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Léxico Filosofia

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categorias

Definition:
gr. kategoriai platônicas, eidos 13; aristotélicas e plotinianas, genos; matéria não incluída em, hyle 1; listas aristotélicas, kategoriai; ser, uno, e bem definidos analogicamente através de todas as categorias, on 3 [FEPeters]


(gr. kategoria; lat. praedicamentum; in. Category; fr. Catégorie; al. Kategorie; it. Categoria).

Em geral, qualquer noção que sirva como regra para a investigação ou para a sua expressão linguística em qualquer campo. Historicamente, o primeiro significado atribuído às categorias é realista: elas são consideradas determinações da realidade e, em segundo lugar, noções que servem para indagar e para compreender a própria realidade. Foi essa a concepção de Platão, que as chamou de "gêneros supremos" e enumerou cinco desses gêneros, a saber: o ser, o movimento, o repouso, a identidade e a alteridade (Sof., 254 ss.). Assim como alguns desses gêneros estão interligados e outros não, também as partes do discurso, isto é, as palavras, se interligam, e quando essa mescla corresponde à real, o discurso é verdadeiro; caso contrário é falso (Ibid., 263 ss.). Essa correspondência entre a realidade e o discurso, através das determinações categoriais, é também a base da teoria da Aristóteles. Este, porém, parte de um ponto de vista linguístico: as categorias são os modos em que o ser se predica das coisas nas proposições, portanto os predicados fundamentais das coisas. Enumera dez categorias, exemplificando como segue: 1) substância, p. ex.: homem ou cavalo; 2) quantidade, p. ex.: dois côvados; 3) qualidade, p. ex. branco; 4) relação, p. ex.: maior; 5) lugar, p. ex.: no liceu; 6) tempo, p. ex.: ontem; 7) posição, p. ex.: está sentado; 8) ter, p. ex.: usa sapatos; 9) agir, p. ex.: cortar; 10) sofrer, p. ex.: ser cortado (Top., I, 9, 103 b 20 ss.; Cal, 1 b 25 ss.). A relação entre as categorias e o ser é assim explicada: "Porquanto a predicaçâo afirma às vezes o que uma coisa é, às vezes a sua qualidade, às vezes a sua quantidade, às vezes a sua relação, às vezes aquilo que faz ou o que sofre e às vezes o lugar onde está ou o tempo, segue-se que tudo isso são modos do ser" (Met., V, 7, 1017 a 23 ss.). Esse conceito de categoria como determinação pertencente ao próprio ser e do qual o pensamento deve servir-se para conhecê-lo e exprimi-lo em palavras durou muito tempo; e por muito tempo as escolas filosóficas ou os filósofos só discordaram quanto ao número ou a distinção das categorias. Assim, os estoicos reduziram-nas a quatro: substância, qualidade, modo de ser e relação (Simplício, In Cat., f. 16 d). Plotino retornou aos cinco gêneros supremos de Platão (Enn., VI, 1, 25). Na Idade Média, a única alternativa à doutrina do fundamento real das categorias é o seu caráter puramente verbal, defendido pelo nominalismo. Ockham afirma claramente que as categorias não passam de signos das coisas, signos simples com os quais podem ser constituídos "complexos" verdadeiros ou falsos (De corpore Christi, 15; In Sent., I, d. 30, q. 2,1). Portanto, a distinção das categorias não implica uma distinção paralela entre os objetos reais, já que nem sempre a conceitos ou a palavras distintas correspondem coisas distintas. As categorias de substância, qualidade e quantidade, embora distintas como conceitos, significam a mesma coisa (Quodl., V, q. 23). Essa negação radical da realidade das categorias deriva da negação total que o nominalismo medieval fazia de qualquer realidade universal. Esse ponto de vista equivale a considerar as categorias como simples nomes que se referem a classes de objetos.

