palavra

Category: Heidegger - Ser e Tempo etc.
Submitter: Murilo Cardoso de Castro

palavra

Wort

É no pensamento do ser que a libertação do homem para a ek-sistência, libertação que funda a história, alcança a sua palavra. A palavra não é, em primeiro lugar, a "expressão" de uma opinião, mas é constantemente já a articulação protetora da verdade do ente em sua totalidade. O número daqueles que entendem esta palavra pouco importa. A qualidade dos que podem prestar atenção a ela decide da posição do homem na história. Mas, neste mesmo momento da história do mundo em que começa a filosofia, começa também a dominação expressa do senso comum (da sofística). [MHeidegger SOBRE A ESSÊNCIA DO FUNDAMENTO]



Nenhuma coisa é onde falha a palavra, essa que nomeia a coisa. O que significa "nomear" [nennen]? Podemos responder assim: nomear é aparelhar alguma coisa com um nome. E o que é um nome [Name]? Uma designação que confere a alguma coisa um signo fonético ou gráfico, que lhe confere uma cifra [Chiffre]. E o que é um signo [Zeichen]? Um sinal [Signal]? Uma insígnia [Signum]? Uma marca [Merkmal]? Um aceno [Wink]? Ou tudo isso e mais alguma coisa? Tornamo-nos por demais negligentes e calculadores na compreensão [Verständnis] e uso [Gebrauch] de signos.

Será o nome, será a palavra um signo? Tudo depende de como pensamos o que dizem as palavras "signo" e "nome". Com essas esparsas considerações já podemos perceber em que correnteza nos lançamos quando a linguagem [Sprache] como linguagem vem à linguagem. [GA12]


O poeta [Dichter] aprendeu a renunciar. Ele fez uma experiência [Erfahrung]. Com o quê? Com a coisa [Ding] e seu relacionamento com a palavra [Beziehung zum Wort]. Mas o título do poema [de Stefan George] é somente: a palavra. O poeta fez a experiência propriamente dita com a palavra e, na verdade, com a palavra à medida que esta abriu mão de um relacionamento com a coisa. Pensando-se com maior clareza: o poeta fez a experiência de que é a palavra que deixa aparecer e vigorar uma coisa como a coisa que ela é. Para o poeta, a palavra se diz como aquilo a que uma coisa se atém e contém em seu ser. O poeta faz a experiência de um poder, de uma dignidade da palavra, que não consegue ser pensada de maneira mais vasta e elevada. A palavra é, ao mesmo tempo, aquele bem a que o poeta se confia e entrega, como poeta, de modo extraordinário. O poeta faz a experiência do ofício de poeta como uma vocação para a palavra, assumida como fonte e borda do ser. A renúncia que o poeta aprende é do tipo de uma abnegação plena, à qual somente se prenuncia o que de há muito se vela e propriamente já sempre se consente.

O poeta deveria então ficar cheio de júbilo com uma tal experiência, pois essa lhe oferece o que de mais alegre um poeta pode receber. O poema diz, no entanto: "triste assim eu aprendi a renunciar". Isso significa que o poeta encontra-se prostrado frente à renúncia, abatido por uma perda. Mas renunciar — como se mostrou — não é perder. O "triste" também não se refere à renúncia, mas ao aprendizado da renúncia. Tristeza não é abatimento e nem depressão. Em sentido próprio, a tristeza articula-se no relacionamento com a máxima alegria; quando a alegria se retrai, torna-se hesitante e se resguarda na retração. Aprendendo a renúncia assim nomeada, o poeta faz a experiência do poder mais elevado da palavra. Ele capta a mensagem arcaica do que cabe à saga poética do dizer enquanto sua tarefa mais elevada e permanente, não obstante usurpada. O poeta jamais saberia fazer essa experiência com a palavra se não estivesse afinado pela tristeza, pelo tom da quietude [die Stimmung der Gelassenheit] de estar próximo ao que se retrai e assim se reserva para um anúncio inaugural. [GA12]

Submitted on:  Wed, 27-Oct-2010, 23:39