niilismo de Nietzsche

Category: Termos chaves da Filosofia
Submitter: mccastro

niilismo de Nietzsche

O niilismo, diz Nietzsche, é "a consequência necessária do cristianismo, da moral e do conceito de verdade da filosofia". Quando as ilusões perdem a máscara, então nada resta: o abismo do nada. "Como estado psicológico, o niilismo torna-se necessário, em primeiro lugar, quando procuramos em todo o acontecimento um ‘sentido’ que ele não tem, até que, por fim, começa a faltar coragem a quem procura". Aquele "sentido" podia ser a realização ou o fortalecimento de um valor moral (amor, harmonia de relações, felicidade etc). Mas o que devemos constatar é que a desilusão quanto a esse pretenso fim é "uma causa do niilismo".

Em segundo lugar, "postulou-se totalidade, sistematização e até organização em todo o acontecer e em sua base". Entretanto, o que se viu é que esse universal, que o homem construíra para poder crer no seu próprio valor, não existe! No fundo, o que aconteceu? "Alcançou-se o sentimento da falta de valor quando se compreendeu que não é lícito interpretar o caráter geral da existência nem com o conceito de ‘fim’, nem com o conceito de ‘unidade’, nem com o conceito de ‘verdade’."

Caem assim "as mentiras de vários milênios" e o homem fica sem os enganos das ilusões, mas fica só. Não há valores absolutos; aliás, os valores são desvalores; não existe nenhuma estrutura racional e universal que possa sustentar o esforço do homem; não há nenhuma providência, nenhuma ordem cósmica: "A condição geral do mundo, por toda a eternidade, é o caos, não como ausência de necessidade, e sim no sentido de falta de ordem ou de estrutura, de forma, de beleza, de sabedoria (...) "O mundo não tem sentido: "Eu encontrei em todas as coisas esta certeza feliz: elas preferem dançar com os pés do acaso".

Não há ordem, não há sentido. Mas há necessidade: o mundo tem em si a necessidade da vontade. Desde a eternidade, o mundo é dominado pela vontade de se aceitar e de se repetir. E essa a doutrina do eterno retorno que Nietzsche retoma da Grécia e do Oriente. O mundo não procede de modo retilíneo em direção a um fim (como acredita o cristianismo), nem o seu devir é progresso (como pretende o historicismo hegeliano e pós-hegeliano), mas "todas as coisas eternamente retornam e nós com elas; nós já existimos eternas vezes e todas as coisas conosco". Toda dor e todo prazer, todo pensamento e todo suspiro, toda coisa indizivelmente pequena e grande retornará: "Voltarão até essa teia de aranha e este raio de lua entre as árvores, até este idêntico momento e eu mesmo".

O mundo que se aceita a si mesmo e que se repete: essa a doutrina cosmológica de Nietzsche. E, a ela, Nietzsche vincula a sua outra doutrina, do amor fati: amar o necessário, aceitar este mundo e amá-lo. O homem descobre que a essência do mundo é vontade, vê que ele é eterno retorno e se reconcilia voluntariamente com o mundo: recolhe em sua própria vontade de aceitação do mundo a mesma vontade que se aceita a si mesma. Ele segue voluntariamente o caminho que outros homens seguiram cegamente, aprova esse caminho e não procura mais fugir dele, como fazem os doentes e decrépitos. É o que ensina Zaratustra: "Tudo aquilo que existiu é fragmento, enigma, acaso espantoso, até que a vontade criadora agrega: assim queria eu que fosse, assim quero que seja, assim eu quererei que seja". [Reale]

Submitted on:  Sat, 21-Nov-2009, 10:04