A doutrina de Kant nada tem a ver com esse nominalismo, embora também negue o realismo da concepção clássica. Para Kant as categorias são os modos pelos quais se manifesta a atividade do intelecto, que consiste, essencialmente, "em ordenar diversas representações sob uma representação comum", isto é, em julgar. Elas são, portanto, as formas do juízo, isto é, as formas em que o juízo se explica, independentemente do seu conteúdo empírico. Por isso, as categorias podem ser extraídas das classes do juízo, enumeradas pela lógica formal. "Desse modo", diz Kant, "surgem tantos conceitos puros do intelecto, que se aplicam a priori ao objetos da intuição em geral, quantas eram as funções lógicas em todos os juízos possíveis no quadro precedente (isto é, na classificação dos juízos); porque as chamadas funções esgotam completamente o inelecto e põem à prova o seu poder" (Crít. R. Pura, Anal. dos conceitos, § 10). As categorias são os conceitos primitivos do intelecto puro e condicionam todo o conhecimento intelectual e a própria experiência; mas elas não se aplicam às coisas em si, e o conhecimento que delas se vale (isto é, todo o conhecimento humano) não pode estender-se, portanto, a tais "coisas em si" ou "númenos". As categorias são, todavia, condições da validade objetiva do conhecimento, isto é, do juízo em que o conhecimento se concretiza. Com efeito, um juízo é uma conexão entre representações, mas tal conexão não é subjetiva, logo não vale só para o sujeito isolado que a efetua, mas é feita em conformidade com uma categoria, isto é, segundo um modo, uma regra que é igual para todos os sujeitos e que, portanto, confere necessidade e objetividade àquilo a que se ligou na percepção (Prol, § 22). A doutrina de Kant sobre as categorias pode, por isso, ser reduzida a dois pontos fundamentais: 1) as categorias dizem respeito à relação sujeito-objeto e, por isso, não se aplicam a uma eventual "coisa em si" que esteja fora dessa relação; 2) as categorias constituem as determinações dessa relação e são, portanto, válidas para qualquer ser pensante finito. Kant enumerava doze categorias, correspondentes às doze classes de juízos: 1) categoria de quantidade, unidade, multiplicidade, totalidade; 2) categoria de qualidade. realidade, negação, limitação; 3) categoria de relação-, inerência e subsistência (substância e acidente), causalidade e dependência (causa e efeito), comunhão (ação recíproca); 4) categoria de modalidade. possibilidade-impossibilidade, existência-inexistência, necessidade-contingência. O conceito kantiano das catewgorias continuou prevalecendo na filosofia moderna e contemporânea, se bem que mesmo os filósofos mais estritamente kantianos não tenham entrado num acordo sobre o "quadro" das categorias. Em geral, os neocriticistas procuraram simplificar e unificar esse quadro; Renouvier, p. ex., considerou fundamental a categoria relação (já que a consciência é relação) e considerou as outras (número, extensão, duração, qualidade, devir, força, finalidade, personalidade) como determinações e especificações dela (Essai de critique générale, I, 1854, pp. 86 ss.). E Cohen considerou como categoria fundamental a do sistema, porque a unidade do objeto, em que se funda a unidade da natureza, é uma unidade sistemática (Logik, p. 339). Mas, embora não tenha havido filósofo de inspiração kantiana que não tenha desejado criar seu quadro de categoria, o conceito kantiano permaneceu inalterado para toda a parcela da filosofia moderna que se inspira em Kant. Todavia, esse conceito não é o único na filosofia moderna e contemporânea. O conceito tradicional de categoria como "determinação do ser" foi retomado pelo idealismo romântico e, em especial, por Hegel. Este considera as categorias como "determinações do pensamento" e atribui a Fichte o mérito de haver afirmado a exigência da sua "dedução", isto é, da demonstração da sua necessidade (Enc., § 43). Mas na verdade, para Hegel, as determinações do pensamento são, simultaneamente, as determinações da realidade (pela identidade, por ele formulada, entre realidade e razão) e, habitualmente, chama essas determinações de "momentos", e não de categoria A única categoria que ele reconhece verdadeiramente como tal é a própria realidade-pensamento, isto é, a autoconsciência, o eu ou a razão. Em Fenomenologia (I, cap. V, § 2), diz: "O eu é a única essencialidade pura do ente ou a categoria simples. A categoria, que de outro modo tinha o significado de ser a essencialidade do ente, essencialidade indeterminada do ente em geral ou do ente contra a consciência, agora é essencialidade ou simples unidade do ente, considerado apenas como realidade pensante: ou seja, a categoria consiste no fato de autoconsciência e ser serem a mesma coisa". Quer dizer: a categoria não deve ser considerada como uma determinação do ser em geral, mas como a consciência e, portanto, a própria realidade. Essa teoria do eu e da consciência ou do espírito como única categoria permaneceu lugar-comum de todas as formas de idealismo romântico. Simetricamente oposta à de Hegel é a doutrina de Heidegger, para quem a categoria não é a determinação da autoconsciência ou do eu, mas do ser das coisas. Heidegger faz a distinção entre os existenciais (Existentialen), que são as determinações do ser e da realidade humana, do ser-aí (Dasein), e as outras categorias, que são "determinações do ser dos entes não conformes ao ser-aí": isto é, determinações do ser das coisas (Sein und Zeit, § 9).

