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existencialismo

Definition:
A doutrina filosófica que tem por objeto a existência do homem tomada em sua realidade concreta, e ao nível do indivíduo engajado na sociedade. — Esse "ângulo de focalização" é assim diametralmente oposto ao da filosofia cartesiana e, em geral, ao de todos os sistemas racionalistas: é uma reação da filosofia do homem contra as filosofias da razão e das ideias. Longe de constituir-se da saída, como "ser" e dotado de razão, o homem, de início, é somente nada, e o próprio fato de existir é "absurdo", isto é, despido de toda significação. Numa palavra, o homem existe antes de ser (o que exprime a célebre fórmula de Sartre: "A existência precede a essência".) É então o próprio homem que deve dar à sua vida um sentido e tornar-se um ser racional; o homem é apenas aquilo que faz de si próprio. Em outros termos: ser, é escolher-se através de um livre engajamento. No mais, não se colocaria a questão de recusar-se essa liberdade, pois é "liberdade absoluta": o homem está condenado a ser livre. Daí advindo a angústia metafísica pela qual sente, ao mesmo tempo, o nada de onde sai e pressente a incerteza da escolha que o fará aceder ao ser. Historicamente, o termo "existencialismo" foi criado por Heidegger em 1927, em O ser e o tempo, e retomado por Jaspers em Filosofia existencialista (1938). Na França, os principais representantes dessa doutrina são Gabriel Marcel, Merleau-Ponty e sobretudo J.-P. Sartre. Distingue-se comumente duas correntes na filosofia existencialista; o existencialismo cristão (Jaspers, Gabriel Marcel) e o existencialismo ateu (Sartre, Camus). Na verdade, essa distinção é bastante superficial e não envolve todas as formas de existencialismo. É mais exato distinguir a filosofia existencial (em fr. existentielle), que se dedica a compreender a vida concreta do homem do mundo e na história, e a descrever suas "atitudes fundamentais" — Jaspers, Merleau-Ponty —, e a filosofia existencial (em fr. existentiale), que se dedica a compreender o Ser do homem, da realidade ontológica do Dasein ("ser aí") — Heidegger e Sartre em O ser e nada; a primeira é uma descrição empírica da existência, a segunda uma metafísica que busca seu significado fundamental. (V. Pascal, Kierkegaard, Heidegger, Sartre, Marcel [G.]; Ser e o nada [O]; angústia, absurdo, essência, engajamento.) [Larousse]


(in. Existentialism; fr. Existentialisme, al. Existentialismus; it. Esistenzialismó).

Costuma-se indicar por esse termo, desde 1930 aproximadamente, um conjunto de filosofias ou de correntes filosóficas cuja marca comum não são os pressupostos e as conclusões (que são diferentes), mas o instrumento de que se valem na análise da existência. Essas correntes entendem a palavra existência no significado 3), vale dizer, como o modo de ser próprio do homem enquanto e um modo de ser no mundo, em determinada situação, analisável em termos de possibilidade. A análise existencial é, portanto, a análise das situações mais comuns ou fundamentais em que o homem vem a encontrar-se. Nessas situações, obviamente, o homem nunca é e nunca encerra em si a totalidade infinita, o mundo, o ser ou a natureza. Portanto, para o existencialismo, o termo existência tem significado completamente diferente do de outros termos como consciência, espírito, pensamento, etc, que servem para interiorizar ou, como se diz, tornar "imanente" no homem a realidade ou o mundo em sua totalidade. Existir significa relacionar-se com o mundo, ou seja, com as coisas e com os outros homens, e como se trata de relações não-necessárias em suas várias modalidades, as situações em que elas se configuram só podem ser analisadas em termos de possibilidades . Esse tipo de análise foi possibilitada pela fenomenologia de Husserl, que elaborou o conceito de transcendência . Segundo esse conceito, nas relações entre sujeito cognoscente e objeto conhecido ou, em geral, entre sujeito e objeto (não só no conhecimento, mas também no desejo, na volição, etc), o objeto não está dentro do sujeito mas permanece fora, e dá-se a ele "em carne e osso" (Ideen, I, § 43). Esse conceito manteve-se rigoroso na filosofia de Husserl, mas exerceu grande influência no existencialismo, para o qual as relações entre o ser-aí (isto é, o ente que existe, o homem) e o mundo sempre se configuraram como transcendência.

