classificação das ciências

Category: Termos chaves da Filosofia
Submitter: mccastro

classificação das ciências

A distribuição sistemática em diversas categorias. — A. Comte classificou as ciências segundo o grau de complexidade de seus objetos: 1.° as matemáticas não tratam de objetos reais, mas somente de números; 2.° a astronomia trata de números e de objetos que não podemos tocar, cujo curso é portanto imutável; 3.° a física trata de números e de objetos infinitamente mais variáveis e mutáveis: podemos agir sobre eles e ordená-los em função de nossa experimentação; 4.° a química acrescenta à complexidade da física reações específicas e qualitativas; 5.° a biologia acrescenta à complexidade da química o fenômeno da vida; 6.° a sociologia, por fim, faz intervir, além de tudo isso, o elemento humano. Essa classificação segundo a ordem de complexidade crescente segue também a ordem cronológica do desenvolvimento das ciências: as matemáticas representam a ciência mais antiga e a sociologia, ou ciência do homem, a mais recente. (V. Comte [Augusto].) [Larousse]


(in Classification of sciences; fr. Classification des sciences; al. Klassifikation der Wissenschafte; it. Classificazione delle scienzé). Enquanto uma enciclopédia é a tentativa de dar o quadro completo de todas as disciplinas científicas e de fixar de modo definitivo as suas relações de coordenação e subordinação, uma classificação das ciências tem só o intuito mais modesto de dividir as ciências em dois ou mais grupos, segundo a afinidade de seus objetos ou de seus instrumentos de pesquisa. É óbvio que as enciclopédias das ciências também podem ser consideradas simples classificações, mas algumas classificações simples, feitas pelos filósofos do século XIX, foram muito mais eficazes nesse trabalho científico. A mais famosa de todas é a proposta por Ampère, de ciências do espírito, ou noológicas, e ciências da natureza, ou cosmo lógicas (Essai sur la philosophie des sciences, 1834). Essa classificação foi amplamente aceita e, às vezes, reexpressa com outros termos, p. ex., como distinção entre ciências culturais e ciências naturais (Du Bois-Reymond, Kulturgeschichte und Naturnissenschaften, 1878). Para a sua difusão a maior contribuição foi de Dilthey, que, em Introdução às ciências do espírito (1883), insistiu na diferença entre as ciências que visam conhecer casualmente o objeto, que permanece externo, isto é, as ciências naturais, e as que, ao contrário, visam compreender o objeto (que é o homem) e a revivê-lo intrinsecamente, isto é, as ciências do espírito. Windelband, por sua vez, fazia distinção entre ciências nomotéticas (v. nomotético), que procuram descobrir leis e dizem respeito à natureza, e ciências idiográficas (v. idiográfico), que têm em mira o indivíduo, em determinação histórica e como objeto a história (Geschichte und Naturwissenschaften, 1894, e depois nos Präludien). Rickert exprimia a mesma diferença com mais felicidade afirmando que as ciências da natureza têm caráter generalizante, ao passo que as ciências do espírito têm caráter individualizante (Die Grenzen der naturwissenschaftlichen Begriffsbildung, 1896-1902, pp. 236 ss.) (v. Historiografia). De outro ponto de vista, Comte distinguira duas espécies de ciências naturais: as ciências abstratas ou gerais, que têm por objeto a descoberta das leis que regem as diferentes classes de fenômenos, e as ciências concretas, particulares, descritivas, que consistem na aplicação dessas leis à história efetiva dos diferentes seres existentes (Cours de phil. positive, 1830, I, II, § 4). Spencer retomava essa distinção e, por sua vez, dividia todas as ciências em abstratas (lógica formal e matemática), abstrato-concretas (mecânica, física, química) e concretas (astronomia, mineralogia, geologia, biologia, psicologia, sociologia) (The Classification of the Sciences, 1864). E Wundt simplificava essa classificação, reduzindo-a a dois grupos apenas: o das ciências formais (lógica e matemática) e o das ciências reais (ciências da natureza e do espírito) (System der Philosophie, 1889). Pouco diferente desta é a classificação triádica de Ostwald em ciências formais, ciências físicas e ciências biológicas (Gundriss der Naturphilosophie, 1908). A distinção entre ciências formais e ciências reais ainda é amplamente aceita. R. Carnap a repropôs com o fundamento de que as ciências formais só conteriam asserções analíticas e as ciências reais, ou factuais, conteriam também asserções sintéticas (em Erkenntniss, 1934, n. 5; agora em Readings in the Philosophy of Science, 1953, pp. 123 ss.). Como nota Carnap, assim interpretada, essa classificação deixa intacta a unidade da C, pois "as ciências formais não têm absolutamente objeto: são sistemas de asserções auxiliares sem objeto e sem conteúdo" (Ibid., p. 128). Essas últimas palavras de Carnap explicam-se tendo em mente que hoje não se pode conferir caráter absoluto ou rigoroso à distinção entre as várias ciências As palavras seguintes de Von Mises exprimem bem o ponto de vista mais corrente sobre o assunto: "Qualquer divisão e subdivisão das ciências tem apenas importância prática e provisória, não é sistematicamente necessária e definitiva, isto é, depende das situações externas em que se realiza o trabalho científico e da fase atual de desenvolvimento de cada disciplina. Os progressos mais decisivos muitas vezes se originaram do esclarecimento de problemas que se encontram nos limites entre setores até então tratados separadamente" (Kleines Lehrbuch des Positivismus, 1939, V, 7). [Abbagnano]

Submitted on:  Wed, 09-Dec-2009, 09:50