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Léxico Filosofia

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fé religiosa

Definition:
A oposição à fé religiosa na filosofia moderna.

Pois bem; se relembrarmos o que, essencialmente, é o ato de fé, chegaremos imediatamente à conclusão de que somente os atos de fé religiosa são atos plenos e autênticos de fé. Os outros, os atos de fé humana, os que recaem sobre objetos relativamente ausentes, não são genuinamente e de maneira rigorosa verdadeiros atos de fe. Precisamente porque são tão-só "relativamente" atos de fé; porque são atos de fé que podem tornar-se juízos evidentes da razão. Todo ato de fé humana, em objetos relativamente ausentes, é em potência um juízo evidente de razão. Todo ato de fé humana é susceptível de comprovação ou demonstração, que o torna imediatamente juízo evidente de razão. Essa comprovação ou demonstração poderá ser tão difícil ou complicada quanto se quiser e acessível a muito poucos, e mesmo assim, em princípio, será acessível a todos. Pelo contrário, que homem poderá jamais, nesta vida terrestre, ter a vivência, ou seja a presença integral da Santíssima Trindade? Somente os atos de fé religiosa, quer dizer, os que se referem aos objetos absolutamente ausentes e se fundamentam em autoridade absoluta — de Deus — são atos de fé perfeitos. Os outros, os que diariamente realizamos aos montes para viver e ir vivendo, são todos eles atos de fé imperfeitos, quer dizer, sempre susceptíveis, em princípio, de tornar-se juízos evidentes de razão.

Agora já podemos responder à pergunta que há alguns instantes fazíamos: por que a filosofia chamada moderna ataca tão denodada-mente o ato de fé? A resposta é agora óbvia: porque o ato de fé perfeito, o ato de fé autêntico, o único ato de fé que verdadeiramente merece este nome é o ato de fé religiosa. Os demais atos de fé são atos de fé, por assim dizer, provisórios; funcionam em substituição do um ato de juízo evidente que eu mesmo não posso realizar por razão de circunstâncias contingentes, porém que outros homens como ou realizaram ou realizam. Todo ato de fé imperfeito tem atrás de si um ato de juízo evidente, realizado por outro, porém que eu poderia em rigor realizar também. Todo ato de fé imperfeito é como o papel moeda que por si mesmo não vale, mas vale, todavia, como substituto do ouro ou do trabalho que o avaliza. O ato religioso de fé é, pelo contrário, autêntico, definitivo ato de fé. Não existe meio humano de mudá-lo num ato de juízo evidente. Pois bem; a filosofia chamada moderna admite muito bem os atos de fé imprópria ou imperfeita; e os admite porque sabe que sempre pode trocá-los por atos de juízo racional evidente. Não admite porém os atos de fé própria, perfeita, porque não existem atrás deles juízos evidentes que os avalizem. O racionalismo não quer atos de fé perfeita. Mas o ato de fé perfeita é o único que em rigor merece o nome de ato de fé. Podemos, pois, dizer que o racionalismo, em rigor, rejeita o ato de fé. Para a filosofia chamada moderna o ato de crer a fé é impróprio e indigno do homem. Reconhece que muitos homens, muitíssimos homens — todos os homens religiosos, que são legião — o realizam. Porém proclama a invalidez de tais atos de fé propriamente dita. Afirma que não deveriam realizar-se e que se realizam é por ativismo, por tradição de ignorância, incultura, falta de educação do intelecto. Por isso propugna por toda a parte a difusão do saber, a ilustração popular, o livre exame, a crítica racional etc. etc.

