valor

Category: Heidegger - Ser e Tempo etc.
Submitter: Murilo Cardoso de Castro

valor

VIDE Wert

Tão essencial como o sistema é, para a interpretação moderna do ente, a representação do VALOR. Só onde o ente se tornou objecto do re-presentar é que o ente perdeu, de certo modo, o ser. Esta perda é pressentida de modo bastante obscuro e inseguro, sendo, correlativamente, rapidamente substituída pelo atribuir ao objecto, e ao ente interpretado deste modo, de um VALOR, pelo medir, em geral, do ente segundo valores, e pelo tornar os próprios valores em meta de todo o fazer e de todo o empreender. Na medida [125] em que estes se concebem como cultura, os valores tornam-se valores culturais e estes, em geral, tornam-se expressão das mais elevadas metas do criar ao serviço da auto-garantia do homem como subjectum. Daí é apenas ainda um passo para tornar os próprios valores em objectos em si. O VALOR é a objectivação das metas que são precisas ao instalar-se que representa no mundo enquanto imagem. O VALOR parece expressar que, na posição de referência a ele, se empreende precisamente o que é mais valioso, e, no entanto, é precisamente o VALOR o mais impotente e gasto velamento da objectividade do ente, que se tornou trivial e sem profundidade. Ninguém morre por meros valores. [GA5:94-95; tr. Borges-Duarte]



Razão e liberdade contrapõem-se à natureza. À medida que natureza é o ente, a liberdade e o dever não são pensados como ser. Fica-se na contraposição entre ser e dever, ser e VALOR. Tão logo a vontade alcance seu máximo de des-vio, também o próprio ser torna-se ele mesmo um mero "VALOR". Pensa-se então o VALOR como condição da vontade. [GA7]


Porque se fala contra os "valores" surge uma indignação em face de uma filosofia que — assim se pretende — se atreve a desprezar os bens mais elevados da humanidade. Pois, o que é "mais lógico" do que isto: um pensamento que nega os valores, terá necessariamente que declarar tudo sem VALOR? [CartaH]


O pensamento contra "os valores" não afirma ser sem VALOR tudo que se considera como "valores", a saber, a "cultura", a "arte", a "ciência", a "dignidade humana", o "mundo" e "Deus". Ao contrário. Trata-se de se compreender de uma vez por todas, que, ao caracterizar algo como um "VALOR", se lhe rouba a dignidade. O que quer dizer: ao se avaliar uma coisa como VALOR, só se admite o que assim se valoriza, como objeto de uma avaliação do homem. Ora, o que uma coisa é, em seu ser, não se esgota em sua ob-jetividade e principalmente quando a ob-jetividade possui o caráter de VALOR. Toda valorização, mesmo quando valoriza positivamente, é uma subjetivação. Pois ela não deixa o ente ser mas deixa apenas que o ente valha, como objeto de sua atividade (Tun). O esfôrço extravagante, de se provar a objetividade dos valores, não sabe o que faz. Dizer-se que "Deus" é "o VALOR supremo", é uma degradação da Essência de Deus. Pensar em termos de VALOR é aqui — como alhures — a maior blasfêmia, que jamais se possa pensar com relação ao Ser. Pensar contra os valores não significa, por conseguinte, tocar os tambores da desvalorização (Wertlosigkeit) e da nulidade (Nichtigkeit) do ente mas significa: pro-pôr ao pensamento, contra a subjetivação do ente, como simples ob-jeto, a clareira da Verdade do Ser. [CartaH]

Submitted on:  Thu, 22-Jul-2021, 00:34