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Léxico Filosofia

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provas de Deus

Definition:
VIDE provas da existência de Deus

(in. Arguments for God; fr. Preuves de Dieu; al. Gottesbeweise; it. Prove di Dio).

Entenderemos por essa expressão não só as "demonstrações", mas também os indícios ou as indicações que foram consideradas provas da existência de Deus Cada uma dessas provas nasceu de determinada concepção de Deus e recorre a certo tipo de causalidade, mas cada concepção também se vale de provas extraídas de concepções diferentes, de modo que, via de regra, há certo sincretismo nesse ramo do pensamento filosófico. No entanto, existe um argumento que não se refere a nenhuma concepção de Deus em especial, que enunciaremos em primeiro lugar.

1) O recurso ao consenso comum é uma prova que vez por outra aparece na história da filosofia. Dele se valeu Aristóteles para demonstrar que a divindade reside no primeiro céu, e não tanto que ela existe (De caei, I, 3, 270 b 17). Mas esse argumento foi muito desenvolvido pelos platônicos ecléticos do séc. I a.C., e é provável que Cícero o tenha extraído deles. "Para demonstrar a existência dos deuses, o argumento mais forte que podem aduzir é que nenhum povo é tão bárbaro, que nenhum homem é em absoluto tão selvagem, a ponto de não ter em sua mente indício da crença nos deuses" (Tusc, I, 30). Pode-se considerar equivalente a esse argumento a crença de que a ideia de Deus é uma das ideias inatas ou constitutivas da natureza racional humana. Tal foi a tese dos neoplatônicos de Cambridge no séc. XVII (Herbert de Cherbury, Cudworth, Moore), que Locke teve presente em sua crítica do inatismo do Livro I do Ensaio. E foi essa a tese defendida no século seguinte pela escola escocesa do senso comum (Thomas Reid e Dougald Stwart). A afirmação do caráter inato da ideia de Deus equivale ao recurso ao consensus gentium, porque a presença da ideia de Deus em todos os homens é a única base presumida para admitir o seu caráter inato.

2) O argumento mais antigo e respeitável, e também o mais simples e convincente, é o da ordem ou desígnio do mundo, que, em termos modernos, se chama argumento teleológico ou físico-teológico. Foi ele que convencera Anaxágoras a admitir a Inteligência como causa ordenadora do mundo. Platão e Aristóteles fazem-lhe referência frequente. O primeiro diz, p. ex.: "Que a Inteligência ordena todas as coisas é afirmação digna do espetáculo que nos oferecem o mundo, a lua, os astros e todas as revoluções celestes" (Fil, 28 e). E Aristóteles, que repetira esse argumento em seu diálogo juvenil Sobre a filosofia, adaptando-lhe o mito platônico da caverna (os homens reconheceriam a existência de Deus assim que saíssem da caverna, só com olhar a natureza) (Fr. 12", Rose), o pressupõe quando compara Deus ao chefe de uma casa bem organizada ou de um exército (Mel, XII, 10, 1075 a 14). Podemos ler esse argumento na formulação de Fílon: "Se virmos uma casa construída com cuidado, com vestíbulos, pórticos, apartamentos para homens, mulheres e para outras pessoas, teremos uma ideia do artista: não acharemos que foi feita sem arte e sem artesãos. E o mesmo diremos de uma cidade, de um navio, ou de um objeto qualquer construído, seja ele pequeno ou grande. Do mesmo modo, aquele que entrou nesse mundo como uma casa ou numa enorme cidade e viu o céu que gira em círculo e tudo contém, os planetas e as estrelas fixas movidos por movimento idêntico ao do céu, simétrico, harmonioso e útil ao todo, e a terra que recebeu o lugar central... esse homem concluirá que tudo isso não foi feito sem uma arte perfeita e que o artífice desse universo foi e é Deus" (Ali. leg., III, 98-99). Obviamente, como notava Kant, esse argumento conclui pela existência de um Demiurgo, isto é, do criador da ordem do mundo, e não do criador do mundo. Todavia, foi também utilizado por aqueles que admitem a causalidade criadora de Deus Sua força probante reside na noção de ordem, mais precisamente no caráter absoluto dessa noção (v. ordem). Esse foi, é e continua sendo o argumento mais simples e popular, mas nem por isso o mais frágil. Stuart Mill procurou expressá-lo de forma mais rigorosa em quatro partes, em conformidade com os quatros métodos indutivos: concordância, diferença, resíduos e variações concomitantes (Three Essays on Religion, 1875, com o título Theism, 1957, p. 27). C. S. Peirce deu-lhe uma forma não muito diferente da tradicional, ao considerar Deus como Ens necessarium, criador dos três universos de experiência (das ideias puras, das coisas reais e dos signos), cuja existência pode ser demonstrada pela ordem desses três mundos e por sua concordância (Coll. Pap., 6,452 ss.; o texto é de 1908). Contudo, não se deve esquecer que o conceito de ordem é relativo; como observava Peirce, "um mundo aleatório é simplesmente o nosso mundo real do ponto de vista de um animal com o mínimo absoluto de inteligência"; portanto, a noção de ordem dificilmente se presta a remontar a noção de Espírito Ordenador (Chance, Love and Logic, I, 5, 2; trad. it., p. 83).

