente e voluntária, para satisfazer suas necessidades básicas (alimentação, habitação, vestimenta etc.). E através do trabalho que o homem "põe em movimento as forças de que seu corpo é dotado ... a fim de assimilar a matéria, dando-lhe uma forma útil à vida" (Marx, O capital).

2. A partir das teorias econômicas do séc. XVIII, principalmente com Adam Smith (1723-1790), o trabalho torna-se a noção central da economia política, em substituição à concepção clássica de que a riqueza de uma nação consistia no ouro que esta possuía. Assim, na concepção de Marx, o trabalho "é a condição indispensável da existência do homem. uma necessidade eterna, o mediador da circulação material entre o homem e a natureza" (O capital). Ver praxis; reificação.

3. Na linguagem bíblica, a ideia de trabalho está ligada à de sofrimento e de punição: "Ganharás o teu pão com o suor do teu rosto" (livro do Gênese). Assim, é por um esforço doloroso que o homem sobrevive na natureza. Enquanto os gregos consideravam o trabalho como a expressão da miséria do homem, os latinos opunham o otium (lazer, atividade intelectual) ao vil negotium (trabalho, negócio). Por sua vez, enquanto para os filósofos modernos o trabalho que nos torna "mestres e possuidores da natureza" (Descartes) foi percebido como o remédio à alienação primeira do homem, na dialética do senhor e do escravo Hegel declara que é por seu trabalho que o escravo encontra sua liberdade e se torna o verdadeiro mestre.

4. A divisão do trabalho, ou seja, a repartição ou separação das tarefas necessárias à sobrevivência de um grupo entre os diversos membros desse grupo, embora já tenha existido nas sociedades pré-industriais, desenvolve-se consideravelmente com o surgimento da sociedade industrial. Adam Smith foi o primeiro a elaborar uma teoria sobre a repartição dos trabalhadores num espaço dado. Karl Marx deu um alcance filosófico a essa expressão, fazendo dela o fundamento lógico de todas as contradições econômicas do sistema capitalista. A divisão do trabalho atinge seu grau máximo com a taylorização, isto é, com a repartição altamente racional do "trabalho em cadeia", tentando englobar todos os fatores necessários a uma produtividade ótima.

5. Conceitos: "O trabalho não produz apenas mercadorias, ele se produz a si mesmo e produz o operário como mercadoria, e isto na medida em que produz mercadorias em geral" (Marx). "O trabalho positivo, isto é, nossa ação real e útil sobre o mundo exterior, constitui necessariamente a fonte inicial de toda riqueza material" (Comte). [Japiassu]

Submitted on:  Mon, 29-Nov-2021, 15:11