Na filosofia contemporânea, encontra-se tanto a retomada da concepção clássica e da concepção kantiana da categoria, quanto novas generalizações sobre seu significado: 1- A concepção clássica da categoria como "determinação do ser" é retomada por N. Hartmann, que considera as categorias como as estruturas necessárias do ser em si. Tais estruturas produzem a estratificação do mundo numa série de planos. Existem as categorias fundamentais, que pertencem a todos os planos do ser, e que são as categorias modais; há as categorias bipolares (qualidade-quantidade; contínuo-descontínuo; forma-matéria, etc.) e, em terceiro lugar, as categorias do real, que determinam os caracteres da realidade efetiva e que se dividem em quatro grupos, correspondentes ao princípio do valor, ao princípio da crença, ao princípio da planificação e ao princípio da dependência (Aufbau der realen Welt, 1940). 2a A concepção kantiana de categoria como condição do objeto e o encaminhamento para a concepção instrumental da categoria unem-se na doutrina de Husserl. Para ele, a noção de categoria vincula-se à de região ontológica e designa o conceito que serve para definir uma região em geral ou o que entra na definição de uma região particular (p. ex., "a natureza física"). Os conceitos que entram na definição de uma região em geral — e por isso são empregados nos axiomas lógicos — são chamados por Husserl de "categoria lógicas", ou "categoria da região". São os conceitos de propriedade, qualidade, relação de coisas, relação, conjunto, número, etc. Têm afinidade com essas categorias as chamadas "categoria do significado", inerentes à essência da proposição. categoria lógicas e categoria do significado são analíticas. Já os conceitos que entram na constituição dos axiomas regionais são chamados por Husserl de categoria sintéticas. "Os conceitos fundamentais sintéticos ou categorias", diz Husserl, "são os conceitos regionais fundamentais (referem-se por essência a uma região determinada e aos seus princípios sintéticos), de tal modo que há tantos grupos distintos de categoria quantas são as regiões" (Ideen, I, § 16). Para Husserl, as categorias têm sempre caráter objetivo, já que as regiões ontológicas, cujos axiomas servem para exprimir, são as formas da objetividade: ou da objetividade em geral ou de uma objetividade específica. Também existem, portanto, "categoria do substrato" (Ibid., § 14), que se diferenciam das precedentes categorias "sintáticas" (isto é, derivadas) porque se referem a substratos inderiváveis, isto é, de natureza concreta e individual: a essência material e o "este aqui", que, no fundo, é o indivíduo (Ibid., § 16). Nessa concepção husserliana de categoria, prevalecem os traços realistas, embora o objeto ou as regiões ontológicas de que Husserl fala ainda sejam objetos da intencionalidade da consciência. 3) Em algumas outras correntes da filosofia contemporânea, como p. ex. no empirismo lógico, as categorias são consideradas regras convencionais que regem o uso dos conceitos. Assim, p. ex., Ryle chama de "tipo ou categoria lógica de um conceito o conjunto de modos nos quais, por convenção, é lícito utilizar o termo respectivo" (Concept of Mind, Intr., trad. it., p. 4). Essa é, certamente, a noção menos dogmática e mais geral de categoria que a filosofia propôs até hoje, mas ainda contém certo dogmatismo, pois limita as categorias às já estabelecidas pelo uso linguístico comum, negando implicitamente a validade de qualquer nova proposta. Contudo, cientistas, filósofos e pesquisadores em geral sempre exerceram o direito de propor novas categorias, isto é, novos instrumentos conceituais de investigação e de expressão linguística. Donde a necessidade de formular a noção de categoria exatamente como a de tal instrumento: noção que, além de tudo, tem a vantagem de caracterizar igualmente bem a função efetiva de todos os conceitos de categoria historicamente propostos. [Abbagnano]