3) Uma variante ou determinação desse argumento é a prova causal que pode ser encontrada em Aristóteles (Mel, II, 2) e depois é retomada pelos autores árabes (Avicena) e por Tomás de Aquino. Funda-se no princípio de que é impossível remontar ao infinito na série das causas materiais e das causas eficientes, ou das causas finais ou das consequências, e que, portanto, deve haver, em cada série um primeiro princípio do qual depende a série toda. Como a argumentação também vale para as causas finais, leva a ver em Deus o fim último, o bem supremo segundo o qual se ordenam todas as coisas do mundo (Ibid., XII, 7, 1072 b 2). Essa prova pode ser considerada uma transição entre a prova teológica e a do movimento; na verdade, às vezes é interpretada como uma, às vezes como outra.

4) A prova considerada mais sólida no mundo clássico e medieval é a do movimento. Foi exposta pela primeira vez por Platão (Leis, X, 894-95) e reexposta por Aristóteles (Fís., VIII, 1; Met., XII, 7). Na escolástica latina foi introduzida por Adelardo de Bath no séc. XI (Quaest. nat., 60). Podemos encontrá-la na exposição de Tomás de Aquino, que é a mais clara e sucinta. Parte do princípio de que "tudo o que se move é movido por outra coisa". Ora, "se aquilo pelo qual é movido por sua vez se move é preciso que também ele seja movido por outra coisa e esta por outra. Mas não é possível continuar ao infinito; senão, não haveria um primeiro motor e nem mesmo os outros motores moveriam assim como, p. ex., o bastão não move se não for movido pela mão. Portanto, é preciso chegar a um primeiro motor que não seja movido por nenhum outro, e por ele todos entendem Deus" (5. Th., I, q. 2, a. 3). Esse argumento foi criticado já no fim da escolástica: Ockham nega a validade dos dois princípios em que ele se funda. Na verdade, observa ele, pode-se racionalmente afirmar que alguma coisa se move por si, como a alma, o anjo ou o peso que tende para baixo; e que o processo ao infinito se dá frequentemente na experiência, p. ex. quando bate numa das extremidades de um comprimento contínuo: a parte atingida movimentará a parte mais próxima, esta movimentará outra, e assim por diante infinitamente (Cent. theol., Concl. I, D). Essa prova também conclui apenas pela existência de um primeiro motor, e não de uma causa criadora, sendo utilizada com esse fim por Platão e por Aristóteles. Kant considerou essa prova idêntica às duas precedentes e observou que é difícil estabelecer uma proporção precisa entre movimento e motor, ou seja, induzir da ordem e do movimento a existência e os caracteres de uma causa infinita. "Espera", disse ele, "que ninguém jamais tenha a presunção de conhecer a relação entre a grandeza do mundo por ele observada (por extensão e conteúdo) e a onipotência, entre a ordem cósmica e a suma sapiência, entre a unidade cósmica e a unidade absoluta do criador, etc." (Crít. R. Pura, Dialética, c. III, seç. 6).

