objeto adequado da inteligência

Category: Termos chaves da Filosofia
Submitter: Murilo Cardoso de Castro

objeto adequado da inteligência

Se nossa inteligência se encontrasse estritamente limitada a seu objeto próprio, nada poderia conhecer além da essência das coisas materiais, assim como a vista só pode perceber a extensão colorida. Mas, fundamentalmente, nossa alma, que é espiritual, tem uma abertura ilimitada. A experiência, aliás, testemunha que temos um certo conhecimento de coisas que estão fora do objeto em questão: atingimos assim o singular e, em uma ordem superior, especulamos sobre as substâncias separadas. Nem todas as possibilidades de nossa inteligência encontram-se, portanto, determinadas por seu objeto próprio e deve levar-se em consideração, para ela, um objeto mais compreensivo, objeto adequado, isto é, que corresponda à abertura total da potência.

O objeto adequado da inteligência humana é o ser considerado em toda a sua amplitude.

Esta tese já foi demonstrada em Metafísica. Basta-nos aqui lembrar que sua conclusão deriva principalmente da análise do juízo, que nos manifesta que o ser é o que, por primeiro, se atinge nas coisas; "esta coisa que eu percebo é": tal é a primeira constatação da inteligência.

Ora, somos levados a reconhecer que o ser assim atingido não é limitativamente tal ser ou tal gênero de ser; não importa qual, fala-se simplesmente do ser, de tudo o que pode ser compreendido nesta noção. Por isso, o ser real ou o ser de razão, o ser atual ou o ser possível, o ser natural ou o ser sobrenatural estão, de si, incluídos no campo de nossa inteligência, como também de qualquer outra inteligência, porque a inteligência manifesta-se como a faculdade do ser.

Entretanto a inteligência humana não atinge da mesma maneira o que pertence e o que não pertence a seu objeto próprio.

Uma dificuldade aqui se coloca: para que, com efeito, reconhecer um objeto especial à nossa inteligência, se esta faculdade é efetivamente capaz de se estender além do mesmo?

É preciso responder que só a "quididade" das coisas sensíveis, isto é, o objeto próprio, é apreendida diretamente em sua natureza específica. As outras coisas são atingidas só mediatamente ou por intermédio do objeto próprio, ou então de modo relativo, ou por analogia, quando se trata de realidades transcendentes.

Segue-se que, sempre aberta a todo o ser, nossa inteligência é especificada, em seu modo de atividade, pelo conhecimento das essências materiais. O imaterial só pode assim ser representado a partir da concepção que formamos dos corpos, condição evidentemente muito inferior para um espírito e que nos situa, gosta Tomás de Aquino de o repetir, no último degrau da escala das inteligências.

Corolário: unidade da faculdade intelectual.

Em razão de sua amplitude ilimitada, a inteligência não precisará, como o sentido, ser dividida em várias potências: a noção de ser envolve e domina todas as distinções de objetos. Certas diversidades nas denominações não devem portanto nos enganar. Assim:

- A razão (inteligência discursiva) não é realmente distinta da inteligência (inteligência intuitiva), comparando-se o ato da razão com o ato da inteligência como o movimento ao repouso, os quais devem ser relacionados a uma mesma potência (Ia Pa, q. 79, a. 8).

- O intelecto prático (faculdade diretora da ação) não é realmente distinto do intelecto especulativo (faculdade do conhecimento puro) pois o que se relaciona apenas acidentalmente ao objeto de uma potência não é princípio de diversidade para esta potência; ora, é acidental ao objeto da inteligência o fato de ser ordenado à operação (Ia Pa, q. 79, a. 2) .

- Pelo mesmo motivo não se admitirá, com Tomás de Aquino, a existência de uma memória intelectual realmente distinta da inteligência, pois a "razão do passado", que caracteriza a memória, é acidental com relação ao objeto da inteligência; esta faculdade, como simples potência, basta portanto à conservação e à reprodução das "species" (Ia Pa, q. 79, a. 6).

Só subsistirá, como realmente separada, a dupla intelecto agente - intelecto passivo, não estando aqui a distinção em dependência do próprio objeto, mas do comportamento ativo ou passivo da potência (Ia Pa, q. 79, a. 7). [Gardeil]

Submitted on:  Thu, 10-Dec-2009, 17:03