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A Anthropologie
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Category:
Heidegger - Termos originais
Anthropologie
Definition:Anthropologie, Abgrenzung gegen die – § 10 [EtreTemps10]
anthropologie [EtreTemps]
anthropology [BT]
NT: Anthropology (Anthropologie), 200, 290; philosophical, 16-17, 47, 131; distinguished from analytic of Dasein and fundamental ontology, 45-50, 131, 194; existential a priori, 183, 301; Greek-Christian, 48-49, 190, 199 n. 7, 249 n. 6, 272 n. 8; Jaspers, 301 n. 17 [BTJS]
Desde Descartes, a metafísica ficou cada vez mais certa igualmente do lugar central do homem como subjectum, base firme e subsistente de toda a verdade. E se para Kant a questão «o que é o homem?» contém as outras três questões fundamentais da filosofia [Critique de la raison pure, A 805/B 833; e Heidegger, K.P.M. (trad.) pp. 263-264], é porque apenas o homem reúne as determinações fenomenais da natureza e numenais da liberdade. Já a metafísica grega tinha construído uma antropologia, mas referia a essência do homem à constituição do ser do ente na totalidade, segundo uma fórmula enunciada por Aristóteles: he psyche ta onta pos esti panta, «a alma é de algum modo todos os entes» [De anima, 431b 21; citado por Heidegger, GA65, p. 313]. «Qualquer coisa que o próprio homem é, comenta Heidegger, e que não obstante o ultrapassa e se estende para além dele, entra sempre em jogo para determinar o ente como tal no seu conjunto» [Ibid]. A psyche em Platão e Aristóteles, como o logos de Heráclito, pertence à essência «física», que move todas as coisas. A metafísica moderna da subjectividade oferece, pelo contrário, uma estrutura quer antropocêntrica, quer antropomórfica: quer o próprio homem esteja no centro, estabelecendo pelo seu juízo a norma do verdadeiro, do bem, do belo, fazendo comparecer todas as coisas perante o tribunal da sua representação, a fim de examinar e de fundar a legitimidade da sua apresentação, quer a essência do sujeito humano, a vontade, se torne — com o triplo desdobramento da vontade de saber, de amar, de poder — a essência mais íntima das coisas, o ser do ente. [HEH:15-16]
Porém, o conceito de Dasein introduz o atractivo de um descentramento da posição do homem, visto que o objectivo da analítica não é constituir uma nova antropologia, mas libertar uma via que permita colocar de novo a questão do ser. Desde a época do Ser e Tempo, a recusa da antropologia, tornada «uma espécie de depósito residual de todos os problemas filosóficos essenciais» [K.P.M., p. 269 (trad.)], está ligada à recusa de uma tradição esclerosada, enredada em recuperações sucessivas e incapaz de pôr a questão do sentido do ser e do que compõe a natureza humana: a «vida», a «consciência», a «razão». Se Heidegger escolheu o termo de Dasein evitando os de «homem» e de «sujeito», foi antes de mais para não retomar os pressupostos e os preconceitos que estes termos veiculam, pois o Dasein é, com toda a certeza, completamente diferente do homem-sujeito da metafísica moderna. Ele caracteriza-se por uma relação consigo mesmo que é, de imediato, relação com o ser. O Dasein, com efeito, relaciona-se com o seu ser como tendo do ser esse ser. «Para esse ente ele encontra aí no seu ser esse ser» [SZ:12]. Heidegger chama à relação particular que o Dasein mantém com o seu ser existência (Existenz). Ora esta relação não é fechada sobre si mesma. Ela implica «de um modo cooriginário» [SZ:13] a compreensão do «mundo» como conjunto de possibilidades práticas definidas, e a do ser do ente intramundano. O Dasein é «sempre meu» [SZ:42], mas esta «mesmidade» é ao mesmo tempo a sua abertura ao mundo. «Compreender o ser» como ser-do-mundo significa simultaneamente compreender o seu ser num «mundo» onde ele encontra entes que têm o seu modo de ser e entes que não têm. É de notar que esta polissemia do ser para o Dasein faz dele «o ente exemplar», a partir do qual a analítica poderá orientar-se para a questão do «ser enquanto tal». Assim, a abertura a si do Dasein não é do tipo da reflexão, porque esta abertura a si passa sempre pelo mundo. De um mesmo golpe, encontra-se minada a evidência tradicional do laço necessário entre o pensamento como representação e a interioridade. [HEH:17-18]
