
(gr. amesos; in. Immediate; fr. immédiat; al. Unmittelbar; it. Immediató). Qualifica-se geralmente com este termo todo objeto que pode ser reconhecido ou proposto sem a ajuda de qualquer outro objeto: p. ex., uma ideia que pode ser percebida sem ajuda de outra ideia, um fato que pode ser constatado sem a ajuda de outros fatos, uma proposição que pode ser considerada verdadeira sem recorrer a outras proposições, etc. Assim, Aristóteles chamava de imediato a premissa "à qual nenhuma é anterior" (An. post., I, 2, 72 a 7), ou seja, a premissa cuja verdade é obtida sem recorrer à verdade de outras premissas. Em sentido análogo, Descartes afirmava entender por pensamento "tudo aquilo que está de tal forma em nós que nós o percebemos imediatamente em nós mesmos" (II Rép., def. 1), onde imediatamente lhe servia "para excluir as coisas que se seguem e provêm do nosso pensamento". Ainda analogamente Locke entendia por conhecimento intuitivo a percepção da concordância e da discordância entre as ideias por si mesmas e imediatamente, ou seja, sem ajuda de ideias intermediárias (Ensaio, IV, 2, 1). Faz parte do conceito de imediação, assim entendido, a pretensão de que o imediato não precisa , de outra coisa para exigir o reconhecimento de Sua validade. Assim, para Descartes a imediação do pensamento constitui a própria validade da proposição Eu sou, e para Locke a imediação da relação entre as ideias torna esta relação mais segura do que a relação mediata, ou seja, demonstrativa (Ibid., IV, 2, 4). É, pois, supérfluo lembrar que as premissas imediatas de Aristóteles têm validade necessária como princípios primeiros da demonstração. Privilégio análogo geralmente é atribuído às formas de conhecimento imediato, como p. ex. a intuição. Kant atribuía à intuição o privilégio de ser "o imediato presença do objeto" (Prol., § 8), mas ao mesmo tempo negava que existisse uma intuição "não sensível", algo mais que uma modificação passiva, que uma afeição. Mas a filosofia moderna e contemporânea falou com frequência de intuição não sensível: basta lembrar, por um kdo, a intuição eidética de que fala Husserl e, por outro, a intuição simpática de que fala Bergson: a primeira tem por objeto as essências-, a segunda tem por objeto a consciência em sua duração. Ambas essas intuições são caracterizadas pelo caráter imediato: captam os respectivos objetos sem necessidade de intermediários. Hegel, provavelmente o crítico mais radical do privilégio da imediação, denominou "filosofia do saber imediato" a filosofia da fé de Jacobi. Kant já se manifestara contrário a essa filosofia, recusando-se a admitir que a fé ou qualquer outra atividade sentimental ou imediato do homem pudesse ir além dos limites da razão, que são enfim os mesmos da experiência possível (Was heisst: Sich inDenken orientieren?, 1786). Mas a crítica de Kant é especialmente dirigida contra o fanatismo que ele vê implícito nessa posição, ao passo que a crítica de Hegel é dirigida contra a imediação. Para Hegel, a forma da imediação "dá ao universal a unilateralidade de uma abstração, de tal forma que Deus se torna a essência indeterminada, mas Deus só pode ser chamado de espírito na medida em que se sabe, mediando-se em si consigo mesmo. Só assim é concreto, vivo, espírito: a saber de Deus, como espírito, exatamente por isso contém em si a mediação" (Enc., § 74). Para Hegel, a mediação é o retorno da consciência sobre si mesma, a autoconsciência, que é a forma última e suprema da realidade e, por isso, identificada por Hegel com Deus. Negar a mediação significa, portanto, negar a superioridade da autoconsciência sobre a consciência. O imediato é a forma mais simples da consciência, é "o intuir abstrato", que é o intuir no qual aquilo que intui (a consciência) se considera diferente daquilo que é intuído (o objeto da consciência). Esta crítica, como se vê, é típica da filosofia hegeliana: faz parte integrante dela, mas não é utilizável fora dela. No mundo contemporâneo, em que o domínio do saber tende a ser coberto pelas várias disciplinas científicas, o imediato perdeu seus privilégios, mas por razões que nada têm a ver com as aduzidas por Hegel. O objeto de uma investigação científica nunca é imediato, pois sua validade só pode ser estabelecida com o auxílio de instrumentos ou procedimentos mais ou menos complicados, portanto de forma indireta e mediata. Até os objetos da visão, que tradicionalmente constituíam o modelo dos objetos imediato, perderam esse caráter para a psicologia contemporânea, que tende a evidenciar as complexas estruturas e os procedimentos mediatos da percepção. Contudo, muitos filósofos ainda privilegiam alguma forma de conhecimento imediato. E o que fez Russell, ao admitir como ponto de partida de todo conhecimento o conhecimento imediato (acquaintance), de cujos objetos "ficamos cientes diretamente, sem intermediários" (Human Knowledge, 1948, p. 196 e passim). Para Russell, qualquer conhecimento, em última análise, deve ser reintegrado nesses "dados egocêntricos". Ao mesmo tempo, Carnap considerou como elementos originários, que fazem parte da construção lógica dos objetos da ciência, as vivências elementares (Elementarerlebnisse Der Logische Aufbau der Welt, § 65]). Mas nesses pressupostos e em outros semelhantes, a filosofia da ciência afasta-se das análises e das conclusões da própria ciência. [Abbagnano]