Essa formulação do problema filosófico opõe o existencialismo a todas as formas, positivistas ou idealistas, do romantismo oitocentista. O Romantismo afirma que no homem age uma força infinita (Humanidade, Razão, Absoluto, Espírito, etc.) de que ele é apenas manifestação. O existencialismo afirma que o homem é uma realidade finita. que existe e age por sua própria conta e risco. O Romantismo afirma que o mundo em que o homem se encontra, como manifestação da .força infinita que age no homem, tem uma ordem que garante necessariamente o êxito final das ações humanas. O existencialismo afirma que o homem está "lançado no mundo", isto é abandonado ao determinismo do mundo, que pode tornar vãs ou impossíveis, as suas iniciativas. O Romantismo afirma que a liberdade, como ação do princípio infinito, é infinita, absoluta, criadora e capaz de produções novas e originais a cada momento. O existencialismo afirma que a liberdade do homem é condicionada, finita e obstada por muitas limitações que a todo momento podem torná-la estéril e fazê-la reincidir no que já foi ou já foi feito. O Romantismo afirma o progresso contínuo e fatal da humanidade. O existencialismo desconhece ou ignora a noção de progresso porque não pode entrever nenhuma garantia dele. O Romantismo tem sempre certa tendência espiritualista, tende a exaltar a importância da interioridade, da espiritualidade e dos valores ditos espirituais, em detrimento do que é terrestre, material, mundano, etc. O existencialismo reconhece, sem pudores a importância e o peso guie têm para o homem a exterioridade, a materialidade, a ‘’mundanidade" em geral, donde as condições dá realidade humana que estão compreendidas sob esses termos, necessidades, uso e produção das coisas, sexo, etc. O Romantismo considera insignificantes certos aspectos negativos da experiência humana, como a dor, o fracasso, a doença, a morte, porque não dizem respeito ao princípio infinito que se manifesta no homem e, portanto, "não existem" para ele. O existencialismo considera tais aspectos particularmente significativos para a realidade humana e insiste neles ao interpretá-la.

A antítese em que acabam por encontrar-se os temas fundamentais do existencialismo diante dos do Romantismo é um índice das diferentes categorias de que se valem as duas diretrizes para interpretar a realidade: entendendo por categoria um instrumento de análise, isto é, um instrumento para a descrição e a interpretação da própria realidade. Dissemos que a análise existencial é analise de relações: estas se acentuam em torno do homem, mas imediatamente vão para além dele, porque o vinculam (de diversos modos, que é preciso determinar) à realidade e ao mundo de que faz parte ou, em outras palavras, aos outros homens ou às coisas. Ora, essas relações não têm natureza estática, não são, por ex., relações só de identidade, de semelhança etc. As relações do homem com as coisas são constituídas pelas possibilidades, que o homem possui (em medida mais ou menos ampla, conforme as diversas situações naturais e históricas) de usar as coisas e de manipulá-las (com o trabalho) em vista das próprias necessidades. E as relações com os outros homens consistem em possibilidades — de colaboração, de solidariedade, de comunicação, de amizade etc.: possibilidades que têm também graus e formas diferentes, conforme as diversas condições naturais, sociais e históricas. Ora, que alguma coisa seja possível, significa que eu espero esse algo e que o projeto ativamente. As possibilidades humanas têm, portanto, em geral, o caráter antecipatório (porque voltado para o futuro) das expectativas ou dos projetos; e as regras que os disciplinam, desde as da ciência e da técnica às do costume, da moral, do direito, da religião etc., servem para dar às expectativas e projetos certo fundamento, certa garantia de êxito. Assim, por ex., as regras da técnica servem para garantir que um certo objeto (uma casa, uma máquina) possa ser construído ou produzido de modo a satisfazer uma determinada necessidade; as regras da moral servem para garantir que as relações humanas possam desenvolver-se da forma mais pacífica e ordenada possível etc. As expectativas ou projetos permanecem, todavia, o que são, isto é, possibilidades, cuja realização é mais ou menos segura, mas nunca infalível (uma casa pode cair ou resultar mais ou menos cômoda para os seus habitantes, uma máquina pode resultar errada ou inútil, as relações humanas podem desenvolver-se da ordem à desordem, da paz à hostilidade etc.). Por isso, a categoria descritiva e interpretativa fundamental de que o existencialismo se vale é propriamente a do possível.

