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gramática

Definition:
(gr. grammatike; lat. grammatica; in. Grammar; fr. Grammaire; al. Grammatik; it. Grammatica).

Segundo uma tradição registrada por Diógenes Laércio (III, 25), Platão foi o primeiro a "teorizar a possibilidade da gramática". De fato, é frequente nos textos de Platão a referência à gramática, cuja natureza é definida com mais precisão no Crátilo. O fundamento dessa definição é a analogia entre a gramática e a arte figurativa. Assim como um artista procura reproduzir os traços dos objetos com o desenho e as cores, o gramático procura fazer a mesma coisa com as sílabas e as letras. Seu objetivo é "imitar a substância das coisas". Se ele chegar a reproduzir tudo o que pertence a essa substância, sua imagem será bela, mas, se deixar alguma coisa fora ou se acrescentar algo não pertinente, sua imagem não será bela. Nesse aspecto, o gramático é um "artífice de nomes, portanto um legislador que pode ser bom ou mau" (Crat., 431 b ss.). Esse é o primeiro conceito de gramática formulado, e é normativo porque, segundo ele, o gramático não descreve, mas prescreve: é um "legislador". Parece ser análogo o conceito de Aristóteles, que define a gramática como "ciência do ler e do escrever" (Top., VI, 5, 142 b 31). Esse conceito praticamente não foi alterado até a Idade Moderna. No fim da escolástica começou-se a falar de uma "gramática especulativa" (Tomaseu de Erfurt compôs uma que foi atribuída a Duns Scot), e Campanella incluiu uma gramática semelhante em sua Philosophia rationalis (1638), que inclui Poética, Retórica e Dialética. No século seguinte, Wolff pôs entre as outras ciências a gramática especulativa ou filosofia da gramática, "na qual se explicam as regras gerais pertencentes à gramática em geral, sem levar em conta os particularismos das línguas especiais" (Log., Disc. prael., 1735, § 72).

Foi só com Humboldt que surgiu um novo conceito de gramática, no famoso texto Sobre a diversidade da constituição da linguagem humana (1836), a partir do qual a gramática começou a ser concebida como uma disciplina não normativa ou legislativa, mas descritiva, sendo seu objetivo investigar, na língua, as uniformidades que constituem regras ou leis. Por esse conceito moldaram-se todos os estudos modernos da gramática, que passaram a utilizar cada vez mais as considerações estatísticas (cf, p. ex., G Herdan, Language as Choice and Chance, Gröningen, 1956). No campo filosófico, Heidegger encarou a exigência de libertar a gramática da lógica que toma as coisas como modelo, ou seja, o "instrumental intra-mundano": "A tarefa de libertar a gramática da lógica exige uma compreensão preliminar e positiva da estrutura a priori do discurso como existencial. Essa tarefa não pode ser cumprida subsidiariamente por meio de correções e complementações do que foi legado pela tradição. Nesse propósito, devem-se questionar as formas fundamentais em que se funda a possibilidade semântica de articulação do que é suscetível de compreensão e não apenas dos entes intra-mundanos conhecidos teoricamente e expressos em frases" (Sein und Zeit, § 34). Desse ponto de vista, não basta realizar uma "gramática geral" baseada na generalização das regras de todas as línguas, visto que mesmo essa gramática geral pode ser restrita demais no que diz respeito às formas lógicas em que se molda. Heidegger acrescenta: "A semântica tem raízes na ontologia do ser-aí: sua sorte está ligada ao destino deste" (Ibid., § 34). Em outros termos, Heidegger desejaria uma gramática que levasse em conta não só e não tanto a estrutura das coisas, em que se molda a estrutura da oração, mas também e sobretudo a estrutura da existência humana, que é específica e diferente da estrutura das coisas. Esse também parece ser o pressuposto da gramática gerativa e transformacional de que fala Chomsky; com efeito, este se refere frequentemente a Descartes e, em geral, aos filósofos do séc. XVII, que ressaltaram o caráter especificamente humano e criativo da linguagem. Essa gramática gerativa deveria solucionar o problema de "construir uma teoria da aquisição linguística e de explicar as habilidades inatas específicas que possibilitam essa aquisição" (Aspects of the Theory of Syntax, 1956, I, § 4). Uma gramática desse tipo, por um lado, seria "um modelo explicativo, ou seja, uma teoria da intuição linguística do falante nativo" e, por outro, mostraria que "as estruturas profundas são muito semelhantes de uma língua para outra e as regras que as manipulam e interpretam também parecem derivar de uma classe muito restrita de operações formais concebíveis" (Ensaios linguísticos, trad. it., III, 1969, pp. 19 e 272). Essa gramática seria, assim, a matriz de qualquer gramática possível e também apresentaria os critérios para a escolha de determinada gramática na constituição de uma linguagem. [Abbagnano]

Segundo Lalande, é a "ciência objetiva das regras que as necessidades lógicas, o uso e a vida social impuseram aos indivíduos no emprego da língua". A Gramática comportaria três momentos distintos: "gramática geral, ciência das regras comuns a todas as línguas. . . gramática comparada, ciência que estuda as relações e as diferenças das línguas comparadas entre si. Gramática histórica, que estuda a história da formação das regras". Nesta visão se colocam perspectivas distintas e contraditórias, que não podem ser unificadas sob um mesmo termo. Por um lado, uma gramática geral, que afirmaria regras universais, por outro, as gramáticas particulares, que seriam comparadas entre si. Nesta perspectiva filosófica existe ambiguidade sobre o primado do geral e do particular.

