moral teórica

A primeira tarefa da moral teórica é a redução e a inversão no sentido da vivência moral imediata, nos seus diferentes níveis.

Os pontos de partida e de referência deste processo são as condutas voluntárias, coletivas e individuais, e os seus símbolos exteriorizados, apreendidos na experiência moral quotidiana e sobre que fornece informações a ciência dos costumes. A moral teórica atualiza por reflexão os dados imediatos latentes, presentes virtualmente, por assim dizer subjacentes a essas condutas e seus símbolos, e descreve-os como tais.

A segunda tarefa da moral teórica é salientar, baseada nessa redução e nessa descrição, a especificidade dessa experiência moral imediata, dos seus dados e das suas certezas, em relação a outras experiências imediatas. A confrontação da primeira com as últimas conduz ao estabelecimento de critérios da especificidade da experiência moral, de que muito carece, em particular, a ciência dos costumes para distinguir o seu objeto — «o fato moral» — dos outros fatos sociais.

A terceira tarefa da moral teórica é a verificação da objetividade dos dados imediatos vividos na variedade infinita da experiência moral, de outro modo dito, a demonstração da sua irresistibilidade e da sua capacidade de integração num conjunto infinito, em que se completam como elementos insubstituíveis, opondo-se deste modo às ilusões subjetivas, coletivas ou individuais. Esta terceira vocação particulariza-se, assim, como reconstrução do conjunto dos dados espirituais da experiência moral imediata, reconstrução da unidade imanente à pluralidade dos seus dados equivalentes.

Realizadas estas três tarefas puramente teóricas, a filosofia moral pode agir indiretamente sobre a experiência moral imediata alargando os seus quadros atuais.

Assim entendida, a moral teórica é essencialmente concreta, dinâmica, ligada à vida e à ação, de que acompanha todas as sinuosidades; é ela radicalmente pluralista e empirista no verdadeiro sentido, isto é, lato, desse termo; é a filosofia do empirismo moral radical, o único que é conforme à estrutura da experiência moral. [Gurvitch]