5) O chamado argumento do graus fora exposto por Aristóteles em seu maior diálogo juvenil, Sobre a filosofia. "Em geral, nas coisas em que há o melhor, há também o ótimo; e como há o ótimo nas coisas que existem de um modo ou de outro, haverá nelas também o ótimo, que poderia ser divino" (Fr. 16, Rose). Era reproduzido por Cícero da seguinte forma: "Não se pode afirmar que em cada ordem de coisas não haja algum termo extremo, uma perfeição absoluta, pois vemos que para uma planta, para um animal, a natureza se não se lhe opõe força alguma, segue seu caminho e chega ao termo último, e que a pintura, a arquitetura e as outras artes alcançam também resultado perfeito em suas obras. O mesmo deve ser dito para toda natureza e com muito maior razão: deve-se necessariamente produzir e realizar uma forma absolutamente perfeita" (De nat. deor., II, 13, 35). Essa prova foi reexposta por S. Agostinho (De civ. Dei, VIII, 6) e encontrou forma clássica em Monologion de Anselmo. Diz este: "Se não pode negar que algumas naturezas são melhores do que outras, a razão nos convence de que há uma tão excelente que nenhuma outra haverá que lhe seja superior. De fato, se essa distinção de graus poesseguisse ao infinito, de modo que não houvesse um grau superior a todos, a razão seria levada a admitir que o número dessas naturezas é infinita. Mas como isso é considerado absurdo por qualquer um que não seja carente de razão, deve haver necessariamente uma natureza superior, que não possa ser subordinada a nenhuma outra como inferior" (Mon., 4). O fundamento dessa prova é o princípio platônico de que tudo o que possui certa qualidade possui-a por participação naquilo a que essa qualidade inere de modo essencial e eminente; p. ex., tudo o que é quente é quente por participação no fogo, que é quente por essência (Fed., 101 d e ss.). Esse princípio fora admitido também por Aristóteles (Met., II, 1, 993 b 25), ao qual frequentemente remetem os escritores medievais.

6) A prova chamada por Tomás de Aquino de ex possibili et necessário, por Leibniz de contingentia mundi, e por Kant, de prova cosmológica, é uma das mais felizes; foi exposta pela primeira vez por Avicena e está intimamente ligada à concepção de Deus típica do neopla-tonismo árabe. Avicena (Met., II, 1, 2) distinguira o ser em necessário e possível, definindo o possível como o que não existe por si, mas tem necessidade de alguma coisa para existir. Portanto, se existe um possível, existe algo que o faz existir; mas se esse algo é, por sua vez, possível, remete ainda a um outro que seja causa de sua existência; e assim por diante, até se chegar ao ser necessário, que é o que existe por si. Dessa prova resulta a definição de Deus como ser necessário, cujo antecedente pode ser encontrado em Aristóteles (Met., XII, 7,1072 b 10). Mas seu sentido é diferente na filosofia árabe, em que visa afirmar a necessidade de tudo o que existe, portanto também do possível, que, se existe, existe necessariamente pela ação de uma causa necessária. Apesar de seus vínculos com o necessitarismo árabe, essa prova foi aceita por Maimônides (Guide des égarés, II, 1) e pela escolástica latina, na qual foi introduzida por Guilherme de Alvérnia (De Trinitate, 7), na primeira metade do séc. XIII. Desde então, passou a ser uma das provas mais frequentemente repetidas na história da filosofia, sendo de fato a única aduzida nos sécs. XVII e XVIII, ou seja, ainda no período em que muitos conceitos teológicos e metafísicos são criticados e abandonados. Pode ser assim esquematizada: "Se algo existe, deve existir um ser necessário. Mas algo existe (p. ex., eu mesmo), logo existe o ser necessário". Em conformidade com esse esquema, essa prova é exposta por Descartes (Secondes Réponses, prop. 3), por Locke (Ensaio, IV, 10), por Leibniz (Théod, I, § 7; Monad., § 45) e por Clarke (Demonstration of the Being and Attributes of God, 1705). A própria prova que Berkeley extraiu do princípio esse estpercipi é uma variante da prova cosmológica: "As coisas sensíveis realmente existem; se realmente existem, são necessariamente percebidas por um espírito infinito; logo, há um Espírito infinito, ou Deus" (Dialogues Between Hylas and Philonoûs, II, Works, ed. Jessoup, II, p. 212). Kant considerou a prova cosmológica como "uma prova ontológica mascarada", uma prova que passa da conexão puramente conceituai entre as noções de possível e necessário à afirmação da realidade necessária (Crít. R. Pura, Dialética, cap. III, seç. 5). G. Boole, fundador da lógica, transcrevendo em símbolos o argumento de Clarke, mostrava que não há conclusão derivável das premissas que afirmam a verdade ou a falsidade da proposição "algo que é existe pela necessidade de sua natureza", ou da proposição "algo que é existe pela vontade de outro ser", nem da combinação das duas proposições (Laws of Thought, 1854, cap. 13). A essa prova se deve a definição de Deus como ser necessário, que é das mais comuns, sendo usada mesmo por quem não se vale da prova relativa ou desconhece sua validade.

