estar-lançado

Category: Heidegger - Ser e Tempo etc.
Submitter: Murilo Cardoso de Castro

estar-lançado

Geworfenheit

A presença [Dasein] existe faticamente. O que se questiona é a unidade ontológica de existencialidade e facticidade, a copertinência essencial destas com relação àquela. A presença [Dasein], em razão da disposição a que pertence de modo essencial, possui um modo de ser em que ela é trazida para diante de si mesma e se abre para si em seu ESTAR-LANÇADO. O ESTAR-LANÇADO, porém, é o modo de ser de um ente que sempre é ele mesmo as suas possibilidades e isso de tal maneira que ele se compreende nessas possibilidades e a partir delas (projeta-se para elas). O ser-no-mundo, ao qual pertencem, de maneira igualmente originária, tanto o ser junto ao que está à mão quanto o ser-com os outros, é sempre em virtude de si mesmo. Todavia, numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, o si-mesmo é o impropriamente si-mesmo. O ser-no-mundo já está sempre em decadência. Pode-se, portanto, determinar a cotidianidade mediana da presença [Dasein] como ser-no-mundo aberto na decadência que, lançado, projeta-se e que, em seu ser junto ao “mundo” e em seu ser-com os outros, está em jogo o seu poder-ser mais próprio. STMSC: §39

A perfectio do homem, o ser para aquilo que, em sua liberdade, pode ser para suas possibilidades mais próprias (para o projeto), é um “desempenho” da “cura”. De modo igualmente originário, ela determina, porém, o modo fundamental desse ente, segundo o qual ele está entregue ao mundo da ocupação (ESTAR-LANÇADO). O “duplo sentido” de “cura” significa uma constituição fundamental em sua dupla estrutura essencial de projeto lançado. Frente a interpretação ôntica, a interpretação ontológico-existencial não é uma espécie de generalização ôntico-teórica. Isso ria simplesmente: do ponto de vista ético, todos os comportamentos e atitudes do homem são “dotados de um acurar” e guiados por uma “dedicação”. A “generalização” e de ordem ontológica e a priori. Ela não significa propriedades ônticas que constantemente aparecem, e sim a constituição de ser sempre subjacente. Só isso torna ontologicamente possível que esse ente possa ser onticamente referido como cura. A condição existencial de possibilidade de “uma preocupação com a vida” e “dedicação” deve ser concebida como cura num sentido originário, ou seja, ontológico. STMSC: §42

Através da abertura, o ente que chamamos presença [Dasein] está na possibilidade de ser o seu pre [das Da]. Com o seu mundo, ele é, numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, uma presença [Dasein] para si mesmo, e isso de tal modo que, a partir do “mundo” das ocupações, ele já abriu para si mesmo o poder-ser. O poder-ser em que a presença [Dasein] existe sempre já se entregou a determinadas possibilidades. E isso porque se trata de um ente lançado. Este ESTAR-LANÇADO acha-se aberto pela determinação da afinação do humor, de modo mais ou menos penetrante e claro. O compreender pertence, de forma igualmente originária, à disposição (humor). Por isso a presença [Dasein] “sabe” {CH: pretende sabê-lo} a quantas ela mesma anda na medida em que se projetou em possibilidades de si mesma ou, afundando-se no impessoal, recebeu da interpretação pública do impessoal as suas possibilidades. Essa recepção, no entanto, só é existencialmente possível porque a presença [Dasein], enquanto ser-com em compreendendo, pode escutar {CH: de onde provém esse ouvir e poder ouvir? O ouvir sensível dos ouvidos como um modo lançado de aceitação} os outros. Perdendo-se no teor público do impessoal e na sua falação, a presença [Dasein], ao escutar o impessoalmente si mesmo, não dá ouvidos ao próprio de si mesma. Para a presença [Dasein] retirar-se da perdição em que não dá ouvidos – retirar-se por ela mesma – ela deve primeiro poder encontrar a si enquanto o que não deu ouvidos a si mesma, por ter dado ouvidos ao impessoal. Esse último dar ouvidos deve ser rompido, ou seja, a própria presença [Dasein] deve dar a si a possibilidade de uma escuta que o interrompa. A possibilidade dessa interrupção reside em ser interpelada sem mediação. Esse apelo rompe o dar ouvidos ao impessoal em que a presença [Dasein] não dá ouvidos quando, de acordo com seu próprio caráter, desperta uma escuta que, em tudo, se contrapõe à escuta perdida. Se este se caracteriza pelo “ruído” da ambiguidade múltipla e variada da falação cotidianamente “nova”, o apelo deve apelar sem ruído, sem ambiguidade, sem apoiar-se na curiosidade. O que assim apelando se dá a compreender é a consciência. STMSC: §55