Penetremos um pouco mais profundamente nos fundamentos desta atitude negativa. À primeira vista não se explica com plena satisfação. Por que a filosofia chamada moderna se opõe dessa maneira ao ato de fé e o julga impróprio e indigno do homem? Por que não admite, junto ao juízo evidente da razão e o ato de fé imprópria — fundamentado em definitivo sobre um juízo evidente da razão — os atos de fé própria para os objetos absolutamente ausentes? Para responder a estas perguntas sem retórica e nem recriminações, devemos considerar agora as condições objetivas peculiares do ato de fé. E encontramos que não pode haver ato de fé sem três requisitos objetivos indispensáveis. O primeiro: que exista uma pessoa declarante. O segundo: que exista uma declaração. O terceiro: que. essa declaração declare algo, dê a conhecer um objeto absolutamente ausente da área intelectual humana. Dito em outros termos: para que haja ato de fé é necessário da parte ontológica: 1.° que exista Deus: 2.° que Deus se revele ao homem, ou seja, comunique ao homem uma revelação ou declaração; 3.° que esta revelação revele, com efeito, ao homem, algo que pelos seus meios naturais de conhecimento, o homem não poderia chegar a conhecer. Em resumo: a existência de Deus, a revelação e o dogma são as três condições ontológicas indispensáveis do ato de fé. Basta que uma destas três condições seja negada para que não possa haver ato de fé perfeito. Se Deus não existe, não há nem revelação nem dogma e não pode haver ato de fé. Se Deus existe, mas não revela nada ao homem, não há declaração, não há revelação e não pode haver ato de fé. Se Deus existe e revela algo ao homem, mas esse algo revelado não é dogma, mas opinião pessoal sujeita à interpretação livre de cada indivíduo humano, então tampouco pode haver ato de fé. O ateísmo que elimina Deus do horizonte humano, impossibilita toda autoridade pessoal absoluta e corta pela raiz o ato de fé. O deísmo, que nega que Deus se revele aos homens, priva o ato de fé de todo objeto possível. Por último o protestantismo, que concede a cada homem o direito de ouvir por si mesmo a palavra de Deus e tirar dela para si mesmo o ensinamento que quiser e puder, anula também o ato de fé. Porque conceder que a revelação de Deus esteja sujeita à interpretação de cada homem é proclamar o caráter subjetivo do conteúdo revelado (dogma). Mas um dogma subjetivo não é dogma. Uma verdade subjetiva é uma verdade não verdadeira, é uma contradição. A verdade não pode ser subjetiva sem deixar de ser verdade. Se cada homem pode tirar da palavra divina o que lhe aprouver, então sobre o que recai o ato de fé? Não sobre a palavra de Deus, mas sobre essa interpretação pessoal da palavra de Deus. Porém, se o ato de fé recai sobre a interpretação pessoal da palavra de Deus, então não é ato de fé perfeita, porque seu objeto já não está absolutamente ausente, mas foi elaborado pela inteligência humana e de certo modo incorporado com presença integral à área da razão. O subjetivismo do protestante substitui o ato de fé objetivo pelo sentimento religioso pessoal; converte a religião em diletantismo e a fé sólida em vago suspiro da alma.

Mas a dificuldade mais grave levantam-na os que negam a existência de Deus ou a revelação de Deus. Na realidade podem ambas juntar-se num mesmo grupo. O ateísmo e o deísmo negam ambos que "haja" revelação. O primeiro porque nega que "haja" quem revele, o segundo porque nega que Deus queira revelar e até que possa revelar. Mas se examinamos a razão de por que o ateísmo nega a existência de Deus e o deísmo a existência da revelação, descobrimos imediatamente que as razões de ambas negações são no fundo idênticas, são uma e a mesma razão; esta: que o entendimento humano não pode demonstrar que haja Deus nem que haja revelação. A impossibilidade de demonstrar que existam Deus e a revelação é, pois, o motivo comum que leva os ateus, panteístas e deístas a eliminar radicalmente da vida humana o ato de fé.

Sua origem idealista.
Não é nosso objeto nesta lição discutir estas posições filosóficas. Foram há muito tempo estudadas, julgadas e condenadas. Nosso propósito é descobrir a hipótese, absolutamente gratuita e infundada, sobre que se baseiam. E agora já podemos vislumbrar esta hipótese. Os elementos ontológicos — objetivos — da fé, que nossa análise pôs em manifesto, são Deus, a revelação e o dogma. Mas também nossa análise, na parte subjetiva, naquilo que o ato de fé tem de puro ato, nos fez saber que estes objetos da fé estão "absolutamente ausentes" da área mental do homem, e precisamente por isso são objetos de fé. A razão humana pode chegar até conhecer que Deus existe, mas não pode passar a conhecer por si só aquilo que Deus é na intimidade de sua essência. A íntima essência de Deus, da revelação e do dogma são, pois, objetos de fé perfeita, ou seja, objetos "absolutamente ausentes" da área mental humana. Pois bem; a hipótese sobre que, mais ou menos explicitamente, se baseia o ateísmo, o panteísmo e o deísmo etc, é: que aquilo que está absolutamente ausente da área mental humana não existe. No fundo de todas estas doutrinas filosóficas palpita esta suposição primeira: que não existe mais do que aquilo que está presente no pensamento. Somente partindo desta suposição, seria, com efeito, louvável o raciocínio do ateísmo e do deísmo; os quais pretendem demonstrar a não existência de Deus e da revelação derivando-a de sua "ausência absoluta" da área mental humana. Visto que o homem — dizem — não pode conceber clara e distintamente aquilo que é Deus e a revelação, não existem nem Deus nem a revelação. Isto implica no tácito porém muito operante postulado de que aquilo que não pode conceber-se clara e distintamente no intelecto, não é, não existe.

