
É a doutrina filosófica de Platão (427-347 a. C.) e de sua escola, a Academia, por ele fundada e que, ressuscitada pelo neoplatonismo, por S. Agostinho e pelo Renascimento, continuou exercendo grande influência no transcurso dos séculos. Platão, sob a influência decisiva de Sócrates, propôs-se ser o educador da juventude ateniense, segundo o modelo das comunidades pitagóricas de varões e chefes. Após o fracasso de seus planos, fundou a Academia e, através dos diálogos que escreveu, deixa-nos entrever suas ideias filosóficas e sua concepção do universo. A reforma política, ele a cimentava numa sólida mundividência, na convicção da existência de valores imutavelmente válidos. A expressão filosófica desta mundividência é a teoria platônica das ideias. Enquanto os sentidos nos mostram somente o mundo do devir e do perecer, termo médio entre o ser propriamente dito e o nada, o noûs (a razão) penetra até às ideias, formas exemplares ou unidades objetivas eternas, não sensíveis, que existem fora e acima das coisas sensíveis e conferem seu verdadeiro sentido ao mundo e à vida. As coisas perecíveis participam das ideias, imitam-nas. A ascensão ao bem e ao belo das ideias verifica-se mediante a paixão do eros, do amor (platônico) que anela e investiga a beleza e a verdade. As ideias radicam em Deus (= ideia do Bem). O mundo não foi criado: a matéria é eterna, mas o demiurgo, o plasmador do universo moldou-a formando com ela o cosmos e vivificou-a com uma alma do mundo. A alma é princípio do movimento e da vida; procede de um mundo ultraterreno. A elevação da mente à contemplação das ideias consiste numa reminiscência (anamnesis) das ideias contempladas na existência anterior, suscitada pelos objetos sensíveis. A vida humana tem, como finalidade, assemelhar-se a Deus, ideia suprema do bem. Condição para alcançar este fim é a reta formação e educação na comunidade e pela comunidade verdadeira e ordenada, descrita na famosa utopia "A República" e, em forma mais mitigada, nas "Leis" (obra escrita já nos últimos anos da vida do filósofo). Assim como na alma do homem deve reinar a harmonia entre suas três partes concupiscível, irascível e racional, assim a grande comunidade política, o Estado educador, em suas três partes — os filósofos como chefes, os guardas e o povo dedicado ao trabalho —, deve estar dominada pela harmonia justa ou justiça legal, em conformidade com a qual cada parte tem a função que lhe compete. Um esmerado sistema formativo deve preparar as classes dos dirigentes e guardas. A eles se aplica a comunidade de bens e também a de mulheres, com a adoção de rigorosas medidas eugênicas. O mito da transmigração das almas e da retribuição eterna (República, X) procura, frente à crença grosseira do povo e ao ceticismo zombeteiro dos sofistas, afirmar uma séria tomada de posição perante os problemas da imortalidade, da responsabilidade ultramundana e do fim último do homem. — Schuster. [Brugger]