Nada “mundano” pode determinar quem apela em seu modo de ser. Quem apela é a presença [Dasein] em sua estranheza, o ser-no-mundo originariamente lançado enquanto um não sentir-se em casa, o nu e cru “que” (a presença [Dasein] é) no nada do mundo. Quem apela também não é familiar ao impessoalmente-si-mesmo da cotidianidade é algo como uma voz estranha. O que poderia ser mais estranho para o impessoal, perdido no “mundo” das múltiplas ocupações, do que o si-mesmo singularizado na estranheza de si e lançado no nada? O apelo “se” faz e, ao mesmo tempo, nada oferece à escuta do ouvido curioso das ocupações que pudesse ser divulgado e discutido em público. Mas o que a presença [Dasein] deve também relatar a partir da estranheza de seu ESTAR-LANÇADO? O que ainda lhe resta senão o poder-ser de si mesma, desvelado na angústia? Como se faz o apelo senão enquanto um fazer apelo a esse poder-ser, unicamente em jogo para si? STMSC: §57

E como é esse fundamento lançado? Ele só é projetando-se em possibilidades nas quais ESTÁ LANÇADO. O si-mesmo, que, como tal, tem de colocar o fundamento de si-mesmo, nunca dele pode-se apoderar, embora, ao existir, tenha de assumir ser-fundamento. Ser o próprio fundamento lançado é o poder-ser em jogo na cura. STMSC: §58

Assim como na estrutura do projeto, o nada está essencialmente inserido na estrutura do ESTAR-LANÇADO. E este é o fundamento da possibilidade do nada da presença [Dasein] imprópria na decadência que, como tal, ela de fato já sempre se dá. Em sua essência, a cura está totalmente impregnada do nada. A cura – o ser da presença [Dasein] – enquanto projeto lançado diz, por conseguinte: o ser-fundamento (nulo) de um nada. E isso significa: desde que se justifique a forma de determinação existencial da dívida como ser-fundamento de um nada, a presença [Dasein] como tal é e está em dívida. STMSC: §58

Mas será que o “fato” de a voz vir depois exclui que, no fundo, é uma apelação? Que se apreenda a voz como aquilo que segue ao estímulo da consciência ainda não demonstra uma compreensão originária do fenômeno. E se a culpabilização fática e originária fosse apenas ocasião para o apelo fático da consciência? E se a interpretação caracterizada da “má” consciência só estivesse a meio caminho? A posição ontológica prévia a que o fenômeno é levado nesta interpretação esclarece que é assim. A voz é algo que emerge, que tem seu lugar na sequência de vivências simplesmente dadas e que sucede à vivência do ato. Mas nem o apelo, nem o ato e nem a culpa são ocorrências dotadas do caráter de um ser simplesmente dado que ocorre. O apelo possui o modo de ser da cura. Nele, a presença [Dasein] “é e está” antecedendo-a-si-mesma, de tal modo que ela retorna, ao mesmo tempo, para o seu ESTAR-LANÇADO. Somente partindo-se imediatamente da suposição de que a presença [Dasein] é uma sequência de nexos de vivências é que se pode considerar a voz como algo que vem depois, como alguma coisa posterior e, assim, necessariamente o que remonta para trás. A voz, sem dúvida, re-clama mas, ultrapassando o ato, reclama o ser e estar em dívida que, lançado, é “anterior” a toda e qualquer culpabilização. A reclamação, ao mesmo tempo, faz apelo ao ser e estar em dívida como algo a ser assumido na própria existência de tal modo que o ser-culpado propriamente existenciário “segue” o apelo e não o contrário. No fundo, a má consciência é tão pouco uma mera censura retroativa que ela reclama, sobretudo, numa referência antecipadora ao ESTAR-LANÇADO. A sucessão de vivências que decorrem uma após a outra não apresenta a estrutura fenomenal de existência. STMSC: §59

