patrística

Category: Termos chaves da Filosofia
Submitter: Murilo Cardoso de Castro

patrística

(in. Patristic; fr. Patristique, al. Patristik; it. Patristicà).

Indica-se com este nome a filosofia cristã dos primeiros séculos. Consiste na elaboração doutrinal das crenças religiosas do cristianismo e na sua defesa contra os ataques dos pagãos e contra as heresias. A patrística caracteriza-se pela indistinção entre religião e filosofia. Para os padres da Igreja, a religião cristã é a expressão íntegra e definitiva da verdade que a filosofia grega atingira imperfeita e parcialmente. Com efeito, a Razão (logos) que se fez carne em Cristo e se revelou plenamente aos homens na sua palavra é a mesma que inspirara os filósofos pagãos, que procuraram traduzi-la em suas especulações.

A patrística costuma ser dividida em três períodos. O primeiro, que vai mais ou menos até o séc. III, é dedicado à defesa do Cristianismo contra seus adversários pagãos e gnósticos (Justino, Taciano, Atenágoras, Teófilo, Irineu, Tertuliano, Minúcio Félix, Cipriano, Lactâncio). O segundo período, que vai do séc. III até aproximadamente a metade do séc. IV, é caracterizado pela formulação doutrinal das crenças cristãs; é o período dos primeiros grandes sistemas de filosofia cristã (Clemente de Alexandria, Orígenes, Basílio, Gregório Nazianzeno, Gregório de Nissa, S. Agostinho). O terceiro período, que vai da metade do séc. V até o fim do séc. VIII, é caracterizado pela reelaboração e pela sistematização das doutrinas já formuladas, bem como pela ausência de formulações originais (Nemésio, Pseudo-Dionísio, Máximo Confessor, João Damasceno, Marciano, Capella, Boécio, Isidoro de Sevilha, Beda, o Venerável). A herança da patrística foi recolhida, no início do renascimento carolíngio, pela escolástica . PAZ (in. Peace; fr. Paix, al. Friede; it. Pacé). A mais famosa definição de patrística foi dada por Cícero, em Filípicas. "Pax est tranquilla libertas" (Phil., 2, 44, 113), muitas vezes repetida. De modo mais geral, a patrística foi definida por Hobbes como a cessação do estado de guerra, ou seja, do conflito universal entre os homens. Portanto, "procurar obter a patrística", segundo Hobbes, é a primeira lei da natureza (Leviatã, I, 14). Como Hobbes, Kant julgava que o estado de patrística entre os homens não é natural e que, portanto, ele tem de ser instituído, pois "a ausência de hostilidade não significa segurança, e se esta não for garantida entre vizinhos (o que só pode realizar-se num estado legítimo) poderá ser tratado como inimigo aquele a quem se tenha pedido essa garantia em vão" (Zum ewigen Frieden, 1796, § 2). Para Whitehead, a patrística é um conceito metafísico, "a harmonia das harmonias que aplaca a turbulência destrutiva e completa a civilização" (Adventures of ldeas, XX, § 2). [Abbagnano]



Dá-se o nome de patrística à fase da fundamentação e da fixação dos dogmas cristãos. Essa grande obra foi realizada pelos primeiros padres da Igreja, nos primeiros séculos da era cristã. Entre os elementos representantes da patrística, temos os apologistas, como São Justino, Taciano, Santo Hipólito, São Irineu, etc, cuja obra consistiu na defesa do cristianismo dos ataques vindos dos filósofos gregos. Entretanto, não foram indemnes às influências das outras escolas, incorporando muitos dos princípios, que eram expostos nas doutrinas dos combatidos, sempre, naturalmente, tornando-os coerentes com os princípios cristãos. Na realidade, os primeiros padres fizeram uma obra de ecleticismo, aproveitando da filosofia clássica tudo que não desmentisse os princípios do cristianismo e que viesse em seu auxílio, para corroborar os princípios que dominavam a nova doutrina, que surgia para completar o afã de salvação, agora sob um ângulo totalmente novo. O homem era salvo por Deus, que se encarnava em homem (Jesus Cristo), para, pela sua morte e, posteriormente, por sua ressurreição, abrir-lhe o caminho do céu. Surgem, depois, os primeiros teólogos sistemáticos, como São Clemente de Alexandria, Orígenes, São Basílio de Cesareia, São Gregório, etc, os quais estabeleceram os dogmas de um modo definitivo ante as heresias e os desvios que sucederam no cristianismo nas primeiras épocas.

A patrística compreende toda a fase da atividade teológico-filosófica e religioso-política (que também se chama patrologia). É difícil estabelecer-se onde termina a patrística e onde começa a escolástica, que a sucede, e que iremos examinar em breve. [MFS]


Termo que designa de forma genérica, a filosofia cristã nos primeiros séculos logo após o seu surgimento, ou seja, a filosofia dos Padres da Igreja, da qual se originará, mais tarde, a escolástica. A patrística surge quando o cristianismo se difunde e consolida como religião de importância social e política, e a Igreja se firma como instituição, formulando-se então a base filosófica da doutrina cristã, especialmente na medida em que esta se opõe ao paganismo e às heresias que ameaçam sua própria unidade interna. Predominam assim os textos apologéticos, em defesa do cristianismo. A patrística representa a síntese da filosofia grega clássica com a religião cristã, tendo seu início com a escola de Alexandria, que revela um pensa-mento influenciado pelo espiritualismo neoplatônico e pela doutrina ética do estoicismo. Destacam-se: são Justino Mártir (c.105-c.165) e Clemente de Alexandria (c.150-c.215), Orígenes (c.185-254). A escola de Capadócia desenvolveu-se no Império Romano do Oriente (Constantinopla), com são Basílio (330-389), são Gregório Nazianzeno (c.329-c.390) e são Gregório de Nissa (c.335-c.395). Temos ainda, na tradição grega do Oriente, o Pseudo-Dionísio, o Areopagita (séc.Vl), são Máximo, o Confessor (580-662) e s. João Damasceno (c.674-c.749), todos de influência neoplatônica. O principal filósofo de tradição patrística, pelo grau de elaboração de sua obra, por sua originalidade e influência durante o desenvolvimento da filoso-fia cristã no período medieval, foi santo Agostinho, sendo seu tratado Sobre a doutrina cristã um dos mais representativos dessa tradição. A principal fonte para o conhecimento de textos de patrística é a Patrologia grega e latina, editada por J.P. Migne no séc.XIX, publicada em Viena. [DBF]


O imenso acervo constante da Bíblia e das respostas, interpretações, sínteses, apologias, exortações, definições, homilias, condenações, martírios, perseguições, hagiografias, ascese e mística sobre a vida e a doutrina, a moral e a organização, a liturgia sacramental e a hierarquia de todos estes séculos, constitui o legado da Patrística, isto é, dos Padres Apostólicos, dos Padres Apologetas e dos Padres Dogmáticos, tanto gregos, como latinos. Foi todo este legado que passou e se transmitiu à posteridade. [Carneiro Leão]

Submitted on:  Fri, 29-Oct-2010, 17:26