
Heidegger atribui a primeira aparição do conceito de Seinsgeschichte, " história do ser", a EV, escrito em 1930 e publicado em 1943 (QCT, 28/24): a " ek-sistência do homem histórico começa no momento em que o primeiro pensador expõe uma instância de questionamento para o desencobrimento dos entes, perguntando o que são os entes. [...] A história começa, pela primeira vez, quando os próprios entes são especificamente promovidos ao desencobrimento e mantidos nele, quando esta manutenção é concebida em função do questionamento acerca dos entes enquanto tais. O desvelamento inicial dos entes como um todo, a questão acerca dos entes enquanto tais e o começo da história ocidental são o mesmo [...] O homem ek-siste — isto agora significa: a história das possibilidades essenciais de uma humanidade histórica para ela se mantém, no desvelamento dos entes como um todo. As raras e simples decisões da história surgem do modo como a essência original da verdade essencializa" (EV, 187s/126s).
SZ contém o germe desta ideia: já que Dasein é "histórico", seu questionamento acerca do ser também é histórico. Assim, ao indagar acerca do ser precisamos também explorar a história da indagação acerca do ser. Heidegger sugere — bastante razoavelmente, embora não esteja obviamente vinculado à " historicidade" de Dasein — que os filósofos, desde os gregos até o presente, sustentaram visões variadas acerca do ser. A razão explícita que possui para examinar suas visões é mais do que simplesmente afirmar a sua própria visão, o fato de tendermos a sucumbir à tradição. Empregamos conceitos e categorias tradicionais sem investigar e explorar, de forma adequada, as " fontes" originais das quais foram retirados (SZ, 20s). Podemos, por exemplo, usar as noções de "matéria" e "forma" sem nos recordarmos das reflexões de Aristóteles sobre um artesão dando forma ao seu material ou sem imaginar se elas são prontamente aplicáveis a outros entes além dos artefatos (cf. UK, 16ss/152ss). Para evitar tais possibilidades, Heidegger empreende uma Destruktion da tradição, não destruindo-a no sentido usual, mas "desatando-a" de modo a discernir as "experiências originais" que lhe deram origem. Isto mostrará os méritos, falhas e limitações dos conceitos tradicionais e poderá revelar novas possibilidades obscurecidas pela tradição. Esta destruição haverá de desatar as correntes que a tradição nos impôs e permitirá que lancemos um olhar cheio de frescor e atenção aos entes (SZ, 22. Cf. NII, 415/ENDPHILO, 14s). SZ não é, entretanto, histórico do modo como EV é. Ele não sugere, como faz EV, que o mundo de Dasein, em primeiro lugar, esteja aberto pelo questionamento filosófico ou que mudanças cruciais no mesmo dependam de desenvolvimentos filosóficos. SZ não considera a questão de como e quando Dasein chegou a ser em um mundo, nem implica que o mundo sofra mudanças significativas. SZ esboça uma história do questionamento sobre o ser, mas não do próprio ser. [DH]