Natur

Category: Heidegger - Termos originais
Submitter: Murilo Cardoso de Castro

Natur

nature
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naturaleza

NT: Nature (Natur), 9-11, 18, 25, 47 n. 2, 48, 60, 63, 65 + fn, 70-71, 89, 95, 98-100, 106, 112, 144-145, 152, 165, 179, 199, 211, 361-363, 377, 379, 388, 388 n. 9, 398-400, 401 (Yorck), 404, 412-413, 415, 417 n. 4, 418, 428 (Aristotle); 429, 431, 432 n. 30, 434 (Hegel); thing of n., natural thing (Naturding), 48, 63, 99-100, 211; surrounding world of ... (Umweltnatur), 71, 381, 413. See also Intelligibility (unintelligibility) [BTJS]



Natur vem do latim natura, "nascimento, característica, ordem natural etc.", e esta, por sua vez, de nasci, "ser nascido, crescer, ser produzido", com seu particípio passado natus. O grego physis tem uma esfera de significados similar, e vem de phyein, "crescer, vir à luz etc." Heidegger insiste que a tradução latina de physis, assim como acontece com todas as palavras gregas importantes, destruiu sua força original (GA40, 10s. Cf. GA54, 57ss). Physis aparece ocasionalmente nas preleções iniciais. Os gregos consideravam o ser como "vigência e ser-simplesmente-dado [Anwesenheit und Vorhandenheit] da physis, no sentido mais amplo" (GA21, 77). "Physis não é ‘natureza’; ela é [...] ‘o que é espontaneamente’, o que subsiste em si mesmo" (GA22, 287). O termo não aparece todavia em SZ, e apenas mais tarde torna-se proeminente.

Nas primeiras preleções e em SZ, Natur opõe-se, com frequência, à "história", como o reino das ciências naturais em contraste com o das "ciências humanas" ou "do espírito" (Geisteswissenschaften) (GA20, 1). Contrasta, também com a "graça" ou o "sobrenatural", com a "arte", e com o "espírito" (GA7, 237). Que Natur contraste com outros campos é um de seus defeitos. Ela não representa uma visão original, não contaminada do(s) ente(s), mas um reino específico de entes, demarcado com vistas a uma concepção prévia dos entes enquanto tais, anterior a qualquer demarcação deste tipo. E esta concepção original dos entes que Heidegger quer desvelar, penetrando além das subsequentes linhas de demarcação. Há dois sentidos importantes de Natur. 1. a natureza tal como é circunvisualmente descoberta nas nossas lidas cotidianas com as coisas; 2. a natureza tal como conhecida teoricamente pelas ciências naturais (GA21, 314; SZ, 65). Estes sentidos não são idênticos. Uma casa não é uma parte da natureza no sentido 1, embora as árvores no jardim e os marimbondos no sótão possam ser. Para o físico, a casa é uma parte da natureza tanto quanto as árvores e os marimbondos, embora não sejam considerados como uma casa, árvores e marimbondos. Posteriormente, a natureza no sentido 1 torna-se terra. [DH]


Uma primeira abordagem consistiria em afirmar que os Gregos conceberam a φύσις [physis] pelo modelo da natureza. Ter-se-iam entregue, num primeiro tempo, a uma observação dos processos naturais, e por abstração e generalização é que a φύσις teria sido separada do seu domínio de origem para ser depois aplicada à totalidade dos entes. Isto conduziria a duas consequências igualmente necessárias: por um lado, o que os Gregos chamavam φύσις não seria mais do que «a generalização da experiência ingênua (considerada hoje como ingênua) do desabrochar dos germes e das flores, e do nascer do sol» [GA55:89]; por outro lado e em consequência disso, sendo a natureza o reino dos processos materiais, e sendo a φύσις, como conceito grego fundamental para o ente na sua totalidade, derivada dela, o primeiro pensamento grego seria uma «filosofia da natureza» [Naturwissenschaft], «uma representação de todas as coisas segundo a qual elas são de uma natureza propriamente material» [GA40:12]. Filosofia certamente um pouco primitiva, mas que devíamos contudo honrar pela precocidade com que colocou os primeiros marcos do naturalismo, e até do materialismo moderno. [MZHPO:46]



Submitted on:  Mon, 02-Aug-2021, 17:52