que é o homem?

Category: Heidegger - Ser e Tempo etc.
Submitter: mccastro

que é o homem?

Was ist der Mensch? Metafísica enquanto filosofar, enquanto nosso agir próprio [menschliches Tun], humano. Como e para onde a metafísica, enquanto nosso agir próprio, enquanto nosso agir humano, pode se evadir de nós? Como e para onde, se nós mesmos somos os homens? Mas sabemos, afinal, o que nós mesmos somos? O que é o homem? O coroamento da criação [Schöpfung] ou um caminho extraviado [Irrweg], um grande mal-entendido [Missverständnis] e um abismo [Abgrund]? Se sabemos tão pouco sobre o homem, como é que nossa essência não seria estranha para nós? Como é que o filosofar, enquanto um agir humano, não haveria de permanecer encoberto no obscuro dessa essência? [GA29-30:6; tr. Casanova]


O que é o homem, para que algo assim aconteça com ele em seu fundamento? Será que o que conhecemos como sendo o homem, o animal [Tier], o bobo da civilização [Narr der Zivilisation], o guardião da cultura [Hüter der Kultur], talvez mesmo a personalidade [Persönlichkeit], será que tudo isso só se apresenta nele como a sombra [Schatten] de algo totalmente diverso, disso que chamamos o ser-aí [Dasein]. [GA29-30:9; tr. Casanova]
Perguntamos novamente: o que é o homem? Uma transição [Übergang], uma direção [Richtung], uma tempestade [Sturm] que varre nosso planeta, um retorno [Wiederkehr] ou um enfado [Überdruss] para os deuses? Não o sabemos. Mas vimos que a filosofia acontece nessa essência enigmática [rätselhaften Wesen]. [GA29-30:10; tr. Casanova]
Careceríamos de uma morosa preparação através da questão “o que é o homem?”. Mas onde está firmado o saber sobre o ser do homem? Tomado de início e de modo próprio é preciso que se diga: justamente na antropologia não; nem na psicologia, na caracterologia e coisas do gênero, mas em toda a história do homem. E esta não aponta para uma historiografia biográfica – ela não é absolutamente uma historiografia mas para aquela tradição originária, que reside em todo e qualquer agir humano enquanto tal – quer ele seja ou não consignado e passado adiante através de relatos. O ser-aí do homem já sempre traz consigo a cada vez a verdade sobre si. [GA29-30:10; tr. Casanova]
Será que perguntar pela essência do homem significa: ao invés do animal, tomar agora o homem por tema? Este é um estado de coisas evidente – e, no entanto, ao perguntarmos pela essência do homem, perguntamos por nós mesmos. Isto, contudo, não significa apenas que, com esta pergunta, ao invés de permanecermos orientados para certos objetos (animal e pedra), nos remetemos agora a “sujeitos” e refletimos sobre eles. Isto também significa que perguntamos por um ente que, como tarefa, nos è dado ser. O que implica que só estaremos efetivamente em condições de colocar em questão o homem se perguntarmos corretamente por nós mesmos. Com isto, não está certamente dito que nós mesmos nos tomamos por toda a humanidade ou quiçá pelos ídolos desta humanidade. Muito ao contrário: só fica claro através daí o fato de toda pergunta do homem sobre o homem colocar de início e por fim em questão a respectiva existência do homem. Esta pergunta – o que é o homem? – não deixa o homem singular, nem, com mais razão, o que coloca efetivamente a pergunta, recair na indiferença tranquilizadora de um caso particular qualquer da essência universal chamada homem, mas inversamente: esta essência universal do homem só se toma enquanto tal essencial, se o singular se compreende em seu ser-aí. Colocada efetivamente, a pergunta “o que é o homem?” entrega de maneira expressa à responsabilidade do homem o seu ser-aí. Esta responsabilização pelo ser-aí é o Index da finitude que lhe é intrínseca. [GA29-30:407-408; tr. Casanova]
Quem forma o mundo? Segundo a tese, o homem. Mas o que é o homem? Ele forma o mundo mais ou menos do mesmo modo como forma um coro ou forma o mundo porque é essencialmente homem? “O homem” – assim como o conhecemos ou como aquele que na maioria das vezes não conhecemos? O homem, tendo em vista que ele mesmo é possibilitado em seu ser-homem por algo? Em parte, a possibilitação consistiria justamente no que estabelecemos como a formação de mundo? Pois as coisas não se dão de tal modo que os homens existem e lhes ocorre entre outras coisas formar um mundo. Ao contrário, a formação de mundo acontece, e, somente por sobre o fundamento deste acontecimento, um homem pode existir. O homem qua homem é formador de mundo; e isto não significa: o homem tal como ele perambula pela rua, mas o ser-aí no homem é formador de mundo. [GA29-30:413; tr. Casanova]
A questão sobre quem é o homem [wer der Mensch sei] tem agora pela primeira vez o elemento irrompido de uma via [das Aufgebrochene einer Bahn], que, contudo, transcorre em meio ao desprotegido [Ungeschützten] e, assim, deixa advir sobre si a tempestade do seer [Sturm des Seyns]. [GA65:§175; tr. Casanova]

Submitted on:  Wed, 14-Jul-2021, 13:37