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magia

Definition:
(gr. magike techne; lat. magia; in. Magie; fr. Magie, al. Magie; it. Magia).

Ciência que pretende dominar as forças naturais com os mesmos procedimentos com que se sujeitam os seres animados. O pressuposto fundamental da magia é, portanto, o animismo, sua melhor definição, dada por Reinach, é de "estratégia do animismo" (Mythes, cultes et religions, II, Intr., p. XV). Instrumentos dessa estratégia são: encantamentos, exorcismos, filtros e talismãs, por meio dos quais o mago se comunica com as forças naturais ou celestiais ou infernais, convencendo-as a obedecer-lhe. O caráter violento ou matreiro das operações com que se produz a obediência das forças naturais é outra característica da magia, estratégia de assalto, que quer conquistar de vez, do contrário da estratégia da ciência moderna, que tende à conquista gradativa da natureza, sem lançar mão de meios violentos ou sub-reptícios.

A magia é de origem oriental e difundiu-se no Ocidente no período greco-romano (cf. F. Cumont, Oriental Religions in Roman Paganism, cap. VII). Circulou mais ou menos ocultamente durante a Idade Média e voltou a agir às claras durante o Renascimento, período em que muitas vezes foi considerada complemento da filosofia natural, ou seja, como a parte desta que possibilita agir sobre a natureza e dominá-la. Era assim considerada por Pico della Mirandola (De hominis dignitate, fl. 136 v.) e por todos os naturalistas do Renascimento. Johannes Reuchlin, Cornélio Agripa, Teofrasto Paracelso, Gerolamo Fracastoro, Gerolamo Cardano, Giovambattista della Porta, todos visam a eliminar o caráter diabólico atribuído durante a Idade Média à magia, transformando-a na parte prática da filosofia. Delia Porta distinguiu nitidamente a magia diabólica, que se vale das ações dos espíritos imundos, da magia natural, que não ultrapassa os limites das causas naturais e cuja prática parece maravilhosa apenas porque seus procedimentos permanecem ocultos (Magia naturalis, 1558,1, 1). Essa distinção foi repetida por Campanella, que também distinguia uma magia divina que opera por virtude da graça divina, como a de Moisés e dos outros profetas (Del senso delle cose e della magia., 1604, IV, 12). A respeito da magia no Renascimento, cf. Garin, Medioevo e Rinascimento, 1954, cap. III.

Com o progresso da ciência, elimina-se o pressuposto da magia, que é animismo, retirando-se as bases da estratégia de assalto em que ela consistia. Francis Bacon, apesar de ser o maior herdeiro dessa exigência prática que a magia representava, compara-a às novelas de cavalaria do ciclo do rei Artur, considerando-a proveniente da metafísica que indaga as formas, ao passo que da física, que é a investigação das causas eficientes e materiais, nasce a mecânica como ciência prática (De augm. scient., III, 5). Portanto, no mundo moderno a magia desapareceu completamente dos horizontes da ciência e da filosofia. No que concerne a esta última, constitui exceção a obra de Novalis, que no período romântico defendeu um ‘idealismo mágico’, segundo o qual boa parte das atividades humanas mais comuns é magia. Novalis diz: ‘O uso ativo dos órgãos nada mais é que pensamento mágico, taumatúrgico, ou uso arbitrário do mundo dos corpos; de fato, a vontade outra coisa não é senão magia, enérgica capacidade de pensamento" (Fragmente, § 1731). E exprimia assim o princípio de seu idealismo mágico: "O maior mago seria aquele que soubesse também encantar-se a tal ponto que suas próprias magias lhe parecessem fenômenos alheios e autônomos. E não poderia ser esse o nosso caso?" (Ibid., § 1744).

Alheia ao mundo da filosofia e da ciência, a magia permanece como uma das categorias interpretativas da sociologia e da psicologia. Sobre a função da magia no homem primitivo, Malinowski assim se expressa: "A magia fornece ao homem primitivo um número de atos e de crenças rituais já feitos, uma técnica mental e prática definida que serve para superar os obstáculos perigosos em cada empreendimento importante e em cada situação crítica. (...) Sua função é ritualizar o otimismo do homem, reforçar sua fé na vitória da esperança sobre o medo" (Magic Science and Religion, ed. Anchor Book, p. 90). Mas a atitude primitiva não se encontra só no homem primitivo: o homem civilizado nela reincide em determinadas circunstâncias, que vão desde a falta de técnicas aptas a enfrentar situações difíceis até a incapacidade de descobrir como utilizar essas técnicas. Crenças mágicas são, portanto, frequentes na vida diária, ainda que muitas vezes não confessadas. Não sem razão, Sartre chamou de comportamento mágico a reação emotiva patológica que às vezes é a base de distúrbios mentais (v. emoção). Além disso, para Jung, a origem da magia é a ideia de uma energia universal, latente no inconsciente de todo o gênero humano e identificada com a ideia de Deus (Psicologia do inconsciente, 1942, cap. 5). Lévi-Strauss fez uma analogia entre a terapêutica mágica e a psicanálise porque, através da conscientização dos conflitos internos do paciente, ambas possibilitam uma experiência específica na qual os conflitos podem desenvolver-se e manifestar-se livremente (Anthropologie structurale, 1958, pp. 217 ss.). [Abbagnano]


