Fröhlichen Wissenschaft

Gaia Ciência, Nietzsche O que significa Gaia ciência? “Ciência” [Wissenschaft] não é, aqui, um termo para designar a ciência especializada, tal como a encontramos ainda hoje, juntamente com todas as parafernálias que foram sendo elaboradas durante o transcurso do século passado e que assumiram, assim, uma determinada forma. “Ciência” tem em vista a postura [Haltung] e a vontade [Wille] em relação ao saber essencial [wesentlichen Wissen]. Com efeito, a todo e qualquer saber pertencem, incontornavelmente conhecimentos [Kenntniss], e, para Nietzsche em seu tempo, em um sentido acentuado, os conhecimentos das ciências da natureza [Naturwissenschaft]; mas esses conhecimentos não perfazem a essência do saber propriamente dito. Esta reside na relação a cada vez fundamental [jeweiligen Grundverhältnis] do homem [Mensch] com o ente [Seiende], ou seja, no modo da verdade [Art der Wahrheit] e na decisão [Entschiedenheit] estabelecida com essa relação fundamental [Grundverhältnis]. “Ciência”, essa palavra está aqui em ressonância com a palavra “paixão” [Leidenschaft]: a paixão de um assenhoramento [Herrsein] bem fundado do que nos vem ao encontro [begegnen], exatamente como do modo como vamos ao encontro do que vem ao nosso encontro e o posicionamos em metas [Ziel] grandiosas e essenciais. Gaia ciência? O caráter de gaia aqui denominado não designa o divertimento [Lustigkeit] e a superficialidade vazios que são característicos do prazer fugidio, o fato de alguém ter “prazer”, por exemplo, em meio à ocupação imperturbada com questões científicas; o que se tem em vista é aquela serenidade do ser superior que não é mais abalada nem mesmo por meio do que há de mais duro e terrível, isto é, dito em termos do âmbito do saber, por meio do que há de mais digno de questão, mas que antes se fortalece com isso, na medida em que o afirma em sua necessidade. Somente a partir do saber da Gaia ciência assim compreendida podemos ter clareza quanto ao que há de terrível no pensamento do eterno retorno do mesmo e, com isso, quanto a esse pensamento mesmo em seu conteúdo essencial. Agora já concebemos melhor por que Nietzsche comunica esse pensamento demoníaco pela primeira vez na conclusão de A gaia ciência; pois, segundo a coisa mesma, o que é mencionado aqui na conclusão não é o fim, mas o início de A gaia ciência, seu início e fim ao mesmo tempo: o eterno retorno do mesmo, aquilo que a “gaia ciência” precisa saber em primeiro lugar e por fim para ser um saber propriamente dito. Gaia ciência: isso não é, para Nietzsche, outra coisa senão o nome para a “filosofia”, para aquela filosofia que ensina em sua doutrina fundamental o eterno retorno do mesmo [ewige Wiederkunft des Gleichen]. [GA6T1:239-240; tr. Casanova:GA6MAC:188-189]

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