
(lat. Adaequatio; in. Adequation; fr. Adéquation; al. Übereinstimmung; it. Adequazioné). Um dos critérios de verdade, mais precisamente aquele pelo qual um conhecimento é verdadeiro se está adequado ao objeto, isto é, se se assimila e corresponde a ele de tal modo que reproduza, o mais possível, a sua natureza. A definição da verdade como "adequação do intelecto e da coisa" foi dada pela primeira vez pelo filósofo hebraico Isac Ben Salomão Israel (que viveu no Egito entre 845 e 940) no seu Liberde definitionibus. Essa definição foi retomada por Tomás de Aquino que lhe deu uma exposição clássica (S. Th., I, 16, 2; Contra Gent., I, 59; De ver., q. 1, a. 1). As coisas naturais, cuja ciência o nosso intelecto recebe, são a medida do intelecto, já que este possui a verdade só na medida em que se conforma às coisas. As próprias coisas são, por sua vez, medidas pelo intelecto divino, no qual subsistem suas formas tal como as formas das coisas artificiais subsistem no intelecto do artífice. Deus, portanto, é a verdade suprema porquanto o seu entendimento é a medida de tudo o que é e de todos os outros entendimentos. A noção de adequação (ou acordo, ou conformidade, ou correspondência) é pressuposta e empregada por muitas filosofias, mais precisamente por todas as que consideram o conhecimento como uma relação de identidade ou semelhança (v. conhecimento). Locke afirma que "o nosso conhecimento é real só se há conformidade entre as ideias e a realidade das coisas" (Ensaio, IV, 4, § 3). O próprio Kant declara pressupor "a definição nominal da verdade como acordo do conhecimento com o seu objeto" e propõe-se o problema ulterior do critério "geral e seguro para determinar a verdade de cada conhecimento" (Crít. R. Pura, Lógica transe, Intr., III) e Hegel usa explicitamente a ideia de correspondência (Ene, § 213): "A ideia é a verdade, já que a verdade é a correspondência entre objetividade e o conceito, mas não que coisas externas correspondam às minhas representações; estas são apenas representações exatas que eu tenho como indivíduo. Na ideia não se trata nem disto, nem de representações, nem de coisas externas". Aqui Hegel faz a distinção entre a exatidão das representações finitas, próprias do indivíduo, enquanto correspondentes a objetos finitos, e a verdade do conceito infinito, ao qual só pode corresponder a ideia infinita ("O singular por si não corresponde ao seu conceito: esta limitação da sua existência constitui a finitude e a ruína do singular"). Num e noutro caso, o critério é sempre o da correspondência. Na orientação linguística da filosofia analítica contemporânea mantém-se a noção de correspondência como relação de semelhança entre linguagem e realidade. Wittgenstein, p. ex., diz: "A proposição é a imagem (Bild) da realidade... A proposição, se é verdadeira, mostra como estão as coisas" (Tractatus, 4.021, 4.022). A coincidência entre doutrinas tão diferentes sobre essa noção de verdade deve-se à interpretação do conhecimento como relação de assimilação. [Abbagnano]