7) A prova ontológica foi formulada no séc. XI por Anselmo de Aosta. Sua característica é passar do simples conceito de Deus à existência de Deus Eis a formulação de Anselmo: "Certamente aquilo de que não se pode pensar nada de maior não pode estar só no intelecto. Porque, se estivesse só no intelecto, poder-se-ia pensar que estivesse também na realidade, ou seja, que fosse maior. Se, portanto, aquilo de que não se pode pensar nada de maior está só no intelecto, aquilo de que não se pode pensar ‘ nada de maior é, ao contrário, aquilo de que se pode pensar algo de maior. Mas certamente isso é impossível. Portanto, não há dúvida de que aquilo de que não se pode pensar nada de maior existe tanto no intelecto quanto na realidade" (Prost., 2). Esse argumento consta de dois pontos: 1) o que existe na realidade é "maior" ou mais perfeito do que o que existe só no intelecto; 2) negar que aquilo de que não se pode pensar nada de maior existe na realidade significa contradizer-se. A esse argumento o monge Gaunilão, em seu Liber pro insipiente (Anselmo dirigira seu argumento contra o néscio do Salmo 13, que disse "em seu coração, não há Deus"), aduziu, em primeiro lugar, que se pode duvidar de que o homem tenha um conceito de Deus, e, em segundo lugar, que não se pode deduzir do conceito de um ser perfeitíssimo a existência desse ser tanto quanto não se pode deduzir do conceito de uma ilha perfeitíssima a realidade dessa ilha. Em Liber apologeticus Anselmo respondeu que se pode pensar Deus, como demonstra a própria fé que Anselmo e Gaunilão professam, e que, se é possível pensá-lo, deve-se admiti-lo como existente, sem que isso valha para qualquer outro ser, que, embora perfeito, nunca será aquilo de que não se pode pensar nada de mais perfeito. Rejeitado pela maior parte dos escolásticos (inclusive Tomás de Aquino, 5. Th., I, q. 2, a. 1 ad. 2a), que em geral preferem os argumentos aposteriori, ou seja, extraídos da relação de Deus com o mundo, o argumento ontológico teve sucesso na filosofia moderna. Foi repetido por Descartes, para quem a existência de Deus está implícita no conceito de Deus, do mesmo modo que está implícito no conceito de triângulo que seus ângulos internos são iguais a dois ângulos retos (Princ.phil., I, 14). Leibniz, por sua vez, aceitou essa prova e formulou-a como identidade de possibilidade e realidade em Deus Só Deus, disse ele, ou seja, o ser necessário, tem o privilégio de precisar existir, se ele é possível. E como nada pode impedir a possibilidade daquilo que não encerra nenhum limite, nenhuma negação e, em consequência, nenhuma contradição, só isso basta para conhecer a existência de Deus apriori(Monad., § 45). Segundo Kant, a própria prova é contraditória ou impossível: será contraditória se, já no conceito de Deus, se considerar implícita a sua existência, por nesse caso não se tratar de simples conceito; e será impossível se ela for considerada implícita, pois nesse caso a existência deverá ser acrescida ao conceito sinteticamente, ou seja, por via da experiência, ao passo que Deus está além de toda experiência possível (Crít. R. Pura, Dial, cap. III, seç. 4). Hegel, porém, defendeu essa prova afirmando que só no que é finito a existência é diferente do conceito, e que "Deus deve expressamente ser aquilo que pode ser pensado só como existente, cujo conceito implica a existência. Essa unidade de conceito e ser constitui justamente o conceito de Deus" (Enc., § 51). Por aí se pode ver que a prova ontológica, mais que prova, é a explicitação do próprio conceito de Deus como ser necessário: com efeito, o ser necessário existe por essência ou por natureza, isto é, por definição. Contudo, essa prova é repetida com frequência na filosofia moderna: Lotze, p. ex., repete-a nos mesmos termos de Anselmo (Mikrokosmus, III, 2a ed., p. 557).

