Hamelin

Category: Termos chaves da Filosofia
Submitter: Murilo Cardoso de Castro

Hamelin

HAMELIN (Octave), filósofo francês (Lion-d’Angers, Main-et-Loire, 1856 — Huchet, Landes, 1907). Professor da Escola normal superior e da Sorbonne, é um dos raros filósofos franceses a ter desenvolvido sua filosofia (Ensaio sobre os elementos principais da representação, 1907) como um sistema fechado, isto é, como uma explicação puramente racional e demonstrativa de todos os elementos de nosso conhecimento (movimento, qualidade, tempo, espaço, relação, número, causalidade e finalidade: todos esses elementos se sintetizam na personalidade do ser humano). [Larousse]



Para Hamelin, com efeito, nós não apreendemos mais o ser ou os seres, mas somente relações, e a sua construção do mundo é uma construção essencialmente lógica. É de fato uma teoria da "relação", conforme a expressão do próprio filósofo, que anuncia o propósito de "constituir as coisas com relações". Tornamos a encontrar a trindade hegeliana tese-antítese-síntese, cujo termo é essa mesma "relação" e que talvez já não seja o movimento do próprio espírito, mas o resultado da força ou do esforço do espírito. O simples, por exemplo, atrai o complexo, pois "examinando bem o simples, encontraremos nele o complexo sob o aspecto de um vazio a preencher". Dir-se-ia que já estivéssemos a ouvir Sartre.

Vejamos, por outro lado, a ideia de causa; ela tem a sua antítese, que é a ideia de fim, e a harmonia se estabelece pela noção de resultado. Do mesmo modo, o tempo e o espaço se opõem para depois se harmonizarem pela noção de movimento. Assim, conclui Hamelin, "a representação... não representa, não reflete um objeto e um sujeito que existisse sem ela, mas é o objeto e o sujeito, é a própria realidade...". E acabamos de ver quais eram os "elementos" puramente lógicos, malgrado o seu dinamismo concep-tual, desta representação.

Um universitário cujo espírito admiràvelmente lúcido havia penetrado este difícil sistema resumiu-mo um dia da maneira que segue: Uma vez dada a bola, eu deduzo a raqueta, da raqueta o braço que a segura, do braço o corpo, do corpo a inteligência e da inteligência, Deus, sem que tenha necessidade de outro modo de conhecimento para atingir a raqueta, a mão, o braço, o corpo, a inteligência ou Deus. Peço desculpas desta irreverência, mas ao mesmo tempo que ilustra o mecanismo da doutrina também põe à mostra a espécie de acrobacia dialética que ela dá a impressão de ser.

Esta doutrina formulada por um homem que foi também um moralista de alto valor, desenvolvendo, ademais, as consequências da noção de liberdade, não deixava de comportar finas análises e de lançar as bases de uma ética sólida. É um idealismo lógico. Encontramos a sua refutação, embora Hamelin não seja aí expressamente visado, nestas palavras de Maurice Blondel: "longe de ser um produto da razão, o ser constitui-lhe o fundamento e o objeto supremo...".

Revestido de outras formas, o idealismo refloriu na Itália com Rosmini, Gioberti e Mazzini. E talvez se deva assinalar aqui, como um excesso contrário, que essa "psicologia da forma" que teve seus representantes na Alemanha com Köffka, Kohler, Lewin, Wertheimer, se baseia em pesquisas zoológicas ou biológicas da espécie mais exata para constituir também unidades, mas unidades de ordem unicamente orgânica e situadas no espaço e no tempo. [Truc]

Submitted on:  Mon, 01-Mar-2010, 15:31