o Ser

Category: Heidegger - Ser e Tempo etc.
Submitter: Murilo Cardoso de Castro

o Ser

Sein

Mas não se diz em Ser e Tempo (p. 212) precisamente lá onde se fala do "es gibt" (se dá) "só enquanto é o Dasein, dá-se Ser"? Realmente. E isso significa: só enquanto se a-propria (ereignet) a clareira do Ser, é que o Ser se entrega, no que ele é propriamente, ao homem. Que, porém, o Da (lugar), a clareira, como Verdade do próprio Ser, se a-proprie, é destinação do próprio Ser. É o destino da clareira. A frase não significa: O Dasein do homem, no sentido tradicional de existentia, e pensado modernamente, como a realidade do ego cogito, é aquele ente por meio do qual o Ser é criado. A frase não diz, que o Ser é um produto do homem. Na introdução de Ser e Tempo (p. 38) está clara e simplesmente, e até grifado: "O Ser é o ab-solutamente (sehlechthin) transcendens". Assim como a abertura da proximidade espacial transcende, vista da perspetiva das coisas que lhe são próximas e distantes, essas mesmas coisas, assim também o Ser está essencialmente mais distante do que qualquer ente, por ser Ele a própria clareira. Todavia, de acordo com o ponto de partida (Ansatz), inicialmente, inevitável situado dentro do domínio da metafísica, o Ser é pensando a partir do ente. Somente desta perspetiva é que o Ser se apresenta numa transcendência e como transcendência.

A determinação introdutória, "o Ser" é o absolutamente transcendens", reúne numa simples frase o modo em que, até agora, a Essência do Ser se tem clareado ao homem. Essa determinação retrospetiva da Essência do Ser, a partir da clareira do ente, como tal, é, e permanece, inevitável para o exórdio de um pensamento que prepara a questão sobre a Verdade do Ser. Dessa maneira, o pensamento testemunha sua Essência destinada (geschicklich). A presunção de querer começar tudo de início e declarar falsa toda filosofia anterior, lhe é estranha. Quanto, porém, a saber, se a determinação do Ser, como o ab-solutamente transcendens, já evoca a Essência simples da Verdade do Ser, isso e só isso constitui a primeira questão para um pensamento, que procura pensar a Verdade do Ser. É por isso que, à página 230 de Ser e Tempo, se diz que somente a partir do "Sentido", isto é, da Verdade do Ser se pode compreender, como o Ser é. O Ser se clareia para o homem no projeto ec-stático. Todavia, esse projeto não cria o Ser.

Ademais, o projeto é Essencialmente um projeto lançado. O que lança no projeto, não é o homem mas o próprio Ser. Esse destina o homem na ec-sistência do Da-sein, como sua Essência. O destino se a-propria (ereignet), como a clareira do Ser, que é, enquanto clareia. É a clareira que outorga a proximidade do Ser. Nessa proximidade, na clareira do "Da" (lugar), mora o homem, como ec-sistente, sem que ele já hoje possa experimentar e assumir esse morar. [CartaH]

Submitted on:  Tue, 23-Jul-2019, 09:50