objetidade

Category: Heidegger - Ser e Tempo etc.
Submitter: mccastro

objetidade

A objetidade [Gegenständigkeit] é, em primeiro lugar, um caráter do próprio vigente [Charakter des Anwesenden]. Todavia, o modo, em que sua objetidade se manifesta, e o real se torna objeto da representação só se nos poderá aparecer se questionarmos a questão o que é o real, com referência à teoria e, em certo sentido, também através da teoria. [GA7]


Agora já temos condições de considerar a conjuntura dis-creta na regência da objetidade. A teoria fixa o real, no caso da física, a natureza inanimada, num domínio de objetos. A natureza, porém, já vige e vigora em si mesma, por si mesma. A objetivação depende da natureza já vigente. Mesmo quando, por razões de essência, como na física atômica moderna, a teoria se torna necessariamente incapaz de representação sensível, mesmo assim a teoria depende de os átomos se mostrarem à percepção, ainda que esta amostragem das partículas elementares se dê e aconteça em caminhos muito indiretos e mediados por técnicas variadas (por exemplo, a câmara de Wilson, o contador Geiger, voos de balões para constatar mésons, etc.). A teoria não pode prescindir da natureza já vigente e, neste sentido, ela nunca pode contornar a natureza. A física pode representar as [52] leis mais universais e constantes da natureza pela identificação de matéria e energia. O que a física assim representa é, com certeza, a própria natureza, mas, por outro lado, não se pode contestar que se trata, apenas, da natureza assumida, como domínio de objetos, cuja objetidade determina e produz o processamento físico. Em sua objetidade nas ciências modernas, a natureza se reduz a um modo em que e como o vigente, de há muito chamado de physis, se manifesta e se oferece ao processamento científico. Esta objetidade nunca pode abarcar toda a plenitude essencial da natureza ainda que o domínio de objetos da física seja uniforme e concluso em si mesmo. A representação científica nunca é capaz de evitar a essência da natureza porque, já em princípio, a objetidade da natureza é, apenas, um modo em que a natureza se ex-põe. Para a ciência física, a natureza permanece, portanto, incontornável. Esta palavra indica aqui duas coisas: por um lado, que não se pode contornar a natureza, no sentido de a teoria nunca poder passar à margem do vigente, permanecendo sempre dependente de sua vigência; por outro lado, não se pode contornar a natureza, no sentido de a própria objetidade impedir que a representação e certeza da ciência possa abarcar um dia toda a plenitude da natureza. É o que tinha em mente Goethe em sua malograda polêmica com a física de Newton. Goethe ainda não podia perceber que mesmo sua representação intuitiva da natureza ainda se movia no meio da objetidade, na relação de sujeito-objeto, não sendo, por isso, em princípio, diferente da física e sendo metafisicamente a mesma coisa. A representação da ciência, por sua vez, nunca poderá decidir se, com a objetidade, a riqueza recôndita na essência da ciência não se retira e retrai ao invés de dar-se e se deixar aparecer. A ciência nunca pode fazer esta pergunta e, muito menos, questionar esta questão. Na condição de teoria, já se instalou na região da objetidade. Na objetidade da natureza, que corresponde à objetivação da física, reina um incontornável em duplo sentido. Quando conseguimos vê-lo e pensá-lo mais ou menos numa ciência, nós o percebemos com mais facilidade em qualquer outra. [GA7]

Submitted on:  Thu, 28-Oct-2010, 19:46