As várias direções do existencialismo podem reconhecer-se e distinguir-se a partir do significado que dão à categoria do possível e do uso que dela fazem. Podem-se, daí, distinguir-se três diretrizes principais que assumem como seu fundamento, respectivamente: 1) a impossibilidade do possível; 2) a necessidade do possível; 3) a possibilidade do possível.

1) Já por volta da metade do séc. XIX, Kierkegaard insistira na importância da categoria do possível e, por isso, é a Kierkegaard que remontam mais comumente os filósofos da existência. Mas Kierkegaard insistira também no aspecto nulificante do possível, o qual torna problemáticas e negativas tanto as relações do homem com o mundo, como as relações do homem consigo mesmo e com Deus. De fato, as relações do homem com o mundo são dominadas, segundo Kierkegaard, pela angústia, a qual faz sentir ao homem como o possível rói e destrói toda expectativa ou capacidade humana e como derrota qualquer cálculo e perspicácia com o jogo do acaso e das possibilidades insuspeitadas (Conceito da Angústia, 1844). A relação do homem consigo mesmo, que constitui o eu, é dominada pela desesperação, isto é, pela condição na qual o homem vem a encontrar-se, ou porque percorre uma possibilidade após outra sem deter-se, ou porque esgota as suas limitadas possibilidades e o futuro se fecha diante dele (A Doença Mortal, 1849). A própria relação com Deus, que parece oferecer ao homem um caminho de salvação da angústia e do desespero (porque "para Deus tudo é possível"), na medida em que, por sua vez, é desprovida de garantia e dominada pelo paradoxo, não pode oferecer certeza nem repouso (Temor e Tremor, 1843; Diário, passim). Desse modo, Kierkegaard, enquanto empostava a análise inteira da existência humana sobre a categoria do possível, entendia o possível exclusivamente no seu aspecto ameaçador e negativo: no possível via, mais do que "aquilo que pode não se realizar", "aquilo que é impossível que se realize". É a mesma interpretação que perfilha a filosofia de Heidegger. Heidegger iluminou, é verdade, em análises que ficaram clássicas, o fato de a existência ser transcendência e projeto; mas também fez ver como transcendência e projeto seriam, no fim, impossíveis, porque a transcendência fica aquém do que deveria transcender e o projeto é dominado e anulado por aquilo que já é ou foi. O caráter da existência que acaba prevalecendo na filosofia de Heidegger é a efetividade ou factualidade, pelo qual o Ser-aí está lançado no mundo, em meio aos outros entes, no mesmo nível deles e, com isso, abandonado a ser o que de fato é. Desse modo, a existência pode ser somente o que já foi. As suas possibilidades não são aberturas para o futuro, mas recaem no passado e não fazem mais do que reapresentar como futuro o próprio passado. Por isso, o transcender, o projetar, é uma impossibilidade radical um nada nulificante. Não sobra outra alternativa autêntica senão a de antecipar ou projetar esse mesmo nada. Isso é o "viver-para-a-morte", isto é, para "a possibilidade da impossibilidade da existência" (Sein und Zeit, § 53). A "possibilidade da impossibilidade" seria uma contradição em termos se aqui possibilidade não significasse "compreensão". A existência é essencialmente, radicalmente impossível; o que é possível é a compreensão dessa impossibilidade. O viver para a morte é, precisamente, tal compreensão.

A característica da filosofia de Heidegger (ao menos na sua primeira fase, que é a única que se pode designar como existencialista) é, como se viu, a transformação do conceito de possibilidade, como instrumento da análise da existência, no de impossibilidade. O mesmo fato verifica-se na filosofia de Jaspers. De um extremo a outro da sua Filosofia, Jaspers fala da existência possível e a sua análise é explicitamente análise das possibilidades da existência. Mas, como para Heidegger, tais possibilidades não são, no fundo, para ele, mais do que outras tantas impossibilidades. Eu não posso ser senão o que sou (Phil., II, pág. 182), não posso tornar-me se não o que sou; não posso querer se não o que sou; e o que sou é a situação em que me encontro e sobre a qual não posso nada (Ibid., I, pág. 145). Jaspers explicitamente diz que as expressões "eu escolho", "eu quero", significam na realidade "eu devo" (Ich muss; Phil., II, pág. 186), o que quer dizer: a possibilidade de ser, de agir, de querer, de escolher, é na realidade a impossibilidade de agir, escolher e querer de modo diferente de como se é, isto é, das condições de fato implícitas na situação que nos constitui.