Os conceitos que a todos nós convém precisar em Aristóteles referem-se à estrutura do ser. A estrutura do ser vamos dividi-la para sua exposição em três problemas: primeiramente, a estrutura do ser em geral; em segundo lugar, a estrutura da substância, e em terceiro lugar, a estrutura daquilo que poderíamos chamar a realização. Vamos estudar, pois, sucessivamente no sistema aristotélico essas três estruturas do ser em geral, da substância, e da realização.

A estrutura do ser em geral é um problema que obsedou a Aristóteles. Em diferentes passagens de sua Metafísica aborda esse problema e o larga logo depois. É um problema muito difícil. Aristóteles teve a sensação clara de sua dificuldade. E num lugar, no começo da Lógica, no livro das Categorias, faz esta arremetida, e talvez seja a arremetida mais forte que faz Aristóteles do problema do ser, tanto que nesse momento propõe pela primeira vez na história da filosofia uma questão que, desde então, não cessará, até nossos dias inclusive, de ser estudada pelos filósofos: a questão compreendida sob este nome dê "categorias" Aristóteles quer penetrar na estrutura mesma do ser, e o faz em diferentes lugares e com diferentes intenções em sentidos distintos. Neste livro das Categorias chega a precisar com bastante exatidão o que ele entende por estrutura do ser. Ele quer encontrar aqueles pontos de vista dos quais podemos considerar qualquer ser, o ser em geral, e pretende fixá-los conceptualmente. Mas como Aristóteles está profundamente imbuído do postulado parmenídico da identidade entre o ser e o pensar, estes nossos pontos de vista, desde os quais podemos focalizar a contemplação do ser, aparecem-lhe imediata e indistintamente como propriedades objetivas do próprio ser. É assim que as categorias vão ser, para Aristóteles, tanto diretrizes do pensamento lógico como aspectos reais, embora gerais, de todo o ser em geral.

Vamos começar tomando as categorias no seu aspecto lógico. Se nos encontrarmos ante uma realidade, um ser, e nos perguntarmos quais são os diferentes pontos de vista nos quais podemos nos situar para dizer desse ser aquilo que é, então acharemos um certo número de modos, maneiras de predicar o ser, maneiras de atribuir ao sujeito um predicado. A primeira maneira de atribuir ao sujeito um predicado chama-a Aristóteles "substância". Já conhecemos este termo. A substância é a primeira categoria que ele enumera na sua lista: é o ponto de vista no qual nos situamos para dizer que algo "é": este é o homem, este é cavalo, este é peixe. Quando dizemos de algo que é isto ou aquilo, aquilo que é, então consideramos este algo como uma substância e o que dele dizemos isto é ele.

Mas não nos colocamos somente neste ponto de vista. Vem um segundo ponto de vista. De algo que é real podemos também predicar o muito e o pouco, podemos dizer de um homem que é grande ou pequeno; podemos dizer de um cavalo que é grande ou pequeno; de uma coleção de coisas que são muitas ou poucas. De sorte que temos aqui outro ponto de vista do qual focalizamos o ser e que Aristóteles chama a "quantidade".

