irracional

Category: Termos chaves da Filosofia
Submitter: Murilo Cardoso de Castro

irracional

inaccessível à razão. — O irracional designa tanto o sentimento (por ex., o sentimento da natureza) quanto a experiência da ação voluntária: um sentimento ou um ato são intrinsecamente irracionais na medida em que são irredutíveis, em sua realidade específica, aos discursos que se pode fazer sobre eles. Num sentido mais amplo, é irracional o que só podemos conhecer pela intuição, o que não é conceituai, por ex. a realidade do mundo exterior (Kant), a existência da própria razão (Lask). Do ponto de vista psicológico, uma conduta é irracional se exprime uma reação espontânea (emotiva, passional, reflexa), e não procede de uma decisão voluntária maduramente refletida. [Larousse]



Denomina-se geralmente, irracional o que se opõe ou, pelo menos, é alheio ao espírito, de modo especial ao pensamento conceptual (à "ratio"). Ao que é alheio à mente ou ao pensamento dá-se, por vezes, a designação de a-racional (termo pouco feliz) e, melhor, alógico (Logos), a fim de a diferenciar do irracional em sentido estrito, enquanto oposto ao espírito. O irracional pode entender-se psicologicamente (subjetivamente), dos atos psíquicos, ou objetivamente, dos objetos a que tais atos se dirigem. No sentido psicológico (1) é irracional a vida consciente que, em grau maior ou menor, se subtrai à direção da razão, especialmente a vida sentimental e apetitiva. Mas também o querer espiritual inclui na escolha livre, sobretudo do bem menor, um traço não racionalmente inteligível em sua integridade. Em acepção objetiva, irracional (2) é sinônimo de incognoscível, em consequência de sua obscuridade, de inadequado à razão, de ininteligível, de apreensível só por atos irracionais.

O termo irracionalismo designa, em geral, uma acentuação ou super-acentuação do irracional. O irracionalismo psicológico atribui ao irracional (1) o papel preponderante na vida psíquica (filosofia da vida, psicanálise). O irracionalismo metafísico admite que há um ente irracional (2) absolutamente, isto é, para cada espírito, e, até, que o ente em seu mais íntimo fundo essencial é irracional; além disso, o ente é concebido, em derradeira instância, como vontade cega ou impulso vital (Schopenhauer, Nietzsche, Ed. von Hartmann); ou, então, temos de renunciar a toda positiva determinação de sua essência irracional (N. Hartmann) O irracionalismo metafísico é incompatível com um depurado conceito de Deus (verdade). O irracionalismo epistemológico afirma primariamente que só a realidade ou determinados domínios da mesma via de regra por nós considerados como racionalmente compreensíveis, são irracionais (2) para o nosso pensamento. Assim, segundo Scheler e N. Hartmann, a existência é apreendida tão-somente em atos irracionais (emocionais); segundo o irracionalismo axiológico os valores são irracionais; e segundo a filosofia da religião de R. Otto é irracional o divino que só pode ser apreendido no sentimento do "numinoso". — Devemos conceder que o irracional (2) existe, de fato, para nós. Assim, o indivíduo, enquanto tal, nunca pode ser compreendido totalmente pelo nosso pensamento conceptual. Pelo contrário, não há razão para que a existência e os valores sejam tidos por irracionais. Deus é, certamente, incompreensível, mas não completamente incognoscível para nós. Os mistérios divinos, que superam nossa razão, melhor se denominam supra-racionais, uma vez que não são incompreensíveis para nós por causa de sua obscuridade em si, mas por causa de sua ofuscante plenitude de luz (supra-racional). — De Vries. [Brugger]




Costuma definir-se irracional como “algo que não é racional”, quer dizer, “algo que é alheio à razão”.

Mas convém distinguir este termo de outros aparentados com ele. Propomos as seguintes distinções: Pode chamar-se a-racional ao que é simplesmente alheio à razão; anti-racional ao que é contrário à razão; supra-irracional ao que é superior à razão ou está para além da razão, num plano considerado superior;

infra- irracional ao que é inferior à razão no sentido de se encontrar num plano no qual não entrou ainda a razão: no plano do pré-irracional. Ora este Termo irracional pode ser tomado em dois sentidos: 1) como nome comum de todas as espécies antes mencionadas de “não racionalidade”. 2) Como designando algo a-racional e, sobretudo, algo anti-racional.