A mesma ambiguidade é notada no dicionário de dois linguistas, onde a gramática é dita "a ciência da estrutura de uma língua e as regras e princípios de seu uso geralmente aceito". Afirmam a dependência gramatical aos usos constantes da língua, enquanto se sabe que a língua tem diferentes funções, que não podem ser apreendidas imediatamente, mas que têm que ser estruturalmente construídas. A língua tem componentes particulares, mas tem também componentes universais, e uma teoria adequada deve estabelecer este relacionamento. Benveniste diz que "diante da extrema complexidade da língua, deve-se, pois, visar estabelecer uma ordenação, ao mesmo tempo nos fenômenos estudados, de modo a classificá-los segundo um princípio racional, e nos métodos de análise, para construir uma descrição coerente, composta segundo os mesmos conceitos e critérios".

Assim, poder-se-iam recusar duas posições distintas: uma, ligada à gramática especulativa, que supõe uma lógica comum a todas as línguas. Esta perspectiva, cujos primeiros passos foram dados por Platão (Crátilo), afirma formas comuns no homem sem procurar os fundamentos de suas diferenças. Outra, ligada ao relativismo empírico, examina a "estrutura" possível de uma língua, o que reduz esta ao seu já realizado. Por isto Benveniste postula o uso da categoria de nível, pois só ela "é adequada para fazer justiça à natureza articulada da linguagem e ao caráter discreto de seus elementos; só ela pode nos fazer encontrar na complexidade das formas a arquitetura singular das partes e do todo". Só assim se poderia explicar como uma palavra liga-se ao mesmo tempo a várias categorias, segundo suas diversas características externas (fonéticas) e internas (semânticas). Mas não se deve deixar de frisar o avanço teórico que a gramática comparativa constitui em relação à linguística anterior. Por exemplo, Franz Bopp (1971-1867) procura por uma língua originária (Ursprache), cujos vestígios ainda se encontrariam no sânscrito, pois entende que a língua é um organismo vivo e teleológico: "as diversas línguas manifestam um esforço constante para combinar materiais heterogêneos, de modo a fornecer à audição ou à visão um todo perfeito..." E por isto se voltará contra as explicações psicológicas, preferindo as mecânicas.

As gramáticas contemporâneas procuram evitar o empirismo, tratando de construir teorias adequadas. Por exemplo, a de Noam Chomsky se aproxima dos postulados de uma teoria da comunicação matematizável. Ele define três modelos da linguagem falada: 1o — relacional ou teoria linguística minimalista. Gramática de estados finitos, onde uma palavra predeterminará as outras (como numa codificação onde as palavras se sucedem e podem ser estudadas numa cadeia markoviana); 2o — classificatória. Enquanto no esquema acima a linguagem falada é representada como um conjunto de redes interconectas, neste modelo estas mesmas redes constituirão classes. Por exemplo, a classe "frase" pode ser decomposta em sub-classes "expressões nominais" e "expressões verbais". Aqui ainda há a análise dos constituintes imediatos da linguagem falada; 3o — transformacional, e considerada a única adequada. Como dirá Chomsky: "Qualquer teoria científica é baseada num número finito de observações e visa relacionar os fenômenos observados e predizer novos fenômenos, através da construção de leis gerais em termos de constructos hipotéticos, tais como (na física por exemplo) ‘massa’ e ‘elétron’- Do mesmo modo, uma gramática do inglês é baseada num corpus finito de elocuções (observações) e conterá certas regras gramaticais (leis) determinadas em termos dos fonemas, frases etc. particulares ao Inglês (constructos hipotéticos). Estas regras expressam as relações estruturais entre as sentenças do corpus e o número indefinido de sentenças geradas pela gramática fora do corpus (predições). Nosso problema é desenvolver e clarificar os critérios para selecionar a gramática correta de cada linguagem falada, isto é, a teoria correta desta linguagem". Com isto ele recusa o positivismo, já que a teoria é irredutível à sua base de verificação: "A gramática de uma dada língua deve ser construída de acordo com uma teoria específica da estrutura linguística, na qual termos como ‘fonema’ e ‘frase’ são definidos independentemente de qualquer língua particular". A gramática gerativa será construída como modelo matemático, através de um alfabeto e de regras de produção sobre este alfabeto. Seu problema essencial será o das relações entre a teoria geral da gramática e as diversas gramáticas particulares. Se se leva em conta a gramática gerativa-transformacional de Chomsky, vê-se que o próprio ponto de partida da gramática, a relação que ela estabelece teoricamente com seu objeto, requerem dela uma resposta funcional, necessariamente. Não se trata de aceitar ou recusar isto, mas mostrar que a noção de "gramática" pode ser aproximada da de "organização". Talvez seja este o problema crucial da grande maioria dos saberes sociais e humanos: estarem sempre referidos ao empírico. (Chaim Katz - DCC)

Submitted on 14.06.2023 16:25
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