Mas qualquer ser pode ser ainda focalizado de um terceiro ponto de vista. Depois de ter dito o que é e quanto é, ainda podemos dizer que é vermelho, verde, nobre, ignóbil, feio, bonito, Este é o ponto de vista que Aristóteles chama a "qualidade".

Logo consideramos os seres uns em relação aos outros. De um ser podemos predicar igualmente que é maior do que outro, menor do que outro, igual a outro. A este tipo de predicação chama Aristóteles "relação".

Podemos, ainda, ante um ser tentar determinar onde está, e dizer: está aqui ou lá, em Atenas. A este ponto de vista sobre qualquer ser chama Aristóteles "lugar".

Do mesmo modo temos o ponto de vista do "tempo". De um ser podemos predicar quando é, quando deixa de ser, quando foi. Podemos dizer que é agora e continua a ser ou que deixou de ser.

Outro ponto de vista é determinar em um ser aquilo que esse ser faz. Dizemos de um machado que é cortante; dizemos de uma semente que germina. A este ponto de vista chama Aristóteles "ação".

E, por último, de qualquer ser podemos também predicar, não o que ele é, mas o que ele padece, o que ele sofre; a árvore é cortada; o homem é morto. A esse ponto de vista chama Aristóteles "paixão".

Teremos, por conseguinte, esta lista de oito categorias que acabo de enumerar e que são: substância, quantidade, qualidade, relação, lugar, tempo, ação e paixão. Em certas passagens acrescenta mais duas que desaparecem em outras passagens, e que são a "posição", ou seja, dizer de um ser que está deitado, sentado, erguido etc, e o "estado" que quer dizer um ser que, por exemplo, está armado ou desarmado. Que está florescido ou sem florescer, seco ou úmido. Estas duas últimas devem ter produzido na mente de Aristóteles dificuldades de caráter metafísico e lógico, porque às vezes as suprime; e a tradicional lista das categorias que se encontra em qualquer história da filosofia restringe-se às oito que enumerei.

O problema proposto aqui por Aristóteles pela primeira vez ó extraordinariamente interessante. É o problema da estrutura do ser. Já Aristóteles considera que esta estrutura do ser é, ao mesmo tempo, estrutura do pensar; quer dizer, que já Aristóteles dá às categorias um sentido ao mesmo tempo lógico e ontológico. Do ponto de vista lógico, chama-as predicáveis ou predicamentos: são os atributos mais gerais que se podem fazer na formação de juízos. Do ponto de vista ontológico considera-as como as formas elementares de todo ser, como aquelas formas que, impressas na matéria, constituem o mínimo de forma necessária para que o ser seja.

Essas duas concepções — a ontológica e lógica — fundemse em Aristóteles; não adverte claramente que possam separar-se. não considera real, possível, que se cindam, e que as categorias sejam consideradas por uns como elementos primários da realidade e por outros como elementos primários do pensamento.

A lista oferece, sem dúvida, o flanco a um grande número de críticas. Lembrarei simplesmente que Kant lhe fez uma objeção de certa importância, mas que está inspirada, precisamente pelas ideias próprias que Kant tem das categorias. A objeção de Kant foi que as categorias de Aristóteles não estão deduzidas de um princípio geral do qual fossem extraídas metodicamente, mas estão numeradas ao acaso. Com efeito, estas categorias de Aristóteles não as deduz ele de nenhum princípio; o que faz é enumerá-las. Ele próprio se coloca, por assim dizer, na atitude intuitiva daquele que vai predicar algo acerca do ser e ele próprio vai sucessivamente situando-se nos distintos pontos de vista. A prova de que não são pontos de vista deduzidos é que tanto faz serem oito ou dez, faltando os últimos dois que às vezes põe e as vezes tira. Mas esta é uma censura que se deve poupar a Aristóteles, visto ser a primeira vez que se levanta no mundo este problema das categorias.