8) Muito semelhante à precedente, porém mais antiga, é a prova extraída da simples presença da ideia de Deus no homem. Consiste em julgar impossível explicar essa presença de outro modo que não pela produção de Deus mesmo, que por isso deve ser considerado existente. Assim raciocinavam Justino (Apologia sec, 6), Tertuliano (De testimonio animae, 5) e João Damasceno (De fide orth., I, 1). E a essa tradição pertence uma das provas cartesianas da existência de Deus, mais precisamente a de que o autor da ideia de Deus deve possuir pelo menos a mesma perfeição que é representada nessa ideia, e assim não pode ser outro senão Deus mesmo (Discours, IV, Méd., II; Secondes Repouses, pro. 3). Uma forma abreviada dessa prova (ou da anterior) consiste em julgar a proposição "Deus existe" como conhecida de per si, ou seja, conhecida com base nos próprios termos que a compõem. E o que faz, p. ex., Duns Scot (Op. Ox., I, d. 2, q. 2, n. 3) em polêmica com Tomás de Aquino. Stuart Mill, que chama essa prova de "argumento da consciência", julga-a inaceitável por "negar ao homem um de seus atributos mais familiares e preciosos, o de idealizar ou, como se diz, de construir com os materiais da experiência uma concepção mais perfeita que a contida na experiência" (Three Essays on Religion, 1875, com título Theism, 1957, p. 24).

