Coisa do Pensamento

Category: Heidegger - Bibliografia
Submitter: Murilo Cardoso de Castro

Coisa do Pensamento

HEIDEGGER, Martin. Sobre a questão da determinação da coisa (causa) do pensamento - Zur Frage nach der Bestimmung der Sache des Denkens (GA16). Tradução: Marcia Sá Cavalcante Schuback. (VERSÃO PRELIMINAR)

A mudança necessitada para o pensamento ingressar em uma coisa (causa) inteiramente outra, a indicação sobre o fim e o limite interno do pensamento filosófico, não contém nenhum desprezo pela filosofia, como se esse outro pensamento, inicialmente mais do que in-determinado, superasse e se colocasse muito acima da filosofia. Tampouco se trata de uma elevação ainda mais elevada da filosofia, de um questionamento transcendental em segunda potência, e muito menos de um aprofundamento dos fundamentos da filosofia no sentido de um “retorno ao fundo (e fundamento) da metafísica”.

Preciso é bem mais o passo atrás da filosofia. Preciso é o ingresso no âmbito indicado com o nome clareira, em que nós homens já sempre estamos atrelados. Nele também perduram a seu modo as coisas.

Com o passo atrás, nem se renuncia à filosofia e nem se leva a filosofia para desaparecer na lembrança do homem pensante. Esse perigo ameaça, todavia, e numa medida cada vez mais crescente, só que do lado das ciências e de sua organização cibernética-técnica, no seio da civilização mundial em vias de edificação. Com o passo atrás, o todo da filosofia e a consumação (acabamento) de sua história não são superados no sentido do percurso histórico pensado dialeticamente por Hegel. Com o passo atrás, mostra-se bem mais a possibilidade de a filosofia apropriar-se de si no que lhe é próprio. Desse modo, a filosofia alcança uma permanência mais inaugural, capaz de preparar o reino do já pensado para uma outra conversa.

Reivindicar do pensamento um retorno “às coisas elas mesmas” só adquire o seu sentido e um sustento confiável quando antes se questionar o que é então a coisa (causa) do pensamento e de onde ele recebe a sua determinação. A elucidação dessa questão deixa logo experienciar que todo pensamento é finito. A finitude do pensamento consiste não somente e nem sobretudo numa limitação da capacidade humana, mas na finitude da coisa (causa) do pensamento. Fazer a experiência dessa finitude é bem mais difícil do que a admissão precipitada de um absoluto. A dificuldade repousa numa má-educação do pensamento condicionada pela sua coisa (causa) e por isso não contingente, que já Aristóteles chegara a observar (Metafísica IV, 4. 1006 a 6ss). A passagem diz: “É de certo uma má-educação (falta de educação) (do pensamento) não ter nenhuma visão para o que exige uma prova e o que não exige.” Essa má-educação (falta de educação) é grande no pensamento atual. É ainda maior no tocante à tarefa de colocar ao menos uma vez a questão sobre a determinação da coisa (causa) do pensamento e desdobrá-la de maneira suficiente. Para tanto, as palavras de Aristóteles pedem uma meditação cuidadosa sobre o seu sentido. Pois ainda permanece indeciso de que maneira se pode experienciar e pronunciar o que não necessita de nenhuma prova para tornar-se para o pensamento a coisa (causa) digna a ser pensada.

Submitted on:  Mon, 22-Jul-2019, 09:01