A decisão antecipadora compreende a presença [Dasein] em seu ser-e-estar em dívida essencial. Este compreender diz assumir, na existência, o ser e estar em dívida, diz ser-fundamento lançado do nada. Assumir o ESTAR-LANÇADO significa, porém, ser, em sentido próprio, a presença [Dasein], no modo em que ela sempre já foi. Só é possível assumir o ESTAR-LANÇADO na medida em que a presença [Dasein] por vir possa ser “como já sempre foi”, no sentido mais próprio, isto é, possa ser o seu “ter sido”. Somente enquanto a presença [Dasein] é como eu sou o ter-sido é que ela, enquanto porvir, pode vir-a-si de maneira a vir de volta. Própria e porvindoura, a presença [Dasein] é propriamente o ter sido. Antecipar da possibilidade mais própria e extrema é vir de volta, em compreendendo, para o ter sido mais próprio. A presença [Dasein] só pode ser o ter sido sendo por-vindoura. O vigor de ter sido surge, de certo modo, do porvir. STMSC: §65

A insignificância do mundo, aberta na angústia, desvela a nulidade das ocupações, a impossibilidade de projetar-se um poder-ser da existência primariamente fundado na ocupação. Desvelar essa impossibilidade significa, porém, deixar vir à luz a possibilidade de um poder-ser próprio. Que sentido temporal possui esse desvelar? A angústia angustia-se pela presença [Dasein] nua e crua, enquanto lançada na estranheza. Ela recoloca o puro que (se é) do ESTAR-LANÇADO mais próprio e singular. Esse recolocar não tem o caráter de um esquecer que se esquiva e nem tampouco de uma recordação. A angústia, porém, também não implica um assumir que retoma a existência na decisão. A angústia, bem ao contrário, recoloca o ESTAR-LANÇADO enquanto possível de ser retomado. E isso a tal ponto que ela também desvela a possibilidade de um poder-ser próprio que, entendido como porvindouro, deve retornar, na retomada, para o “pre [das Da]” que ESTÁ LANÇADO. Colocar-se diante da possibilidade de retomada é o modo ekstático específico do vigor de ter sido, constitutivo da disposição da angústia. STMSC: §68

O ser da presença [Dasein] é a cura. Esse ente existe lançado na decadência. Entregue ao “mundo” descoberto em seu pre [das Da] e dependente de suas ocupações, a presença [Dasein] aguarda seu poder-ser-no-mundo. E isso de maneira a “contar” com e por meio daquilo com que ela estabelece uma conjuntura privilegiada em virtude desse poder-ser. O ser-no-mundo cotidiano da circunvisão precisa de possibilidade de visão, ou seja, de claridade para poder lidar, numa ocupação, com o que está à mão em meio ao que é simplesmente dado. Com a abertura fática de seu mundo, a natureza se descobre para a presença [Dasein]. Em seu ESTAR-LANÇADO, ela se entrega à mudança de dia e noite. Com sua claridade, o dia propicia a visão possível, e a noite a retira. STMSC: §80

