sistema dos transcendentais

Category: Termos chaves da Filosofia
Submitter: mccastro

sistema dos transcendentais

Pode-se falar em filosofia tomista de um sistema de transcendentais? De fato, a elaboração à qual acabamos de proceder das grandes propriedades do ser não foi obtida de modo dedutivo. O recurso à experiência ou ao dado foi exigido em cada caso. Entretanto, uma vez que foram divididas, as propriedades transcendentais constituem um conjunto ordenado e verdadeiramente coerente no qual sequências necessárias de termos podem ser discernidas. Estas sequências, que já encontramos algumas vezes, são as seguintes

ser — não-ser — princípio de não contradição

ser (como existente) — ser (como essência) — princípio de identidade

ser — divisão — uno — múltiplo

ser — uno — verdadeiro

ser — ato — perfeito — apetecível — bem

Se tentarmos representar como o espírito é conduzido a encadear esta série de noções, somos levados a dizer que é por uma atividade de distinção ou de oposição (oposição que vai da contradição absoluta a simples relação). Como Hegel e Hamelin o pressentiram, a contradição possui, portanto, um papel absolutamente fundamental na vida do espírito: ela é como que o princípio mesmo do seu desenvolvimento Mas a oposição na filosofia realista se funda sempre sobre o dado, do qual não faz mais do que afirmar a diversidade antitética.

Quais são os aspectos mais notáveis desse sistema dos transcendentais? Primeiro que tudo, ele é realista, mais precisamente, ele se funda sobre o primado da noção de ser. Na linha do pitagorismo ou do platonismo, houve a tendência de se colocar acima do ser o bem ou o uno e de se considerar estas noções como princípios separados das coisas que deles só participam de longe. Com Tomás de Aquino, o dado primeiro é o ser, isto é o real; o uno e o bem não são mais do que suas propriedades. Por outro lado, se nessa doutrina há igualmente um Ser, dotado de unidade e bondade, do qual toda criatura é participante, a consistência metafísica dessas coisas no mundo não é com isso senão melhor afirmada. No duplo sentido que acabamos de definir, estamos em pleno realismo. Estando, assim, este realismo fortemente unificado. Graças à convertibilidade das noções transcendentais, a ordem do pensamento e a da ação, respectivamente comandadas pelo vero e pelo bem, se encontram no ser. E finalmente tudo se unifica no ser primeiro que é identicamente unidade, verdade e bondade.

Este realismo metafísico nos aparece, por outro lado, com o caráter de um intelectualismo. Tomás de Aquino teve o cuidado de notificar que entre os transcendentais há uma ordem: há, de início o ser, depois o uno, em seguida o vero e, enfim, o bem.

"Unde istorum nominum transcendentium talis est ordo si secundum se consideratur: quod postá ens est unum, dinde verum, dinde postá verum bonum".

O vero, Tomás de Aquino gosta de repetir, é anterior ao bem. O que é manifesto por duas razões (Ia Pa, q. 16, a. 4): 1. porque o vero está mais próximo do ser, sendo ele mesmo anterior ao bem; o vero, com efeito, está em relação ao ser considerado absolutamente ou imediatamente, ao passo que a "razão" do bem segue-se ao ser enquanto este é perfeito; 2. porque o conhecimento precede naturalmente a apetição. Portanto, tanto do lado do ato como do lado do objeto, há prioridade da ordem da verdade sobre a do bem. As grandes orientações do sistema de Tomás de Aquino são, vê-se, determinadas desde os primeiros passos do pensamento metafísico. [Gardeil]

Submitted on:  Wed, 09-Dec-2009, 14:33