destino

Category: Heidegger - Ser e Tempo etc.
Submitter: Murilo Cardoso de Castro

destino

Schicksal, Geschick, schicken, geschehen

Destino de-vém o Ser, quando Ele, o Ser, se dá. Isso, porém, pensado consoante o destino, quer dizer: Ele se dá e se recusa simultaneamente. [CartaH, Carneiro Leão; GA9]



Sem poder e nem tampouco tolerar saber, a vontade de querer impede o destino, aqui entendido como a consignação de uma abertura manifestativa do ser dos entes. A vontade de querer tudo enrijece numa ausência de destino. [GA7CFS 69]


A essência da técnica moderna põe o homem a caminho do de-sencobrimento que sempre conduz o real, de maneira mais ou menos perceptível, à dis-ponibilidade. Pôr a caminho significa: destinar. Por isso, denominamos de destino a força de reunião encaminhadora, que põe o homem a caminho de um desencobrimento. É pelo destino que se determina a essência de toda história. A história não é um mero objeto da historiografia nem somente o exercício da atividade humana. A ação humana só se torna histórica quando enviada por um destino [NT: Cf. Vom Wesen der Wahrheit, 1930, na primeira edição de 1943, p. 16s.]. E somente o que já se destinou a uma representação objetivaste torna acessível, como objeto, o histórico da historiografia, isto é, de uma ciência. É daí que provém a confusão corrente entre o histórico e o historiográfico.

No desafio da dis-posição, a com-posição remete a um modo de desencobrimento. Como modo de desencobrimento, a com-posição é um envio do destino. Destino, neste sentido, é também a produção da poiesis.
O desencobrimento do que é e está sendo segue sempre um caminho de desencobrimento. O destino do desencobrimento sempre rege o homem em todo o seu ser mas nunca é a fatalidade de uma coação. Pois o homem só se torna livre num envio, fazendo-se ouvinte e não escravo do destino. [GA7CFS, 27]


[...] A liberdade é o reino do destino que põe o desencobrimento em seu próprio caminho.
A essência da técnica moderna repousa na com-posição. A com-posição pertence ao destino do desencobrimento. [...]
Quando pensamos, porém, a essência da técnica, fazemos a experiência da com-posição, como destino de um desencobrimento. Assim já nos mantemos no espaço livre do destino. [...]

A essência da técnica repousa na com-posição. Sua regência é parte do destino. Posto pelo destino num caminho de desencobrimento, o homem, sempre a caminho, caminha continuamente à beira de uma possibilidade: a possibilidade de seguir e favorecer apenas o que se des-emcobre na dis-posição e de tirar daí todos os seus parâmetros e todas as suas medidas. Assim, tranca-se uma outra possibilidade: a possibilidade de o homem empenhar-se, antes de tudo e sempre mais e num modo cada vez mais originário, pela essência do que se des-encobre e seu desencobrimento, com a finalidade de assumir, como sua própria essência, a pertença encarecida ao desencobrimento. [GA7CFS, 28]


Entre essas duas possibilidades, o homem fica ex-posto a um perigo que provém do próprio destino. Por isso, o destino do desencobrimento é o perigo em todos e em cada um de seus modos e, por conseguinte, é sempre e necessariamente perigo.

Em qualquer modo, em que o destino do desencobrimento exerça seu vigor, o desencobrimento, em que tudo é e mostra-se cada vez traz sempre consigo o perigo de o homem equivocar-se com o desencobrimento e o interpretar mal. [...]

O destino do desencobrimento não é, em si mesmo, um perigo qualquer, mas o perigo.

Se, porém, o destino impera segundo o modo da com-posição, ele se torna o maior perigo, o perigo que se anuncia em duas frentes. Quando o des-coberto já não atinge o homem, como objeto, mas exclusivamente, como disponibilidade, quando, no domínio do não-objeto, o homem se reduz apenas a dis-por da dis-ponibilidade - então é que chegou à última beira do precipício, lá onde ele mesmo só se toma por dis-ponibilidade. [GA7CFS, 29]


[...]Como destino, a com-posição remete ao desencobrimento do tipo da disposição. [...]

A com-posição de-põe a fulguração e a regência da verdade. O destino enviado na dis-posição é, pois, o perigo extremo. A técnica não é perigosa, não há uma demonia da técnica. O que há é o mistério de sua essência. Sendo um envio de desencobrimento, a essência da técnica é o perigo. Talvez a alteração de significado do termo "com-posição" torne-se agora mais familiar, quando pensado no sentido de destino e perigo. [GA7CFS, 30]


[...] Neste caso, uma percepção profunda o bastante do que é a com-posição, enquanto destino do desencobrimento, não poderia fazer brilhar o poder salvador em sua emergência? [GA7CFS, 31]


O descobrimento é o destino que, cada vez, de chofre e inexplicável para o pensamento, se parte, ora num des-encobrir-se pro-dutor ora num des-encobrir-se ex-plorador e, assim, se reparte ao homem. O de-sencobrimento ex-plorador tem a proveniência de seu envio no des-cobrimento pro-dutor, ao mesmo tempo em que a com-posição de-põe num envio do destino a Poiesis.
Assim, a com-posição se torna a essência da técnica, por ser destino de um desencobrimento, nunca, porém, por ser essência, no sentido de gênero e essentia. [GA7CFS, 33]


Na condição de destino, a vigência da técnica im-põe ao homem entrar no que ele mesmo não pode por si mesmo nem inventar e nem fazer; é que não há algo assim, como um homem, que, exclusivamente por si mesmo, fosse tão homem.

Todavia, se o destino (o envio) da com-posição é realmente o perigo extremo, não só para a essência do homem mas também para todo desencobrimento, como tal, será que ainda se pode chamar de concessão um envio assim? Sem dúvida e sobretudo, caso, no envio, tenha de medrar e crescer o que salva. Todo destino de um envio acontece, em sua propriedade, a partir de um conceder e como um conceder. [GA7CFS, 34]


Questionando, porém, o modo em que a instrumentalidade vigora numa espécie de causalidade, faremos a experiência do que vige na técnica, como destino de um desencobrimento. [GA7CFS, 35]

Submitted on:  Thu, 26-Aug-2021, 19:15