Este postulado não é outra coisa que o princípio do chamado "idealismo" filosófico. Nenhuma posição, porém, é mais gratuita e infundada do que esta. Identificar a realidade total com a realidade pensada constitui uma atitude que nada avaliza e que muitas considerações menoscabam e destroem. Eu me conheço a mim mesmo como pensante. Porém nem eu sou somente um ser pensante nem há em mim nada que me autorize a identificar todo o ser com o pensamento. Isto é, todavia, o que faz Descartes, e atrás dele todo o idealismo, que, de uma ou outra forma, foi a parte mais importante e influente da filosofia chamada moderna. Para esta filosofia, pois, ser real é ser objeto do pensamento, e aquilo que não é nem pode ser objeto do pensamento não tem realidade. Mas, visto que o objeto do ato de fé própria e perfeita é um objeto "absolutamente ausente", que não pode ser por essência objeto do pensamento humano, não tem realidade alguma; o ato de fé perfeita, é, pois, inválido por falta de objeto real. Seu objeto é simplesmente ilusório, fictício e inventado.

Este postulado do idealismo filosófico nos dá a clave de por que a filosofia chamada moderna admite os atos de fé imprópria e imperfeita e rejeita os atos de fé própria e perfeita. Os primeiros, com efeito, não são autênticos atos de fé; atrás deles, avalizando-os, há atos de juizo evidente; têm, pois, objetos relativamente presentes à área do intelecto, objetos reais, que a razão pensa. Os atos de fé perfeita, pelo contrário, têm objetos que se encontram absolutamente o essencialmente fora do âmbito do pensar claro e distinto, ou seja, objetos que segundo o postulado idealista não existem, não são.

Este postulado do idealismo filosófico nos dá a chave de por que haja podido dar forma, durante algum tempo, aos esforços da filosofia moderna, não é em si mesma uma posição sólida e permanente. O ser — a realidade — refere-se evidentemente a nós com amplidões tais que ultrapassam de muito as fronteiras do pensamento claro e distinto. O idealismo filosófico é hoje em dia, no mundo, um postulado caduco e superado. A ontologia ou teoria do ser não se esgota, nem muito menos, em pura lógica ou teoria do conhecimento. Nem o ser pode reduzir-se a um só modo de ser, ao modo inteligível de ser. Longe disso, o ser designa uma vasta variedade de modos, que são irredutíveis uns aos outros, e cuja descrição corre a cargo da ontologia. Para nos limitarmos a um exemplo — que toca de soslaio em nosso tema — podemos distinguir facilmente entre o ser ideal, o sei físico, o ser vivente, o ser histórico e o ser sobrenatural. E cada um desses modos de ser mantém com o pensamento uma relação completamente diferente. O ser ideal que é o ser próprio dos objetos matemáticos, das relações e das essências, se oferece ao pensamento total e integralmente; é o ser que se acha absolutamente presente e resulta por isso cognoscível com plenitude de evidência racional. O ser físico oferece já à contemplação racional um resíduo refratário à plena evidência; há no ser físico, na matéria, um fundo último de contingência que pode reduzir-se pouco a pouco a pensamento claro, mas que nunca desaparece totalmente. O ser vivente entra, como o físico no âmbito do pensamento evidente; mas também deixa um resíduo que transcende da evidência racional e alude já a desígnios da Providência inescrutável. O ser histórico deixa-se conhecer em parte, na parte que tem de fato físico, material. Mas sua interpretação científica já levanta problemas que apontam por alto e além das faculdades intelectuais do homem. Por último esta gradação de realidades, que desde a ideal, passando pela física, a vivente e a histórica, vão cada vez mais excedendo e ultrapassando a área da inteligência humana, culmina na realidade sobrenatural, a qual já está toda ela totalmente fora da capacidade mental do homem. Mas que esteja fora do pensamento evidente não quer dizer que não seja, que não exista. Quer dizer tão-somente que não pode ser conhecida "naturalmente" pelo homem; quer dizer que não é acessível aos órgãos com que racionalmente conhece o homem as outras realidades. Porém Deus quis dá-la a conhecer ao homem por outros meios: a revelação. Foi este um dom gratuito de Deus ao homem. E mercê deste dom, o homem dispõe de um conhecimento daquilo que, naturalmente, não poderia conhecer, e tem para conhecê-lo um órgão, que é propriamente 0 ato de fé. Rigorosamente falando, pois, pode dizer-se que o ato de fé é um método adequado ao conhecimento da realidade sobrenatural, como a intuição intelectual é o método adequado ao conhecimento da realidade ideal; a experimentação, o adequado ao conhecimento da realidade física; a teologia, o adequado à realidade vivente e a biografia o adequado à realidade histórica. Assim o ato de fé, Pode integrar-se, como peça de função e sentido próprios, na nova lógica do conhecimento, que o pensamento atual há de construir necessariamente sobre a nova ontologia realista, que substitui ao postulado, já obsoleto, do idealismo filosófico. [Morente]

Submitted on 18.06.2009 16:20
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