Outra censura, talvez não tão leviana como esta de Kant, é a que se poderia fazer a Aristóteles (e com efeito, também lhe foi feita muitas vezes) de que inclui entre as categorias a substância; não somente a inclui, como também lhe dá o primeiro lugar. A substância, todavia, não é uma categoria; a substância não é um ponto de vista de onde consideramos o ser, visto que a substância é o ser mesmo; é aquilo que consideramos de diferentes pontos de vista. Não é, pois, um ponto de vista sobre o ser, mas é o ser mesmo. Esta é, com efeito, uma falta em Aristóteles; porém é uma falta muito instrutiva, porque se vê que Aristóteles é guiado ao mesmo tempo pela ideia lógica e mitológica. E como aquilo que ele tenta determinar são as estruturas elementares do ser e do pensar, acha que a primeira coisa que de algo se pode dizer é aquilo que isso é: a substância. E então coloca a substância entre as categorias.

Este problema das categorias há de ser um dos que mais nos ocuparão nas lições próximas, porque é justamente a encruzilhada em que as teses metafísicas do realismo e do idealismo vão separar-se: a tese do realismo considerará sempre as categorias como elementos ontológicos do próprio ser, enquanto que o idealista considerará as categorias como unidades sintéticas do pensamento, quer dizer, do pensamento que constitui fora de si a noção do ser. [Morente]


Classificava-as da seguinte forma:

a) o ser como existir em si, categoria da substância (ousia);

b) os modos de ser do ser que existe em si (substância), o que lhe sucede, o que se lhe ajunta, symbebekota (v. symbebekos) que na filosofia escolástica foi substituída pelo termo acidente, mais expressivo, do verbo cadere, e da preposição ad, cair para diante, suceder.

Os acidentes são, portanto, os modos de ser da substância, os modos de ser que acontecem as substâncias.

Em grego

em latim

em português

ousia

substantia (essentia)

substância (essência)

posón

quantitas

a quantidade

poisón

qualitas

a qualidade

prós ti

relatio

a relação

pou

ubi

lugar (espaço)

pote

quando

o tempo

keísthai

situs

a situação

éxein

habitus

a maneira de ser

poiein

actio

a ação

paskein

passio

a paixão (a determinabilidade, potência).



O ser está no fundo de todas as coisas, pois todas as coisas (todos os entes) estão insertos no ser. O ser de um ente é a sua substância e todas as outras categorias estão insertas nele de certo modo. A substância é o que existe em si mesmo, enquanto os acidentes existem em outro, (inaliedade).

Não reduz Aristóteles uma categoria a outra, mas elas se dão, juntas, na substância. A qualidade não é a quantidade, nem o tempo o espaço. Mas todo o objeto corpóreo tem uma quantidade e qualidade, e se dá no tempo e no espaço (cronotopicamente).

Como não têm um gênero superior, as categorias são lógico-formalmente indefiníveis.

Mas sofrem oposições, contradições e contrariedades. Entre os contrários, que afetam a todas as categorias, cita Aristóteles, o ser e o não-ser, o um e o múltiplo, o mesmo e outro, o semelhante e o dessemelhante, o igual e o desigual, a potência e o ato.

As quatro primeiras categorias são fundamentais, mas as outras são acessórias. As categorias de tempo e espaço, etc. só se aplicam aos seres corpóreos.

A essas dez categorias, acrescenta Aristóteles cinco categorias (praedicabilia) que as completam, que são: o gênero, (genos), a espécie (eidos), a diferença (diaphora), o próprio (idion) e o accidente, (symbebekos).

Tais conceitos compreendem diversas ordens de relações. Assim o homem é uma espécie em relação ao animal, e animal um gênero em relação ao homem. Em seus trabalhos finais, Aristóteles reduziu as categorias a três: substância, qualidade e relação, mais consentânea com os atuais conhecimentos da física, e reduzia a quantidade a qualidade, (o que São Tomás aproveitou e considerou como melhor). Entretanto em "Filosofia e Cosmovisão" e "Lógica e Dialética", já vimos que a redutibilidade do quantitativo ao qualitativo ou vice-versa, é decorrente de um vício abstratista do espírito humano. Por isso, a substituição que fizemos dessas categorias pelas de extensidade e de intensidade, (no cronotópico), mais dialéticas, a primeira por considerar a predominância do quantitativo sobre o qualitativo, e a segunda, a predominância do qualitativo sobre o quantitativo, apoiadas que são nos fatores de extensidade e de intensidade da física moderna, oferecem melhor campo de aplicação, pelo menos no que se refere ao mundo dos seres corpóreos.