anthropologie [EtreTemps]
anthropology [BT]
NT: Anthropology (Anthropologie), 200, 290; philosophical, 16-17, 47, 131; distinguished from analytic of Dasein and fundamental ontology, 45-50, 131, 194; existential a priori, 183, 301; Greek-Christian, 48-49, 190, 199 n. 7, 249 n. 6, 272 n. 8; Jaspers, 301 n. 17 [BTJS]
Desde Descartes, a metafísica ficou cada vez mais certa igualmente do lugar central do homem como subjectum, base firme e subsistente de toda a verdade. E se para Kant a questão «o que é o homem?» contém as outras três questões fundamentais da filosofia [Critique de la raison pure, A 805/B 833; e Heidegger, K.P.M. (trad.) pp. 263-264], é porque apenas o homem reúne as determinações fenomenais da natureza e numenais da liberdade. Já a metafísica grega tinha construído uma antropologia, mas referia a essência do homem à constituição do ser do ente na totalidade, segundo uma fórmula enunciada por Aristóteles: he psyche ta onta pos esti panta, «a alma é de algum modo todos os entes» [De anima, 431b 21; citado por Heidegger, GA65, p. 313]. «Qualquer coisa que o próprio homem é, comenta Heidegger, e que não obstante o ultrapassa e se estende para além dele, entra sempre em jogo para determinar o ente como tal no seu conjunto» [Ibid]. A psyche em Platão e Aristóteles, como o logos de Heráclito, pertence à essência «física», que move todas as coisas. A metafísica moderna da subjectividade oferece, pelo contrário, uma estrutura quer antropocêntrica, quer antropomórfica: quer o próprio homem esteja no centro, estabelecendo pelo seu juízo a norma do verdadeiro, do bem, do belo, fazendo comparecer todas as coisas perante o tribunal da sua representação, a fim de examinar e de fundar a legitimidade da sua apresentação, quer a essência do sujeito humano, a vontade, se torne — com o triplo desdobramento da vontade de saber, de amar, de poder — a essência mais íntima das coisas, o ser do ente. [HEH:15-16]
Porém, o conceito de Dasein introduz o atractivo de um descentramento da posição do homem, visto que o objectivo da analítica não é constituir uma nova antropologia, mas libertar uma via que permita colocar de novo a questão do ser. Desde a época do Ser e Tempo, a recusa da antropologia, tornada «uma espécie de depósito residual de todos os problemas filosóficos essenciais» [K.P.M., p. 269 (trad.)], está ligada à recusa de uma tradição esclerosada, enredada em recuperações sucessivas e incapaz de pôr a questão do sentido do ser e do que compõe a natureza humana: a «vida», a «consciência», a «razão». Se Heidegger escolheu o termo de Dasein evitando os de «homem» e de «sujeito», foi antes de mais para não retomar os pressupostos e os preconceitos que estes termos veiculam, pois o Dasein é, com toda a certeza, completamente diferente do homem-sujeito da metafísica moderna. Ele caracteriza-se por uma relação consigo mesmo que é, de imediato, relação com o ser. O Dasein, com efeito, relaciona-se com o seu ser como tendo do ser esse ser. «Para esse ente ele encontra aí no seu ser esse ser» [SZ:12]. Heidegger chama à relação particular que o Dasein mantém com o seu ser existência (Existenz). Ora esta relação não é fechada sobre si mesma. Ela implica «de um modo cooriginário» [SZ:13] a compreensão do «mundo» como conjunto de possibilidades práticas definidas, e a do ser do ente intramundano. O Dasein é «sempre meu» [SZ:42], mas esta «mesmidade» é ao mesmo tempo a sua abertura ao mundo. «Compreender o ser» como ser-do-mundo significa simultaneamente compreender o seu ser num «mundo» onde ele encontra entes que têm o seu modo de ser e entes que não têm. É de notar que esta polissemia do ser para o Dasein faz dele «o ente exemplar», a partir do qual a analítica poderá orientar-se para a questão do «ser enquanto tal». Assim, a abertura a si do Dasein não é do tipo da reflexão, porque esta abertura a si passa sempre pelo mundo. De um mesmo golpe, encontra-se minada a evidência tradicional do laço necessário entre o pensamento como representação e a interioridade. [HEH:17-18]
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