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Crítica da Razão Prática

Definition:
Os Filósofos, até o momento em que estamos, deduziram comumente a sua moral da sua metafísica. A imensa e muito curiosa originalidade de Kant consistirá em deduzir a metafísica da moral.

Além do seu aspecto especulativo a razão possui um outro, inteiramente prático, pelo qual impõe novos dados inevitáveis e indubitáveis, de alcance e consequências diferentes, e em que descortina horizontes inesperados.

Sentimos em nós a injunção de uma vontade, de uma "boa vontade", e simultaneamente a necessidade de orientá-la e de mantê-la no caminho que deve percorrer. Que caminho será esse? Trata-se aqui de moral: que princípios foram encontrados para a moral? Não é possível fundá-la, como já se tem feito, no prazer, nem na felicidade, nem mesmo na ideia de perfeição, pois são todas concepções relativas, utilitárias e inquinadas por um vício de origem, o amor-próprio, o amor de si enquanto pessoa, por onde se perde o seu caráter essencial que é o de ser universal e desinteressada. Com efeito, é preciso agir de tal ou tal modo não porque de nosso ato resulte para nós ou para o mundo tal ou tal consequência, mas simplesmente porque é preciso agir assim. "Pois para que uma ação seja moralmente boa não basta que seja conforme à lei moral; requer-se também que seja executada em vista dessa lei...."

Palavra decisiva em que se resume toda a moral kantiana, talvez todo o gênio de Kant. Meditemos um instante sobre ela. Esse absoluto, esse universo, esse real, enfim, que se furtava à razão especulativa, nós o encontramos aqui, na razão prática, em toda a sua força, sua evidência e sua intransigência. Existe no homem, no fundo do homem, uma verdade, uma realidade, um mandamento que não apenas se lhe impõem sem provir dele, mas aos quais ele deverá submeter-se inteiramente, sem reservas e de tal maneira que em sua intenção não entre nada dele próprio, isto é, nenhuma preocupação egoísta, nenhuma esperança de satisfação ou de recompensa. De sorte que, levando as coisas à sua consequência extrema, poder-se-á dizer que com a natureza humana, e desde que o mundo é mundo, jamais foi realizada uma ação integralmente moral nem jamais poderá sê-lo.

Esse mandamento que encontramos em nós é um "imperativo", e um "imperativo categórico", isto é determinado, imposto pelo dever, aceito pela vontade livre e de tal natureza que "declara uma ação necessária em si, independentemente de qualquer intenção ou finalidade estranha..." Tal afirmação ou imposição só pode ter um valor impessoal, isto é, acima da personalidade, desinteressado, não temporal, ou por outra, estendendo-se a todos os termos e superando os limites do temponecessário, em suma, e universal. Tais são exatamente os característicos que nos chamam a atenção na fórmula tríplice sob a qual esse imperativo se apresenta:

"Procede em todas as tuas ações de modo que a norma do teu ¦proceder possa ser erigida em lei universal."

"Procede sempre de modo que trates a humanidade como um fim, tanto na tua pessoa como na dos outros, e nunca te sirvas dela como um simples meio."

Finalmente, conceber "a ideia da vontade de cada ser racional como vontade legisladora universal"e.

Liberdade, vontade — armadura, fundamento e mesmo conteúdo da vida moral: pois a vontade é autônoma e essas leis que aceita, é ela que as impõe a si mesma. Ou pelo menos, se isto parecer um pouco forçado, e de acordo com os próprios termos de Kant, uma "vontade perfeitamente boa se determinaria por si, de acordo apenas com a ideia do bem...", e é nisso que consiste a sua "autonomia" — na "aptidão" de sua norma "para se transformar em lei universal".

Mostra Kant a seguir — e tal será em grande parte o objeto da Critica da razão prática — como "o conceito da liberdade dá a explicação da autonomia da vontade" ou permite estabelecer as grandes máximas da moral legisladora. Vemos aqui a razão sair do seu impasse especulativo e, pelo seu caráter prático, atingir esse incondicionado que em vão havia buscado antes. Seja qual for o valor dos princípios da ação moral assim estabelecidos, seja qual for a profundeza sutil da argumentação, o certo é que chegamos, pelas consequências metafísicas, ao ponto vivo da originalidade do sistema.

Para satisfazer esse ideal moral, e mesmo para que ele possa formar-se, são necessárias certas condições prévias e devem ser fixados alguns postulados que tornam possíveis tanto a sua formação quanto a sua execução. "Estes postulados", diz Kant, "são os da imortalidade, da liberdade considerada positivamente (como causalidade de um ser considerado como pertencente ao mundo inteligível e da existência de Deus. O primeiro decorre da condição praticamente necessária de um dado apropriado à realização completa da lei moral; o segundo, da suposição necessária da independência em face do mundo dos sentidos e da faculdade de determinar a sua própria vontade de acordo com a lei de um mundo inteligível, isto é, da liberdade; o terceiro, da condição necessária da existência do soberano bem num tal mundo inteligível, pela suposição do bem supremo independente, isto é, da existência de Deus