Na primeira daquelas obras citadas, estudamos a classificação das categorias, proposta por Kant.

Fundamenta-as nas formas do entendimento, na faculdade de julgar. Nas operações complexas do operativo humano, as categorias as antecedem, e fundamentam os juízos.

Quadro dos juízos de Kant:

1) Quantidade: Juízo singular; Juízo particular; Juízo universal

2) Qualidade: Juízo afirmativo; Juízo negativo; Juízo infinito

3) Relação: Juízo categórico; Juízo hipotético; Juízo disjuntivo;

4) Modalidade: Juízo problemático; Juízo assertórico; Juízo apodítico

Correspondem a esses juízos as categorias seguintes:

1) Quantidade: unidade; pluralidade; totalidade

2) Qualidade: afirmação; negação; limitação

3) Relação: inerência (substância e acidente); causalidade (causa e efeito); comunidade (ação e reação)

4) Modalidade: Possibilidade e impossibilidade; Realidade e não-existência; Necessidade e contingência

Desta forma, cada uma das 4 categorias, que são as fundamentais, compreendem três outras. As duas primeiras incluem as categorias estáticas, e, as duas últimas, as categorias dinâmicas. As primeiras são simples e as outras são duplas, e possuem termos correlativos (são correlativos porque um depende do outro para afirmar-se, pois a substância exige acidentes, e vice-versa; a necessidade a contingência, a causa o efeito, etc). A terceira categoria, em cada classe, é uma síntese das duas anteriores, que são antitéticas, opostas portanto. A totalidade por ex. é a totalidade tornada unidade; a limitação é a realidade unida a negação; a necessidade é a existência real, deduzida da pura possibilidade.

Para esclarecimento: o que Kant considera como juízo infinito é aquela proposição em que é positiva sob uma relação, e negativa sob outra. Kant dá o exemplo com a seguinte proposição: a alma é não-mortal, o que quer dizer que a alma está contida no infinito das coisas que não são perecíveis.

A classificação de Kant é combatida. Assim, por ex., é acusado de ter visto apenas três tipos de relação, e ainda que é arbitrária a sua classificação e sobretudo forçada. (NA: Uma ampla análise do pensamento kantiano, oferecemos em nosso livro de próxima publicação "Os três juízos, de Kant".)

Volvendo aos primórdios da filosofia grega, recordemos as três categorias (a tríada) pitagórica: Absoluto substancial (ser); oposição (oposição dos vetores do ser) e relação. A reciprocidade entre as antinomias da oposição é uma relação entre os opostos. Todas as outras categorias são apenas gêneros das modalidades das três categorias fundamentais (arithmoi archai), sob as quais se pode compreender todos os entes.

Queremos findar este artigo por uma síntese esquemática das categorias aristotélicas, como a colocam os tomistas, sintetizada por Gredt. Mas antes, embora se coloque cronologicamente posterior, vamos estudá-las, segundo a posição de Hegel.

O ser apresenta três faces para Hegel: tese, antítese e síntese.

Como tese, o ser é posto ante si mesmo, e como tal, é um. Mas o ser coloca-se numa variedade de coisas, e como tal é múltiplo e cada elemento da variedade é antitético aos outros. O ser é posto finalmente como parte e como todo, é então síntese, como no organismo, por exemplo.

São esses os princípios fundamentais que presidem a determinação do ser. A tese põe, a antítese nega-o, e a síntese concilia o objeto com a sua negação. Tese e antítese formam os polos de uma oposição contraditória. A síntese é uma harmonia desses opostos. [MFS]

Submitted on 14.01.2010 19:21
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