Não é, porém, de forma ocasional ou suplementar que a presença [Dasein] realiza para si essa possibilidade mais própria, irremissível e insuperável, no curso de seu ser. Em existindo, a presença [Dasein] já ESTÁ LANÇADA nessa possibilidade. De início e na maior parte das vezes, a presença [Dasein] não possui nenhum saber explícito ou mesmo teórico de que ela se ache entregue à sua morte e que a morte pertença ao ser-no-mundo. É na disposição da angústia que o ESTAR-LANÇADO na morte se desvela para a presença [Dasein] de modo mais originário e penetrante. A angústia com a morte é angústia “com” o poder-ser mais próprio, irremissível e insuperável. O próprio ser-no-mundo é aquilo com que ela se angustia. O porquê dessa angústia é o puro e simples poder-ser da presença [Dasein]. Não se deve confundir a angústia com a morte e o medo de deixar de viver. Enquanto disposição fundamental da presença [Dasein], a angústia não é um humor “fraco”, arbitrário e casual de um indivíduo singular e sim a abertura de que, como ser-lançado, a presença [Dasein] existe para seu fim. Assim, esclarece-se o conceito existencial da morte como ser-lançado para o poder-ser mais próprio, irremissível e insuperável. com isso, ganha nitidez a delimitação frente a um mero desaparecer, a um mero finar ou ainda a uma “vivência” do deixar de viver. STMSC: §50

Será que a análise da constituição ontológica da presença [Dasein], até aqui empreendida, aponta um caminho para a compreensão ontológica do modo de ser de quem faz apelo e com isso também do apelar? Que o apelo não se realiza explicitamente por mim, sendo sempre um “se” apela, isso ainda não justifica que se busque o quem apela num ente desprovido do caráter de presença [Dasein]. A presença [Dasein] sempre existe faticamente. Ela não é um projetar-se solto no ar, mas, como o ESTAR-LANÇADO determina-se como o fato desse ente que ele é, ela sempre já está e permanece entregue à responsabilidade da existência. No entanto, a facticidade da presença [Dasein] se distingue essencialmente da fatualidade do ser simplesmente dado. A presença [Dasein] que existe não encontra a si mesma como algo simplesmente dado dentro do mundo. Também o ESTAR-LANÇADO não adere à presença [Dasein] como um caráter inacessível e insignificante de sua existência. Lançada, a presença [Dasein] ESTÁ LANÇADA na existência. Ela existe como ente que tem de ser como ela é e pode ser. STMSC: §57

Que a presença [Dasein] seja faticamente, esse que ela é já está aberto para a presença [Dasein], não obstante o seu porquê possa manter-se velado. O ESTAR-LANÇADO desse ente pertence à abertura do “pre [das Da]” e se desvela constantemente em cada disposição. Este leva a presença [Dasein], de forma mais ou menos explícita e própria, para diante desse “que” (ela é) enquanto o ente que tem de ser o que é e pode ser”. Na maior parte das vezes, porém, o humor fecha o ESTAR-LANÇADO. A presença [Dasein] foge desse ESTAR-LANÇADO para a facilidade da liberdade pretendida pelo impessoalmente-si-mesmo. Caracterizou-se essa fuga como fuga da estranheza que, no fundo, determina a singularidade do ser-no-mundo. A estranheza desvela-se propriamente na disposição fundamental da angústia e, enquanto abertura mais elementar da presença [Dasein] lançada, coloca o seu ser-no-mundo diante do nada do mundo com o qual ela se angustia na angústia por seu poder-ser mais próprio. E se, dispondo no fundo de sua estranheza, a presença [Dasein] fosse quem apela o apelo da consciência? STMSC: §57

O ser da presença [Dasein] é a cura. Ela compreende em si facticidade (ESTAR-LANÇADO), existência (projeto) e decadência. Sendo, a presença [Dasein] é lançada, mas não foi levada por si mesma para o seu pre [das Da]. Ela é em se determinando como poder-ser que pertence a si mesma, mas não no sentido de ter dado a si mesma o que tem de próprio. Existindo, ela nunca retorna aquém de seu ESTAR-LANÇADO, de tal modo que sempre só pudesse desenvolver esse “que é e (comporta) um ter de ser” propriamente a partir de seu ser si mesma e conduzi-lo ao seu pre [das Da]. O ESTAR-LANÇADO não se encontra aquém dela como um acontecimento que de fato ocorreu e que se teria desprendido da presença [Dasein] e com ela acontecido. Mas enquanto é, e como cura, a presença [Dasein] é constantemente o seu “que é”. Existindo, a presença [Dasein] é o fundamento de seu poder-ser porque só pode existir como o ente que está entregue à responsabilidade de ser o ente que ela é. Embora não tendo ela mesma colocado o fundamento, a presença [Dasein] repousa em sua gravidade que, no humor, se revela como peso. STMSC: §58