Compreendamos bem o que acima foi dito; pesemos os termos e observemos, na expressão como no pensamento, um traço marcante do espírito e da maneira de Kant. Não se trata aqui desse grito patético do senso comum com o qual se apela para a justiça diante da injustiça do mundo, para o triunfo final do bem diante do triunfo insolente e, pelo menos assim se espera, transitório do mal. Absolutamente, embora no fundo possa haver também algo disso: o que temos aqui são verdades deduzidas por um método dialético ou lógico. É preciso que o ser dure infinitamente, que seja imortal, para que possa desenvolver-se, realizar-se e permanecer realizado: pois que sentido teria essa realização se em seguida pudesse aniquilar-se? A liberdade é necessária para que os seus atos possam ter merecimento. Finalmente, o conjunto necessita de Deus como modelo e garantia.

Notemos ainda a expressão "mundo inteligível", que volta sempre como um leitmotiv. E de fato o é. Esse mundo inteligível, o mundo das coisas em si, dos "noúmenos", a razão pura ainda o colocava no termo da sua especulação como uma necessidade mas não podia deduzi-lo nem conhecê-lo. A razão prática nele penetra precisamente pela prática, pela moral. Penetra: isto não quer dizer que adquira dele um conhecimento teórico, especulativo. Não conhecerá melhor a substância ou a natureza dessa imortalidade, dessa liberdade ou desse Deus: vivê-los-á. Possuí-los-á não pela especulação, mas pela ação.

Assistimos assim à reconstrução grandiosa desse mundo inteligível que tínhamos sido levados a eliminar, recobramos esse paraíso que temíamos irremediavelmente perdido. Os paralogismos ou sofismas da razão pura nos tinham arrebatado ou pelo menos velado a alma, Deus e o mundo das essências puras; a razão prática no-los devolve, no-los torna sensíveis, embora não permita discernir-lhes a economia total.

Tal é a viravolta arrojada pela qual Kant torna a entrar na metafísica após ter parecido interditar-se o acesso a ela. É uma operação filosófica surpreendente, que de fato surpreendeu os filósofos. Pode-se contestá-la, como adiante se verá; pode-se apelar de Kant para o próprio Kant, da Crítica da Razão Prática para a inexorável Crítica da Razão Pura; é possível voltar as armas do dialético contra ele próprio. Dois fatos, entretanto, permanecem: a originalidade sem par da tentativa e a elevação da ideia de moralidade a uma altura que não se imaginava pudesse ser atingida. [Truc]


Termina, em geral, toda a filosofia de Kant com uma grande ideia, que é ao mesmo tempo o cume mais alto onde chega o idealismo científico do século XVIII, e do alto do qual se descortinam os novos panoramas da filosofia do século XIX.

Kant escreveu nos fins do século XVIII, e termina seu sistema filosófico com a proclamação da primazia da razão prática sobre a razão pura.

A razão prática, a consciência moral e seus princípios, tem a primazia sobre a razão pura. Que quer dizer isto? Quer dizer: primeiro, que, com efeito, a razão prática tem uma primazia sobre a razão pura teórica, no sentido de que a razão prática, a consciência moral, pode lograr aquilo que a razão teórica não logra, conduzindo-nos às verdades da metafísica, conduzindo-nos àquilo que existe realmente, conduzindo-nos a esse mundo de puras almas racionais, livres, e que ao mesmo tempo são santas. De modo que essa liberdade não é uma liberdade de indiferença, mas vontade de santidade, vontade livre, regida pelo Supremo Criador, que é Deus, no qual o ideal e o real entram em identificação.

A consciência moral, pois, a razão prática, ao conseguir nos conduzir até essas verdades metafísicas das coisas que existem verdadeiramente, tem primazia sobre a razão teórica. Mas, ademais, a razão teórica está, de certo modo, ao serviço da razão prática, porque a razão teórica não tem por função mais que o conhecimento deste mundo real, subordinado, dos fenômenos, que é como um trânsito ou passagem ao mundo essencial dessas "coisas em si mesmas" que são Deus, o reino das almas livres e as vontades puras.

A realidade histórica então, pode qualificar-se como mais ou menos próxima dessas realidades ideais. A realidade histórica, então, adquire sentido. Podemos dizer que tal época é melhor que tal outra, porque, como já temos com as ideias e os postulados da razão prática um ponto de perfeição ao qual referir a relativa imperfeição da história, então cada um dos períodos históricos se ordena nessa ordem de progresso ou regresso. A história aparece no horizonte da filosofia como um problema ao qual a filosofia imediatamente vai deitar a mão.

Assim, do alto dessa primazia da razão prática, descortinamos já os novos problemas que a filosofia vai apresentar depois de Kant. Estes problemas são, principalmente, dois: primeiro, a explicação da história, a teoria da história, o esforço para dar conta dessa ciência chamada história, e depois o propósito de pôr a vontade, a ação, a prática, a moral por cima da teoria e do puro conhecimento. [Morente]

Submitted on 29.03.2012 22:05
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