
Hören tem origem em uma palavra que significava "prestar atenção, notar, ouvir, ver". Significa agora "ouvir (algo de/sobre); escutar; atender, obedecer". Horchen, "escutar, dar atenção a, atender", desenvolveu-se a partir de hören, mas está mais ligado a escutar sons, enquanto hören envolve a compreensão. Sendo assim, pode-se horchen sem hören. "Alguém que não está ouvindo no sentido genuíno (assim como quando falamos de uma pessoa, ‘Ele não ouve!’ — o que não significa que seja surdo) pode escutar [horchen] muito bem e, por esta mesma razão, não ouvir, já que o mero escutar é uma modificação privativa definida do ouvir e compreender" (GA20, 368). Mas até mesmo o escutar envolve a compreensão: "Até o escutar é fenomenalmente mais original do que a mera sensação de tons e percepção de sons. Até escutar é ouvir com compreensão. ‘Em primeiro lugar’ nós nunca escutamos ruídos e complexos acústicos. Escutamos o carro rangendo, o bonde elétrico, a motocicleta. Escuta-se a coluna em marcha, o vento do norte. E indispensável uma atitude superficial e complexa para se ‘ouvir’ um ‘ruído puro’" (GA20, 367, Cf. SZ, 163; GA12, 15). Hören forma diversos compostos ligados a ouvir, tais como überhören, "não ouvir, ignorar", e hinhören, "escutar" (cf. SZ, 271). Ele também deu origem a gehorsam, "obediente", e hörig, "servidão, em cativeiro, escravizado". O mais importante para Heidegger é gehören, que já significou "ouvir, obedecer", tendo perdido contato com ouvir, passando a significar "pertencer (a), convir etc.". Gehörig, "que pertence, que convém", e zugehörig, "que acompanha, que pertence", desenvolveram-se a partir de gehören. Portanto: "Dasein escuta [hört] porque compreende. Como ser-no-mundo articulado em compreensões com os outros, Dasein obedece, na escuta, à existência e a si próprio, ‘pertencente’ a essa obediência". (SZ, 163). E: "Ser-com possui a estrutura de um pertencer-ouvinte-obediente [Zu(ge)hörigkeit] aos outros, e unicamente a partir deste pertencer primário [Zugehörigkeit] há coisas tais como separação, formação de grupo, desenvolvimento da sociedade e afins" (GA20, 367). Escutar é essencial para a fala: "Escutar pertence à fala assim como ser-com pertence ao ser-no-mundo". Entretanto, nós "ouvimos em primeiro lugar o que é dito, aquilo sobre o que é a fala, não o seu dizer e a fala sobre algo". A fisiologia, assim como a acústica, é secundária: "Que haja para ouvir coisas tais como lóbulos da orelha e tímpanos é puro acaso" (GA20, 368). [DH]