transcendência

Category: Heidegger - Ser e Tempo etc.
Submitter: Murilo Cardoso de Castro

transcendência

Transzendenz

Suspendendo-se dentro do nada o ser-aí [Dasein] já sempre está além do ente [Seiende] em sua totalidade [Ganze]. Este estar além do ente designamos a transcendência [Transzendenz]. Se o ser-aí, nas raízes de sua essência [Wesen], não exercesse o ato de transcender, e isto expressamos agora dizendo: se o ser-aí não estivesse suspenso previamente dentro do nada [Nichts], ele jamais poderia entrar em relação com o ente e, portanto, também não consigo mesmo. [MHeidegger O QUE É METAFÍSICA?]



Uma observação terminológica preliminar regulará o uso da palavra “transcendência” e preparará a determinação do fenômeno com ela visado. Transcendência significa ultrapassagem [Überstieg]. Transcendente [Transzendent] (transcendendo) é aquilo que realiza a ultrapassagem, que se demora no ultrapassar. Este é, como acontecer [Geschehen], peculiar a um ente [Seiende]. Formalmente, a ultrapassagem pode ser compreendida como uma “relação” [Beziehung] que se estende “de” algo [etwas] “para” algo. Da ultrapassagem faz parte, então, algo tal como o elemento em direção ao qual se realiza a ultrapassagem; isto é designado, na maioria das vezes, de maneira inexata como o “transcendente”. E, finalmente, em cada ultrapassagem algo é transcendido. Estes momentos são deduzidos de um acontecimento “espacial” [räumlichen]; é a esse acontecimento que a expressão [Ausdruck] primeiramente visa.

A transcendência, na significação terminológica que deverá ser clarificada e demonstrada, refere-se àquilo que é próprio do ser-aí humano [menschlichen Dasein], e isto não, por certo, como um modo de comportamento [Verhaltungsweise] entre outros possíveis, de vez em quando posto em exercício, mas como constituição fundamental [Grundverfassung] deste ente, uma constituição que acontece antes de todo comportamento. Não há dúvida, o ser-aí humano, enquanto existe “espacialmente”, possui, entre outras possibilidades [Möglichkeit], também a de um “ultrapassar” um espaço, uma barreira física ou um fosso. A transcendência, contudo, é a ultrapassagem que possibilita algo tal como existência [Existenz] em geral e, por conseguinte, também um movimentar-“se”-no-espaço [»Sich«-bewegen-im-Raume].

Se se escolhe para o ente que nós mesmos sempre somos a cada vez e que compreendemos como “ser-aí” a expressão “sujeito” [Subjekt], então a transcendência designa a essência do sujeito [Wesen des Subjekts], ela é a estrutura básica da subjetividade [Grundstruktur der Subjektivität]. O sujeito nunca existe antes como “sujeito”, para então, caso subsistam objetos [Objekt], também transcender [transzendieren]; mas ser-sujeito quer dizer: ser um ente na e como transcendência [in und als Transzendenz Seiendes sein]. O problema da transcendência [Transzendenzproblem] nunca pode ser exposto de tal modo que se procure uma decisão [Entscheidung] sobre se a transcendência pode convir ou não ao sujeito; a compreensão [Verständnis] da transcendência já é muito mais a decisão quanto a se realmente temos ou não em mente algo assim como a “subjetividade” ou se apenas tomamos em consideração por assim dizer um esqueleto de sujeito [Rumpfsubjekt]. [GA9:137-138; tr. Giachini & Stein:149]



Submitted on:  Sun, 08-Aug-2021, 19:44