
Para Weber, portanto, temos uma "só" ciência porque é "único" o critério de cientificidade das diversas ciências: tanto nas ciências naturais como nas ciências histórico-sociais, temos conhecimento científico quando conseguimos produzir explicações causais. Entretanto, não é difícil ver que toda explicação causal é somente visão fragmentária e parcial da realidade investigada (por exemplo, as causas econômicas da Primeira Guerra Mundial). E como, além disso, a realidade é infinita, tanto extensiva como intensivamente, é óbvio que a regressão causal deveria ir até o infinito: para o conhecimento exaustivo do objeto, os efeitos seriam estabelecidos "desde a eternidade". Entretanto, nós nos contentamos com certos aspectos do devir, estudamos fenômenos precisos e não todos os fenômenos, em suma realizamos uma seleção, tanto dos fenômenos a estudar como dos pontos de vista a partir dos quais os estudamos e, consequentemente, das causas de tais fenômenos. Não pode haver dúvidas sobre tudo isso. Mas como se realiza, ou melhor, como funciona essa seleção? Com uma expressão tomada de Rickert, Weber responde a essa pergunta dizendo que a seleção se realiza tendo por referência os valores.
Aqui, é preciso que nos entendamos com muita clareza. Antes de mais nada, a referência aos valores (Wertbeziehung) não tem nada a ver com o juízo de valor ou com a apreciação de natureza ética. Weber é explícito: o juízo que glorifica ou condena, que aprova ou desaprova, não tem lugar na ciência, precisamente pela razão de que ele é subjetivo. Por outro lado, a referência aos valores, em Weber, não tem nada a dividir com um sistema objetivo e universal qualquer de valores, um sistema em condições de expressar uma hierarquia de valores unívoca, definitiva e válida sub specie aeternitatis.
Dilthey já constatara a moderna "anarquia de valores". E Weber aceita esse relativismo: "Quem vive no mundo não pode experimentar em si a luta entre uma pluralidade de valores, cada um dos quais, tomado em si mesmo, parece obrigatório: deverá escolher a qual desses deuses quer servir, mas sempre se encontrará em conflito com algum dos outros deuses do mundo". No campo da ética, Weber é favorável a um politeísmo de valores.
A referência aos valores, portanto, não equivale a pronunciar juízos de valor ("isto é bom", "aquilo é justo", "isto é sagrado"), nem implica o reconhecimento de valores absolutos e incondicionais. Então, o que pretende Weber quando questiona a "referência aos valores"? Para sermos breves, devemos dizer que a referência aos valores é princípio de escolha: ele serve para estabelecer quais os problemas e os aspectos dos fenômenos, isto é, o campo de pesquisa no qual posteriormente a investigação se realizará de modo cientificamente objetivo, tendo em vista a explicação causal dos fenômenos.
A realidade é ilimitada, aliás, infinita. E o sociólogo e o historiador só acham interessantes certos fenômenos e aspectos desses fenômenos. E eles são interessantes não por uma sua qualidade intrínseca, mas somente em referência aos valores do pesquisador. Escreve Weber: "Sem as ideias de valor do pesquisador, não haveria nenhum princípio para a escolha da matéria e nenhum conhecimento significativo do real em sua individualidade". Na realidade, "a prostituição é fenômeno cultural, a exemplo da religião ou do dinheiro. E todos os três o são enquanto e somente enquanto sua existência e sua forma, que assumem historicamente, toquem direta ou indiretamente os nossos pontos de vista, orientados com base em ideias de valor, que tornam significativo para nós o setor da realidade pensando naqueles conceitos".
Segue-se daí que explicar causalmente um acontecimento em sua individualidade não significa reproduzi-lo tal e qual ou explicá-lo causalmente na totalidade de suas qualidades individuais: "Isso seria tarefa não apenas impossível, mas também, em princípio, desprovida de sentido". Ao historiador cabe exclusivamente a explicação de elementos e aspectos do acontecimento enquadrável em determinado ponto de vista (ou teoria). E os pontos de vista não são dados uma vez por todas: a variação dos valores condiciona a variação dos pontos de vista, suscita novos problemas, propõe considerações inéditas, descobre novos aspectos. É o feixe do maior número de pontos de vista definidos e comprovados que nos permite ter a ideia mais exata possível de um problema.
Tudo isso, mais uma vez, mostra o absurdo da pretensão de que as ciências da cultura poderiam e deveriam elaborar um sistema fechado de conceitos definitivos. "Os pontos de partida das ciências da cultura projetam-se mutáveis (...) até o mais distante futuro, enquanto nenhum enrijecimento da vida espiritual fizer a humanidade desistir de propor novas questões à vida, sempre igualmente inexaurível". [Reale]