frei

Category: Heidegger - Termos originais
Submitter: mccastro

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Todo e qualquer conceito de liberdade [Freiheit] tem, em verdade, implicações ontológicas, por meio das quais se determina previamente de que maneira são respondidas as perguntas que cada concepção de liberdade [Freiheit] tem de responder. Por isso, somente mediante uma alteração das suposições ontológicas fundamentais pode-se mesmo alcançar um novo conceito de liberdade [Freiheit]. Esse estado de coisas torna-se um pouco mais distinto se alcançamos inicialmente uma clareza quanto ao tipo de perguntas que uma concepção de liberdade [Freiheit] tem de responder. Podemos dizer genericamente que essas perguntas concernem à significação do termo “livre” [frei]. Esse termo pode ser usado como adjetivo ou como advérbio e serve, na linguagem cotidiana, para a caracterização tanto de pessoas [Person] quanto de modos de comportamento [Verhalten]. Assim, uma concepção de liberdade [Freiheit] não deve apenas esclarecer o que se tem em vista propriamente quando designamos uma pessoa ou um modo de comportamento [Verhalten] como “livre” [frei]: ela também tem [24] de esclarecer como se relacionam essas duas possibilidades de caracterização uma diante da outra. Desse modo, podemos ser da opinião de que uma pessoa [Person] só pode ser chamada de “livre” [frei] na medida em que se comporta de uma maneira que pode ser caracterizada pelo predicado “livre” [frei] ou ao menos está em condições de fazê-lo. Ou então afirmamos que modos de comportamento [Verhalten] só podem ser denominados “livres” se eles são os modos de comportamento [Verhalten] de pessoas que precisam ser caracterizadas como tais pelo predicado “livre” [frei]. Se se defende a segunda tese mencionada, então se tem de elucidar o que significa o fato de pessoas como tais precisarem ser caracterizadas pelo predicado “livre” [frei]. O termo “livre” [frei] é, além disso, uma palavra de contraste; ou seja: só se pode empregar o termo “livre” [frei] de maneira significativa se também se tem uma compreensão ao menos vaga do termo “não livre” [unfrei]. Por isso, toda concepção de liberdade [Freiheit] é ao mesmo tempo [Zeit] uma concepção da não-liberdade [Unfreiheit]. Nas duas possibilidades de concepção da liberdade [Freiheit] citadas, a explicitação da significação de “não livre” [unfrei] diferencia-se essencialmente. Se se compreende o predicado “livre” [frei] em primeira linha como um predicado comportamental, então é suficiente fornecer um critério segundo o qual se apresenta sob que circunstâncias se deve falar de um comportamento [Verhalten] livre e sob que circunstâncias se deve falar de um comportamento [Verhalten] não-livre. Se, ao contrário, se compreendem as pessoas essencialmente como livres, então é preciso levar em conta, além disso, a circunstância de que as pessoas nem sempre se comportam de maneira livre sem que a razão para isso esteja nas circunstâncias de seu comportamento [Verhalten]. Por conseguinte, em sua liberdade [Freiheit] essencial, as pessoas também são no mínimo possivelmente não livres, de modo que é necessária uma resposta à pergunta sobre como se relacionam aqui uma com a outra liberdade [Freiheit] e não-liberdade [Unfreiheit] e como as pessoas se comportam em sua liberdade [Freiheit] e em sua não-liberdade [Unfreiheit]. [As duas posições esboçadas não equivalem às concepções de liberdade [Freiheit] elaboradas no interior da tradição filosófica. Em princípio, porém, à primeira posição corresponde a teoria aristotélica da liberdade [Freiheit], e, à segunda, a teoria kantiana.] [FigalFL:23-24


Submitted on:  Wed, 04-Aug-2021, 14:09