9) A prova moral é acompanhada, via de regra, por certo ceticismo quanto à validade das demonstrações racionais. Consiste em mostrar que a existência de Deus é uma exigência da vida moral, no sentido de que é conveniente ou necessário ao homem crer em Deus Mas o adjetivo "moral" aqui não indica só a esfera à qual pertence a prova, mas também uma limitação da validade da prova para essa esfera. Uma prova moral de Deus é a Aposta de Pascal. Segundo Pascal, não se pode adiar o problema de Deus e permanecer neutro diante de suas soluções. O homem deve escolher entre viver como se Deus existisse ou viver como se Deus não existisse; se a razão não pode ajudá-lo nessa escolha, que ele considere qual é a escolha mais conveniente como se estivesse diante de um jogo ou de uma aposta em que é preciso considerar, por um lado, o lance e, por outro, a perda ou a vitória eventual. Ora, quem aposta na existência de Deus, se ganhar, ganhará tudo; se perder, nada perderá: portanto, é preciso apostar sem hesitação. A aposta já é razoável quando se trata de um ganho finito e pouco superior ao lance, quanto mais se o ganho é infinitamente superior ao lance. Nem é preciso dizer que a distância infinita entre a certeza daquilo que se aposta e a incerteza daquilo que se pode ganhar equipara o bem finito, que certamente se arrisca, ao infinito, que é incerto. Todo jogador arrisca a certeza para ganhar a incerteza e arrisca o finito certo para ganhar o infinito incerto sem pecar contra a razão. Num jogo em que houver iguais probabilidades de vencer ou de perder, arriscar o finito para ganhar o infinito é, obviamente, da maior conveniência (Pensées, 233). Essa aposta parece falar mais a língua das mesas de jogo que a da vida moral, mas é preciso observar que Pascal a utiliza unicamente para combater a impotência de crer produzida pelas paixões, e que o resultado dessa prova deveria ser o de "concorrer para convencer, não por aumentar as provas da existência de Deus, mas por diminuir as paixões". De qualquer forma, é óbvio que semelhante prova só tem validade moral em face do comportamento humano: não tem validade teórica. Esse mesmo caráter é absorvido na prova moral da existência de Deus formulada por Kant: para ele, Deus é um postulado da vida moral: sua existência é requisito para a realização do bem supremo, da união de virtude e felicidade, que não se verifica na atuação das leis naturais. "O bem supremo no mundo só é possível se admitirmos um Ser Supremo cuja causalidade se conforma à intenção moral... Logo, a causa suprema da natureza, porquanto pressuposta para o bem supremo, é um Ser que, mediante o intelecto e a vontade, é causa (portanto, autor) da natureza, ou seja, é Deus" (Crít. R. Pratica, I, 1. II, cap. 2, seç. 5). Essa prova, que Kant extraiu das famosas considerações do vigário saboiano, no IV livro de Émile de Rousseau, foi muitas vezes retomada na filosofia contemporânea. Outra forma da prova moral é a apresentada por James, que reformulou a aposta de Pascal (The Will to Believe, cap. I), reafirmando a utilidade e a conveniência da crença em Deus com vistas a uma vida moral ativa e confiante. Nesse aspecto, Deus é "objeto mais adequado do nosso espírito". Num universo sem Deus, a ação moral parece destinada ao insucesso; por outro lado, a ação moral e a fé em Deus podem contribuir para reforçar a existência do mundo invisível. "Deus pode tirar força vital e acréscimo de ser da nossa fidelidade" (Essays on Faith and Morals, p. 30).

10) Há, por fim, uma prova formulada de vários modos, que parte de alguns tipos de experiência imediata e privilegiada, interpretados como relação direta com Deus Diz Fílon: "Mas há uma inteligência mais perfeita e mais purificada, iniciada nos grandes mistérios, que conhece a Causa, não a partir de seus efeitos, assim como se conhece o objeto imóvel a partir de sua sombra, mas que transcendeu o efeito e recebe a aparição clara do ser não gerado de tal modo que o compreende em si mesmo e por si mesmo e não em sua sombra, que é a razão e o mundo" (Ali. leg., III, 100). Plotino e os místicos admitem essa forma de experiência direta de Deus; segundo Bergson, ela é a única prova possível da existência de Deus A concordância entre os místicos, não só cristãos mas também pertencentes a outras religiões, é "o sinal da identidade de intuição que pode ser explicada do modo mais simples como a existência real do ser com o qual acreditam estar em comunicação" (Deux sources, p. 265). De forma atenuada, esse argumento pode ser repetido no que se refere à busca pura e simples de Deus: a própria busca, na variedade dos seus procedimentos e resultados, pode ser uma prova intrínseca da existência, sem que seja, porém, definível ou determinável de modo acabado aquilo que se busca (Paul Weiss, em Science, Philosophy and Religion, Nova York, 1941, I, pp. 413 ss.). É o que já Pascal dizia: "É prova de Deus não só o desvelo dos que o procuram como também a cegueira dos que não o procuram" (Pensées, 200). [Abbagnano]

Submitted on 03.03.2010 23:04
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