Outro aspecto da teoria neoplatônica do pneuma fantástico herdado pela cultura medieval é aquele em que ele se apresentava como o veículo e o sujeito dos influxos mágicos. Muitas vezes se perguntou sobre o que se devia entender por fenômenos mágicos, e, por mais que tal termo fosse habitualmente usado com desenvoltura, não está claro se algo como um “fenômeno mágico” é em si definível, sem que se recorra a um jogo de oposições que variam de acordo com a variedade das culturas. Contudo, pelo menos no que diz respeito à época de que aqui nos ocupamos, não podemos afirmar, sem demasiada incerteza, que falar de magia como de uma esfera distinta da pneumatologia não tem muito sentido. Em uma cultura pneumática, ou seja, em uma cultura [170] baseada na noção de “espírito” como quid medium entre corpóreo e incorpóreo, a distinção entre magia e ciência (e até entre magia e religião) não é de nenhuma utilidade. Só o ocaso da pneumatologia e a consequente mudança semântica, levando a palavra “espírito” a identificar-se com a vaga noção que nos é familiar e adquire algum sentido só em oposição ao termo “matéria”, tornarão possível a dicotomia entre corpóreo e incorpóreo, condição necessária para uma distinção entre ciência e magia. Os chamados textos mágicos da Idade Média (é o caso dos textos astronômicos e alquímicos) têm simplesmente por objeto alguns aspectos da pneumatologia (especialmente, certos influxos entre espírito e espírito, ou entre espírito e corpo) e, sob este aspecto, não se diferenciam essencialmente de textos como as poesias de Cavalcanti ou de Dante, que seria certamente considerado escandaloso definir como “mágicos”. Assim, o tratado árabe conhecido no Ocidente sob o nome de Picatúx, que tanto influenciou o hermetismo renascimental, define a “chave da sabedoria” como a “perfeita natureza”, e esta, por sua vez, como “o pneuma do filósofo que está unido com a sua estrela” (definição que, nesta altura, deveria ser perfeitamente compreensível para nossos leitores) e classifica depois as várias formas de magia, dependendo se elas têm por objeto “espírito por espírito” (magia prática e fantasmagoria), “espírito por corpos” (talismânica), e “corpos por corpos” (alquimia).[[Picatrix: Das Ziel des Weisens, von Pseudo-Magriti. Londres, 1962, p. 7 e 205.]] Em particular, fenômenos que acabamos considerando como mágicos por excelência, tais como a fascinação, deixam-se subsumir perfeitamente na doutrina dos influxos pneumáticos, e, como tais, são explicados pelos autores medievais. E se a fascinação pôde por algum tempo ser comparada com o amor quase como se fosse um modelo paradigmático, isso se deve ao fato de que ambos pertenciam à esfera do pneuma fantástico [[A aproximação entre o amor, que nasce do olhar, e a fascinação através dos olhos, já aparece em Plutarco (Symposiaka problemata, I, V, p. VII: de iis qui fascinare dicuntur. “A vista, que é vaga e maravilhosamente móvel, graças ao espírito que emite uma ponta ígnea a partir dos olhos, dissemina uma certa força admirável, sob cujo efeito os mortais cumprem e padecem muitas coisas... Aqueles que tocam ou escutam não são certamente feridos como os que olham e são olhados fixamente... A vista das coisas belas, por mais que fira os olhos de longe, acende no ânimo dos amantes um fogo intestino.”)]]. A opinião segundo a qual, “com uma certa arte das mulheres e graças ao poder dos demônios, [171] os homens podem ser transformados em lobos ou jumentos”, é explicada por Alguero como ação dos demônios sobre o espírito fantástico que, “enquanto o corpo de um homem está deitado em um lugar, vivo mas com os sentidos pesados mais do que o sono, pode revestir-se da forma de um animal qualquer e aparecer aos sentidos de outros homens”, e explicada por Cecco d’Ascoli como uma ilusão demoníaca da fantasia, ou como a assunção de um corpo aéreo por parte de um demônio.[[ALGUERO DE CLARAVAL. Uber de spiritu et anima (Patrologia latina, 40, 798); CECCO D’ASCOLI, no Comentário à Sfera di Sacrobosco, em: L’acerba, op. rit.]]

A enucleação, no interior da pneumatologia medieval, de uma esfera e de uma literatura mágica, é obra de uma época que havia perdido suas chaves e não podia (ou não queria) compreender a unidade da doutrina nem o sentido preciso das suas articulações. Este processo começa já com a teologia escolástica que, mesmo aceitando a doutrina médica dos espíritos, se esforça por isolá-la no âmbito da fisiologia corpórea e por eliminar-lhe todas as implicações soteríc ilógicas e cosmológicas que tornavam o pneuma um mediador concreto e real da “união inefável” entre alma e corpo [[É assim que Santo Tomás (De spiritualibus maturis, art. VII) responde negativamente à pergunta Utrum substantia spiritualis corpori aereo uniatur [Se a substância espiritual se une ao corpo aéreo], e que Alberto Magno (De sp. et resp. 1,1.8) nega que o espírito seja o medium da união entre alma e corpo.]]. Neste ponto, inicia-se um declínio, que levará fatalmente a pneumatologia para a sombra dos círculos esotéricos, onde sobreviverá por muito tempo como se fosse o caminho, que já se tomou impraticável, que nossa cultura podería ter tomado, mas que efetivamente não tomou. Ela continuará visível só na doutrina médica dos espíritos corpóreos, que ainda está viva em Descartes e, com o nome de vapores, ainda [172] aparece na Encyclopédie, sabendo que Harvey já havia proporcionado o novo modelo da circulação do sangue. Antes de entrar na sombra, porém, a ideia de pneuma ainda deveria produzir um fruto tardio e esplêndido e, tornando-se “espírito de amor”, encontrar a sua expressão mais elevada na lírica estilonovista. [AgambenE:170-173]
Reference: MAGIA

Submitted on 28.12.2021 23:42
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