Sendo-fundamento, ou seja, existindo como lançada, a presença [Dasein] permanece constantemente aquém de suas possibilidades. Ela nunca pode existir antes e diante de seu fundamento mas sempre e somente a partir dele e enquanto ele. Ser-fundamento diz, portanto, nunca poder apoderar-se do ser mais próprio em seu fundamento. Esse não pertence ao sentido existencial do ESTAR-LANÇADO. Sendo-fundamento, a própria presença [Dasein] é um nada de si mesma. Nada não significa, em absoluto, não ser simplesmente dado, não subsistir, mas o não constitutivo desse ser da presença [Dasein], de seu ESTAR-LANÇADO. O caráter desse não determina-se, existencialmente, da seguinte maneira: sendo si-mesma, a presença [Dasein] é o ente que está-lançado enquanto si mesmo. Não por si mesma, mas em si mesma solta desde seu fundamento para ser enquanto esse fundamento. A presença [Dasein] não é o fundamento de seu ser porque este fundamento resultaria do próprio projeto. Mas enquanto ser si-mesmo, ela é o ser do fundamento. Esse é sempre e apenas fundamento de um ente cujo ser tem de assumir ser-fundamento. STMSC: §58

De início, a presença [Dasein] não agarra o lance do ESTAR-LANÇADO no mundo em sentido próprio; a sua “movimentação” não “adquire solidez” pelo simples fato de a presença [Dasein] “estar pre [das Da]-sente por aí”. No ESTAR-LANÇADO, a presença [Dasein] também se esgarça, ou seja, lançada no mundo, ela se perde no “mundo”, em referindo-se faticamente àquilo de que se ocupa. A atualidade, que constitui o sentido existencial desse arrastar-se nas ocupações, jamais conquista por si mesma um outro horizonte ekstático, a não ser que, numa decisão, se recupere de sua perdição. Essa recuperação visa abrir cada situação para o instante que se sustenta e, ao mesmo tempo, abrir a “situação limite” originária do ser-para-a-morte. STMSC: §68

A presença [Dasein] existe em virtude de um poder-ser de si mesma. Existindo, ela ESTÁ LANÇADA e, enquanto lançada, entregue à responsabilidade de entes dos quais ela necessita para poder ser como ela é, ou seja, em virtude de si mesma. Existindo faticamente, a presença [Dasein] compreende-se nesta conexão entre ser em virtude de si mesma e cada para quê. O contexto em que a presença [Dasein] se compreende em seu existir é e se faz “presença [Dasein]” em sua existência fática. O em que da compreensão primária de si mesma possui o modo de ser da presença [Dasein]. Esta, em existindo, é seu mundo. STMSC: §69

Determinamos o ser da presença [Dasein] como cura. Seu sentido ontológico é a temporalidade. Mostrou-se tanto que e como ela constitui a abertura do pre [das Da]. Na abertura do pre [das Da], abre-se conjuntamente o mundo. A unidade da significância, isto é, a constituição ontológica de mundo, também deve fundar-se, portanto, na temporalidade. A condição existencial e temporal da possibilidade de mundo reside em que a temporalidade, enquanto unidade ekstática, possui um horizonte. As ekstases não são simplesmente retrações para... A ekstase pertence, sobretudo, um “para onde” ela se retrai. Chamamos de esquema horizontal esse para onde da ekstase. O horizonte ekstático é diferente em cada uma das três ekstases. O esquema em que a presença [Dasein] vem a si no porvir, quer de modo próprio ou impróprio, é o estar em virtude de si. Apreendemos como o diante de que (Wovor) do ESTAR-LANÇADO e o para o que (Woran) do estar-entregue o esquema em que a presença [Dasein], lançada na disposição, abriu-se para si mesma. Este esquema caracteriza a estrutura horizontal do vigor de ter sido. Lançada e existindo em virtude de si na entrega a si mesma, a presença [Dasein], na condição de ser e estar junto a..., é, ao mesmo tempo, atualizante. É o ser-para que determina o esquema horizontal da atualidade. STMSC: §69

