teoria da assimilação

Category: Termos chaves da Filosofia
Submitter: mccastro

teoria da assimilação

A organização biológica e seu funcionamento são prolongados pelo funcionamento da inteligência que, por sua vez, é uma atividade organizadora que ultrapassa qualitativamente o campo biológico, pela elaboração e construção de novos esquemas, que atendam às necessidades humanas. Verifica Piaget que, se as estruturas sucessivas devidas à atividade intelectual diferem entre si qualitativamente, obedecem, no entanto, às mesmas leis funcionais. Assim como há uma inteligência sensório-motriz ao lado de uma inteligência intelectual, propriamente dita, e de uma afetiva, podem ser comparadas entre si, sobretudo a sensório-motriz com a intelectual, refletida, racional. Essa comparação aclara a análise que se possa fazer dos dois termos extremos. O ser vivo, por exemplo, assimila o universo, o meio e, ao mesmo tempo, a ele se acomoda; que são os períodos da adaptação biológica. Tudo quanto responde à necessidade do organismo é matéria de assimilação, e a própria necessidade é expressão da atividade assimiladora. Já o inorgânico não se adapta ao meio, mas se equilibra com o universo. E em nós ativa-se e revela-se através de nossas ações, que buscam o equilíbrio de nossa atividade, de nossas forças.

A assimilação é a incorporação de uma realidade exterior qualquer a uma ou a outra parte do ciclo da organização. Tudo o que responde a uma necessidade do organismo é matéria de assimilação; a própria necessidade é a atividade assimiladora como afirma Piaget. Quanto às pressões exercidas pelo meio, sem que respondam a nenhuma necessidade, não dão lugar à assimilação, enquanto o organismo não se adaptou a elas, mas como a adaptação consiste precisamente em transformar os constrangimentos em necessidade, tudo pode prestar-se a ser assimilado.

Partindo dessas premissas, Piaget mostra-nos que as funções de relação são, independentemente da vida psíquica que delas procede, fontes duplas da assimilação: a) servem à assimilação geral do organismo, por ser o seu exercício indispensável à vida; b) mas cada uma assimilação é particular, pois esse exercício é sempre relativo a uma série de condições exteriores que lhes são especiais.

E nesse contexto é que nasce a vida psicológica. O desenvolvimento da inteligência prolonga esse mecanismo, em vez de contradize-lo. Colocado no campo da intelectualidade, na polarização da racionalidade, a acomodação é a "experiência" , a assimilação, o ato do juízo enquanto une os conteúdos experimentais à forma lógica. Consequentemente julgar não é identificar, como se diz em geral, é assimilar; é incorporar um dado novo num esquema anterior, num sistema já elaborado de implicações. Dessa forma a assimilação racional supõe sempre uma organização prévia.

Mas de onde vem essa organização? Da própria assimilação, pois qualquer conceito e qualquer relação exigem um juízo para constituir-se. Se a interdependência dos juízos e dos conceitos demonstra assim a da assimilação e da própria organização, ela sublinha, ao mesmo tempo, a natureza dessa interdependência; o juízo assimilador é o elemento ativo do processo, cujo conceito organizador é o resultado. Na medida em que o objetivo novo assemelha-se ao antigo, afirma Piaget, há recognição e, na medida em que difere, há generalização do esquema e acomodação. Não se dá assim incorporação na assimilação racional como se dá na biológica.

O progresso da acomodação marca a objetividade crescente dos esquemas de assimilação. Os objetos são assimilados por diversos esquemas ao mesmo tempo. Mesmo sem coordenação com outros esquemas, cada um deles dá lugar a diferenciações espontâneas, mas permanecem pouco importantes, e é a infinita variedade das combinações possíveis entre esquemas que é o grande fator de diferenciação. O progresso da acomodação é correlativo ao da assimilação. E é na medida em que a coordenação dos esquemas impulsiona o sujeito a interessar-se pela e na diversidade do real, que a acomodação diferencia os esquemas, e não em virtude de uma tendência à acomodação.

"Essa coordenação e essa diferenciação dos esquemas são eficientes para dar conta da objetivação crescente da assimilação, sem que seja necessário romper a unidade desse processo para explicar a passagem da incorporação egocêntrica dos indícios ao juízo propriamente dito". (Piaget)

A experiência não é recepção simplesmente passiva; é acomodação ativa, correlativa à assimilação. Dessa forma, a inteligência é construção de relações e não somente identificação; a elaboração dos esquemas implica tanto uma lógica de relações como uma lógica de classes. A coordenação dos esquemas de assimilação favorece o progresso da acomodação e reciprocamente.

No plano sensório-motriz, a inteligência supõe uma união sempre estreita da experiência e da dedução, união da qual o rigor e a fecundidade da razão serão um dia o duplo produto. A rigor, as operações não resultam necessariamente da identificação, mas de sua reciprocidade geral; a assimilação recíproca, que dá conta da coordenação dos esquemas, é o ponto de partida dessa reversibilidade das operações a qual, em todos os níveis, aparece como o critério do rigor e da coerência. [MFSDIC]

Submitted on:  Fri, 12-Jun-2009, 13:23