VIDE Erlebnis, Erfahrung
Como nem a doutrina medieval nem a episteme grega são ciência no sentido da investigação, não há experimento nelas. É verdade que foi Aristóteles o primeiro quem compreendeu o que significa empeiria (experientia), isto é, a observação das coisas em si mesmas e de suas propriedades e transformações sob condições mutáveis e, portanto, o conhecimento do modo em que as coisas costumam se comportar por regra geral. Entretanto, uma observação que tem como meta semelhante conhecimento, o experimentum, é essencialmente distinta do que singulariza a ciência enquanto investigação, isto é, do experimento da investigação (Forschungsexperiment), mesmo quando as observações da Antiguidade ou da Idade Média utilizavam números e medidas, mesmo quando a observação obtinha apoio em determinados dispositivos e instrumentos, isso porque permanecia faltando por completo o autenticamente decisivo do experimento. O experimento começa pondo como base uma lei. Dispor um experimento significa representar uma condição segundo a qual um determinado conjunto de movimentos pode ser seguido na necessidade de seu transcurso ou, o que é o mesmo, pode tornar-se apto a ser dominável por meio do cálculo. Entretanto, a disposição da lei se leva a termo desde a perspectiva que se dirige ao traço fundamental do setor de objetos. Este é o que oferece a medida e vincula à condição o representar antecipador. Esta representação na qual e pela qual se inicia o experimento não é uma imaginação arbitrária. Por isso dizia Newton: hypotheses non fingo, as hipóteses não se pensam de modo arbitrário. Elas se desenvolvem a partir do traço fundamental da natureza e estão inscritas nele. O experimento é esse procedimento levado e dirigido em sua disposição e execução pela lei que se estabelece como hipótese a fim de produzir os fatos que confirmam ou negam a lei. Quanto mais exatamente se tenha projetado o traço fundamental da natureza, tanto mais exata será a possibilidade do experimento. Por isso é completamente impossível que o escolástico medieval Roger Bacon, que amiúde se invoca, seja o precursor do moderno investigador experimental, limitando-se a ser o sucessor de Aristóteles. Com efeito, na época de Bacon, devido ao cristianismo, a autêntica possessão da verdade foi transladada para a fé, para a consideração das Escrituras e da doutrina da Igreja como verdadeiras. O supremo conhecimento e doutrina é a teologia, enquanto interpretação das divinas palavras da Revelação modeladas nas Escrituras e proclamada pela Igreja. Aqui, conhecer não é investigar, mas compreender corretamente a palavra que estabelece a norma e a palavra das autoridades que a proclamam. É por este motivo que durante a Idade Média, na aquisição de conhecimento adquire supremacia a explicação das palavras e das opiniões doutrinais das distintas autoridades. O componere scripta et sermones, o argumentum ex verbo, é decisivo e ao mesmo tempo é o motivo pelo qual a filosofia platônica e aristotélica teve que converter-se em dialética escolástica. Se, em seguida, Roger Bacon exige o experimentum — e realmente o exige —, não se está referindo ao experimento da ciência enquanto investigação, mas o que exige é em lugar do argumentum ex verbo, o argumentum ex re, isto é, em lugar do debate sobre as opiniões doutrinais, a observação das coisas mesmas, a empeiria aristotélica. [DZW]