A decisão em que a presença [Dasein] volta para si mesma abre cada uma das possibilidades fatuais de existir propriamente a partir da herança que ela, enquanto lançada, assume. A volta decidida para o ESTAR-LANÇADO abriga em si uma transmissão de possibilidades legadas, embora não necessariamente como legadas. Se todo “bem” é uma herança e se o caráter dos “bens” reside em possibilitar uma existência própria, então é na decisão que se constitui a transmissão de uma herança. Quanto mais propriamente a presença [Dasein] se decide, ou seja, se compreende sem ambiguidades a partir de sua possibilidade mais própria e privilegiada no antecipar da morte, tanto mais precisa e não casual será a escolha da possibilidade de sua existência. Somente o antecipar da morte é capaz de eliminar toda possibilidade casual e “provisória”. Somente o ser livre para a morte propicia à presença [Dasein] a meta incondicional, colocando a existência em sua finitude. Assim apreendida, a finitude da existência retira a presença [Dasein] da multiplicidade infinda das possibilidades de bem-estar, de simplificar e esquivar-se, que de imediato se oferecem, colocando a presença [Dasein] na simplicidade de seu destino. Este termo designa o acontecer originário da presença [Dasein], que reside na decisão própria, onde ela, livre para a morte, se transmite a si mesma numa possibilidade herdada mas, igualmente, escolhida. STMSC: §74

Mas o que significa: presença [Dasein] é “de fato”? Se a presença [Dasein] só é “propriamente” real na existência, então a sua “fatualidade” se constitui justamente no projetar-se decidido para um poder-ser escolhido. O “fato” próprio do que vigora por ter sido presença [Dasein] é, então, a possibilidade existenciária em que, de fato, se determinam o destino, o envio comum e a história do mundo. Porque, cada vez, a existência sempre ESTÁ LANÇADA faticamente, a historiografia abrirá tanto mais penetrantemente a força silenciosa do possível quanto mais simples e concretamente ela compreender e “apenas” expuser o vigor de ter sido-no-mundo em sua possibilidade. STMSC: §76

Se a ocupação do tempo pode realizar-se, a partir de dados do mundo circundante, no modo caracterizado da datação, isso, no fundo, só acontece no horizonte de alguma ocupação do tempo que conhecemos como a contagem do tempo, própria da astronomia ou do calendário. Não é por acaso que ela ocorre. É na constituição fundamental da presença [Dasein], a cura, que ela encontra sua necessidade ontológico-existencial. Porque a presença [Dasein] existe essencialmente lançada na decadência, ela interpreta seu tempo como uma contagem do tempo, característica das ocupações. Nela, temporaliza-se o fazer-se público “próprio” do tempo e isso de tal forma que se deve dizer: o ESTAR-LANÇADO da presença [Dasein] é o fundamento para que o tempo possa se “dar” publicamente. A fim de assegurar uma possível compreensibilidade para a comprovação da origem do tempo público a partir da temporalidade fática, foi preciso caracterizar, primeiramente, o tempo interpretado na temporalidade das ocupações. E isso já para esclarecer que a essência da ocupação do tempo não reside na aplicação de determinações quantitativas de datas. Do ponto de vista ontológico-existencial, portanto, o decisivo na contagem do tempo não está na sua quantificação, mas deve ser concebido, ainda mais originariamente, a partir da temporalidade da presença [Dasein] que conta com o tempo. STMSC: §80


Submitted on:  Wed, 25-Aug-2021, 23:33