É possível assinalar aspectos irracionais em todos os períodos da história da filosofia, mas teve-se consciência clara deles apenas no final da época moderna e na época contemporânea.

Tem-se dito que certo grupo de filosofias contemporâneas são irracionais porquanto sustentam que a realidade é, em último termo, ou irracional ou não racional. Contudo, nem sempre é justo qualificar estas filosofias como irracionalista.. Em alguns casos, o que se chama irracional é antes algo “sobre-racional”; noutros casos, o que alguns filósofos fazem é simplesmente pôr em relevo que a realidade não é acessível racionalmente, ou não é tão acessível racionalmente como haviam pensado outros filósofos.

Há nesta filosofia dois aspectos irracionalistas diferentes entre si, embora provavelmente relacionados em alguns dos seus representantes: por um lado, temos o irracionalismo ontológico, segundo o qual a própria realidade (o próprio ser) é irracional, e isto de tal modo que a sua irracionalidade se manifesta no fato de ser contraditória consigo mesma. Por outro lado, temos o irracionalismo não ético, segundo o qual há incomensurabilidade entre o conhecimento (ou os meios de conhecimento) e a realidade, ou pelo menos uma parte da realidade.

Dentro do movimento fenomenológico tentou-se elaborar uma “fenomenologia do irracional”. Isto levou ao estudo da distinção entre o irracional e elementos usualmente confundidos com ele. Segundos alguns, confundiu-se entre o irracional e o alógico, quer dizer, o que não está submetido a lógicas, esquecendo-se com isso as diferenças fundamentais entre vários tipos de irracionalidade. No “problema do irracional” deve distinguir-se antes de tudo os aspectos gnoseológico e ontológico. O irracional como o oposto ao racional pode entender-se: 1) como o que tem uma razão ou fundamento. 2) Como o que não é imanente à razão, o trans-inteligível..... O primeiro tipo de irracionalidade é de caráter ontológico; o segundo, de caráter gnoseológico.

Examinado gnoseologicamente, o irracional é o que não se encontra dentro mas fora do conhecimento e, por conseguinte, não pode dizer-se simplesmente que o racional é o lógico e o irracional o alógico. Em primeiro lugar, nem tudo o que não pertence à esfera lógica é cognoscível.. De acordo com isto, convém distinguir três tipos de irracionalidade, cada um dos quais é o suficiente por si só para caraterizar “o irracional”: a) o irracional alógico, tal como se apresenta, por exemplo na mística, a qual vive, experimenta o seu objeto e conhece-o mesmo quando não de um modo lógico. b) o irracional trans-inteligível, isto é, o irracional no sentido do não cognoscível, do que transcende o conhecimento. Este tipo de irracionalidade ontológica é mais profundo que a irracionalidade lógica. c) O irracional como combinação do alógico e do trans-inteligível, do eminentemente irracional. Pode, portanto, como sucede na mística, haver irracionalismo do ponto de vista lógico e racionalismo do ponto de vista ontológico. Todavia, apesar da necessidade da distinção entre o irracional gnoseológico e o irracional ontológico, há um fundamento comum de todos os tipos de irracionalidade em virtude da implicação mútua dos elementos gnoseológicos e ontológicos no problema do conhecimento. Este fundamento comum encontra-se na noção do absolutamente trans-inteligível. O irracional existe ou, melhor dizendo, é comprovado pela não concordância absoluta das categorias do conhecimento com as categorias do ser. A concordância suporia a cognoscibilidade e racionalidade absolutas de a toda a realidade, cognoscibilidade que na maior parte das vezes, se apresenta apenas na esfera do objeto ideal. A não concordância equivale ao reconhecimento da existência do irracional ontológico, isto é, do transobjetivo trans-inteligível ou, se quiser, da pura e simples transcendência. [Ferrater]

Submitted on:  Fri, 26-Jun-2009, 12:56