memória

Category: Heidegger - Ser e Tempo etc.
Submitter: Murilo Cardoso de Castro

memória

Gedächtnis, mnemosyne

Os projetos para o hino são, ao lado de títulos como “A cobra, “O sinal”, “A ninfa”, também intitulados com “Mnemosine”. Podemos traduzir essa palavra grega por: Memória. Nosso idioma diz: das Gedächtnis [a memória]·, mas ele também diz: a intelecção [die Erkenntnis], a autoridade [die Befugnis] e, por outro lado, das Begräbnis [o enterro], das Geschehnis [o acontecer, o acontecimento]. Kant, por exemplo, em seu uso pessoal do idioma, diz uma vez die Erkenntnis [“a” intelecção] e outra vez: das Erkenntnis [“isso” intelecção]. Nós podemos, portanto, sem violência, traduzir μνημοσύνη correspondentemente ao feminino grego: “die Gedächtnis” [ a memória].

É que Hölderlin nomeia a palavra grega mnemosyne como o nome de uma filha dos titãs. De acordo com o mito ela é a filha do Céu e da Terra. [...]

Mnemosyne, a filha do Céu e da Terra, enquanto noiva de Zeus, em nove noites torna-se mãe das musas. Jogo e música, dança e poesia pertencem ao regaço da Mnemosine, da memória [der Gedächtnis]. É evidente que essa palavra designa outra coisa do que só a capacidade, verificável pela Psicologia, de conservar o que passou na representação. Memória pensa no pensado. Como mãe das musas, no entanto, “Memória” não designa um pensar qualquer sobre qualquer coisa pensável. Memória é a reunião do pensar sobre aquilo que em todas as partes deseja ser pensado já antecipadamente. Memória é a reunião do rememorar. Ela se oculta e oculta em si aquilo, no que a cada vez há o que pensar antecipadamente em tudo o que há [west] e, enquanto o que há [Wesendes], atribui-se o havido [Gewesendes]: Memória, a mãe das musas: o rememorar do que deve ser pensado é a fonte primordial do poetar. O poetar é, por isso, a corrente que por vezes flui de volta em direção à fonte, ao pensar como rememorar. Enquanto, porém, crermos que a lógica nos pode dar um esclarecimento sobre o que seja pensar, não conseguiremos meditar em que medida todo o poetar consiste no rememorar. Todo o poetado origina-se da re-memoração [An-dacht = pensar em, devoção, meditação] do rememorar. [GA8PS:133-134]



Dá-se — se se pensa mais originariamente — a História do Ser, à qual pertence o pensamento, como a memória (Andenken) dessa História, por cujo processo o pensamento se edifica em sua propriedade (von ihr selbst ereignet). A memória se distingue essencialmente do presentificar posterior da história no sentido do que transcorreu no passado. [CartaH:58]

Submitted on:  Wed, 29-Sep-2021, 12:32