O mesmo predomínio do conceito de possibilidade e a sua mesma transformação final no de impossibilidade, pode-se encontrar no existencialismo de Sartre. Para esse existencialismo, a possibilidade última da realidade humana, a sua escolha originária, é o projeto fundamental em que se inserem todos os atos e as volições particulares de um ser humano. Tal projeto é fruto de uma liberdade sem limites, isto é, absoluta e incondicionada: de uma liberdade que faz do homem uma espécie de Deus criador do seu mundo e o torna responsável pelo próprio mundo. O homem é, de fato, definido por Sartre como "o ser que projeta ser Deus" (Être et néant, pág. 653). Mas trata-se de um Deus falido. O seu projeto se resolve em todo caso em um fracasso. O que na doutrina de Heidegger e de Jaspers é operado pela necessidade factual que limita e, enfim, destrói toda possibilidade de transcendência do próprio fato, é, na doutrina de Sartre, operado pela infinidade das possibilidades que se eliminam e se destroem reciprocamente em um jogo fútil e vão que dá náusea: já que nenhuma delas possui maior validade ou solidez do que a outra e é, por isso, verdadeiramente impossível escolher entre uma e outra, a não ser cegamente. Uma escolha absoluta, ou absolutamente livre", como a que Sartre atribui ao homem é perfeitamente idêntica à "não-escolha" ou à "escolha da escolha" de Heidegger e Jaspers, no sentido de que não é de modo algum uma escolha, mas, antes, a própria impossibilidade de escolher. Mais uma vez, o conceito do possível se transformou sub-repticiamente no do impossível.

Dessa orientação deriva a noção do existencialismo como de uma "filosofia negativa" ou "filosofia da angústia", ou "do fracasso", noção não de todo exata porque não pode referir-se senão a uma só dentre as correntes existencialistas, e ainda, só a certos aspectos seus. Dessa noção corrente derivou depois o uso generalizado do termo, enquanto é empregado para designar não só certas diretrizes literárias e artísticas, mas também costumes, atitudes, e até modos de vestir. Tal uso generalizado, embora ainda mais impróprio do que a noção corrente que o fez nascer, pode-se explicar observando que, na maior parte dos casos, serve para chamar polemicamente a atenção sobre os aspectos mais desfavoráveis, negativos e desconcertantes da vida humana: isto é, sobre aqueles aspectos que são peculiares dela enquanto é um simples pode ser, completamente desprovido de qualquer garantia de estabilidade e de certeza. A literatura chamada existencialista tende, de fato, a sublinhar as vicissitudes humanas menos respeitáveis e mais tristes, pecaminosas e dolorosas, além da incerteza dos empreendimentos, quer bons quer maus, e a ambiguidade do próprio bem que pode originar o seu contrário. De modo semelhante, atitudes, costumes, modos de vestir, são chamados "existencialistas" enquanto pretendem ser formas de protesto contra o otimismo superficial e a respeitabilidade burguesa da sociedade contemporânea. De qualquer modo que se queira julgar dessas manifestações, cujo caráter superficial e grotesco é às vezes evidente, mas cuja responsabilidade não se deve deixar recair na corrente filosófica de que estamos falando, é claro que o existencialismo tem agido, dessa forma, como uma poderosa força destrutiva do dogmatismo absolutista do séc. XIX, dos seus mitos otimistas e do seu sentido de segurança fictícia, que foi, aliás, tão duramente desmentido pelas vicissitudes dos últimos decênios. Não há dúvida, pois, sobre a função resolutiva e liberadora que essa forma de existencialismo exercitou nos últimos dois decênios; mas também não há dúvida sequer sobre a sua incapacidade de preparar instrumentos válidos que tragam uma contribuição à solução positiva dos problemas que interessam ao homem.

