tempo fenomenológico

Category: Termos chaves da Filosofia
Submitter: mccastro

tempo fenomenológico

Já no nível de uma primeira redução, a estrutura da subjetividade deixa aparecer outra correlação que não aquela entre noese e noema: a relação entre forma (morphé) e matéria (hylé). Se a forma é efetivação da intencionalidade, a matéria corresponde a esse «momento real» do vivido naquilo em que reside o seu afeto; material, a consciência o é como receptividade, e está aí uma das suas estruturas apriorísticas: pertence à essência da consciência ser afetada como lhe pertence ser aberta o objetivo.

Ora a forma universal desta afecção é auto-afecção e ela oferece a possibilidade apriorística de qualquer gênese: é a do tempo ou, mais precisamente, pois não se trata de tempo objectivo mas de um tempo originário, da consciência pura do tempo ou da temporalidade da consciência. O afastamento do tempo nos primeiros trabalhos fenomenológicos era uma abstração metódica, não uma redução. A redução, pelo contrário, faz aparecer que a intencionalidade sempre atual na evidência é inseparável de uma consciência imanente ou íntima (do tempo). A consciência (reduzida) não é, com efeito, de forma nenhuma, uma instância atemporal que plane, por assim dizer, acima dos vividos. Mas o tempo também não é um meio no qual esteja implicada a consciência: o que do tempo pertence à transcendência objectiva, o tempo concebido como escoamento, constitui-se na base do tempo imanente que é, no sentido próprio, todo o tempo, com o seu desdobramento em três intencionalidades ligadas, correspondendo à construção do passado (retenção), do futuro (protenção) e do presente (presentificação), no qual ela se funda na consciência atual. A consciência é ela própria tempo originário porque não é outra coisa senão este «presente vivo», e não fonte das intencionalidades. O tempo não é outra coisa senão o modo de presença a si da subjetividade constituinte. [Schérer]

Submitted on:  Sun, 14-Jun-2009, 15:50