2) Se a primeira interpretação reduz as possibilidades humanas a reais impossibilidades, a segunda interpretação as considera, no extremo oposto, como potencialidades, no sentido aristotélico do termo. Assim entendido, o possível perde o seu aspecto negativo e preocupante, já que uma potencialidade é sempre "destinada a realizar-se" (Lavelle, Du temps et de l’éternité, 1945, pág. 261). Essa transformação do possível, de categoria da instabilidade e da incerteza problemática a categoria da estabilidade e da certeza, é operada dependurando as possibilidades existenciais em uma Realidade absoluta de que elas derivariam a sua garantia de realização infalível. Para Lavelle, essa realidade absoluta é o Ser (De l’être, 1928; De L’Acte, 1937; Du temps et de l’éternité, 1945). Para Le Senne (Obstacle et Valeur, 1934), a realidade absoluta é entendida como Valor infinito. Como Ser, a realidade absoluta é entendida também para Mareei, o qual, porém, julga que o ser se revela só no mistério de que se circunda e que, por isso, a única atitude possível do homem diante dele é a do amor e da fidelidade (Journal Métaphysique, 1927; Être et Avoir, 1935; Du Refus à l’Invocation, 1940). Mas, de qualquer modo que se entenda a realidade absoluta, as possibilidades existenciais, uma vez que se considerem fundadas nela, se transformam em róseas perspectivas de sucesso pelas quais nada do que o homem verdadeiramente é, ou dos seus valores fundamentais, pode perder-se, desde que a essas possibilidades se concede uma garantia absoluta e transcendente. Essa corrente do existencialismo, que tem caráter e finalidade preferentemente religiosa, tem, filosoficamente, o defeito de constituir um panegírico da realidade humana mais do que uma tentativa de compreendê-la e de propiciar uma justificação post factum da experiência humana, muito semelhante à tentada pelas filosofias românticas. Se se admitir que todas as possibilidades existenciais estão destinadas a realizar-se, enquanto fundadas no Ser ou no Valor, apenas se cobrem com um manto verbal os insucessos e as misérias do homem. Se se admitir, ao contrário, que nem todas as possibilidades humanas estão fundadas no Ser e no Valor, e que nem todas estão destinadas a realizar-se, propõe-se o embaraçoso problema de fornecer um critério para reconhecer quais são aquelas possibilidades realmente fundadas: problemas para cuja solução o pressuposto do seu fundamento transcendente não traz nenhuma contribuição.

3) Enfim, para uma terceira interpretação própria do existencialismo italiano, as possibilidades existenciais devem ser assumidas e mantidas como tais, sem transformá-las nem em impossibilidade nem em potencialidade. Nesse caso, a perspectiva aberta por uma possibilidade não é nem a realização infalível nem a impossibilidade radical, mas, de preferência, uma pesquisa tendente a estabelecei os limites e as condições da própria possibilidade e, portanto, o grau de garantia relativa ou parcial que ela pode oferecer. Essa diretriz de existencialismo acentua a tendência naturalista e empirista já presente, embora de forma oculta ou imperfeita, nas outras diretrizes (N. Abbagnano, Struttura dell’esistenza, 1939 ; Jntroduzione all’esistenzialis-mo, 1942; Filosofia, religione, scicinza, 1948; Possibilità e liberta, 1956; existencialismo Paci, Principi di una filosofia dell’essere, 1939 ; Pensiero, esistenza, valore, 1940; Tempo e Relazione, 1954). Segundo essa diretriz, a pesquisa dos limites e das condições a que subjaz toda possibilidade humana, não pode ser feita senão mediante a utilização das técnicas de verificação e de controle de que a indagação positiva ou científica dispõe em todos os campos. Se uma hipótese, uma teoria ou, em geral, uma proposição não é senão um "pode ser", que abre uma certa perspectiva para o futuro, a sua validade consiste não só no poder ser posta à prova, mas no poder repropor-se, depois da prova, ainda como um "poder ser" para o futuro. Por isso, os critérios em uso nas ciências e, em geral, nas disciplinas particulares para decidir da validade das suas proposições e da realidade dos seus objetos, podem ser assumidos como determinações ou especificações do critério da possibilidade; ou reciprocamente esse último pode ser assumido como a generalização de critérios específicos. Desse ponto de vista, o homem nem é lançado sem defesa de encontro à falência e ao fracasso, nem destinado ao triunfo final; mas possui as garantias, parciais e limitadas, que lhe são oferecidas pelas suas técnicas e pelos seus modos de vida experimentados, além das garantias oferecidas pelas possibilidades, que elas lhe abrem, de encontrar e experimentar novas possibilidades. Cfr. A. Santucci, existencialismo e filosofia italiana, 1959. [Abbagnano]

Submitted on 27.07.2010 00:08
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