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psicanálise

Definition:
(in. Psychoanalysis; fr. Psychanalyse; al. Psychoanalyse; it. Psicanalisi).

A designação psicanálise compreende: 1) um método de tratamento de certas doenças mentais; 2) uma doutrina psicológica; 3) uma doutrina metafísica; e, mais frequentemente, certa mescla desordenada dessas três coisas. Os fundamentos da psicanálise foram resumidos por seu fundador, Sigmund Freud, na introdução de uma de suas principais obras, da seguinte maneira: 1) os processos psíquicos são em si mesmos inconscientes, e os processos conscientes são apenas atos isolados, frações da vida psíquica total; 2) os processos psíquicos inconscientes são em boa parte dominados por tendências que podem ser qualificadas de "sexuais" no sentido restrito ou lato do termo, Este último pressuposto na realidade é a característica fundamental da psicanálise, que consiste essencialmente na tentativa de explicar a vida do homem (não só a pessoal ou individual, mas também a pública ou social) recorrendo a uma única força, que é o instinto sexual ou libido no sentido técnico deste termo (Einfuhrung in díe Psychoanalyse, 1917, intr.). Do conflito entre os impulsos sexuais do inconsciente e as superestruturas morais e sociais constituídas por proibições e censuras acumuladas e consolidadas pela infância, nascem os fenômenos a seguir descritos: d) Sonhos: expressões deformadas e simbólicas dos desejos reprimidos (cf. Die Traumdeutung, 1900). b) Atos falhos, ou lapsos: distrações falsamente atribuídas ao acaso, chegando às brincadeiras e ao humorismo (cf. Zur Psychopathologie des Alltagslebens, 1901; Der Witz und seine Bedeutung Zum Unbewussten, 1905). c) Doenças mentais: que podem ser tratadas levando o paciente a identificar os conflitos dos quais elas emergem, através da conversação. A esse respeito, o sintoma de uma doença deve ser considerado como "sinal e substituição de uma satisfação instintiva que ficou latente, resultado de um processo de recalque" (Hemmung, Symptom und Angst, 1926, cap. 2; trad. it, p. 29). Um dos fenômenos característicos do tratamento psicanalítico é a transferência dos sentimentos do doente (positivos ou negativos, de amor ou de ódio) para a pessoa do médico (Einfuhrung, cit., cap. 27; trad. fr., pp. 461 ss.). d) Sublimação transferência do impulso sexual para outros objetos, o que ensejaria os fenômenos chamados espirituais: arte, religião, etc. é) Complexos, sistemas ou mecanismos associativos, relativamente constantes em todas as pessoas, aos quais devem ser atribuídas as principais perturbações mentais. A noção de complexo e o seu termo foram introduzidos por um discípulo de Freud, C. G. Jung (Wandlungen und Symbole der Libido, 1912), mas já em Interpretação dos sonhos Freud esboçara todos os fatos fundamentais do chamado "complexo de Édipo", em virtude do qual o menino inclui no amor pela mãe certo ciúme ou aversão pelo pai.

Em 1923, na obra Das Ich und das Es, Freud expôs uma teoria psicológica que foi amplamente aceita pela psicologia de sua época. Dividia o espirito em três partes: Ego, que é organização e consciência, e por isso está em contato com a realidade e procura submetê-la a seus fins; Superego, aquilo a que geralmente se dá o nome de consciência moral e que é o conjunto das proibições insuladas ao homem em seus primeiros anos de vida, acompanhando-o depois, mesmo que de forma inconsciente; e Id, que é constituído pelos impulsos múltiplos da libido, sempre voltada para o prazer. Esta doutrina, que foi revisada pelo próprio Freud mais tarde (cf. Hemmung, Symptom und Angst, 1926), revelou-se bastante útil tanto para a descrição e a interpretação das doenças mentais quanto para a teoria da personalidade.

Freud e seus seguidores não apresentaram nem apresentam seus conceitos como hipóteses ou instrumentos de explicação, mas como realidades absolutas, de natureza metafísica. Pode-se chamar de própria metafísica — e até de mitologia — a teoria formulada por Freud numa de suas últimas obras, Das Unbehagen in der Kultur (1930, trad. in., com o título de Civilisation and its Discontents, 1943), em que considera a história da humanidade como a luta entre dois instintos, o da vida (eros) e o da morte (thanatos): "É nessa luta que consiste essencialmente a vida, e por isso o desenvolvimento da civilização pode ser descrito como a luta da espécie humana pela existência. Trata-se de uma batalha de titãs, que nossas babás tentam compor com suas ladainhas sobre céu" (Civilisation and its Discontents, 1943, p. 102). Essa doutrina outra coisa não é senão a expressão — não muito atualizada — do dualismo maniqueísta.

A importância da psicanálise consiste, em primeiro lugar, em dar destaque à função do fator sexual em todas as manifestações da vida humana. Pela primeira vez, esse fator deixou de ser uma zona de ignorância obrigatória para a ciência e para a filosofia e pôde ser estudado em seus reais modos de ação. Em segundo lugar, a psicanálise forneceu um conjunto de conceitos que, conquanto não muito compatíveis entre si, prestam-se a ser utilizados por vários ramos da psicologia contemporânea, principalmente se isentos do dogmatismo com que alguns seguidores de Freud os trataram. Este segundo aspecto positivo tem, porém, uma contrapartida negativa: a psicanálise dá a muitos diletantes a oportunidade de apresentar explicações aparentemente plausíveis e fáceis dos fenômenos humanos mais díspares, confundindo também, às vezes, essa explicação com uma justificação moral ou metafísica. Em terceiro lugar, a psicanálise teve o mérito de propiciar um instrumento de tratamento que continua sendo eficaz, apesar de perdidas muitas das ilusões otimistas inicialmente suscitadas.

Entre as muitas tendências interpretativas que modificaram em maior ou menor grau as doutrinas fundamentais da psicanálise, é possível lembrar duas, a de Jung e a de Adler. Jung concebeu o instinto fundamental do homem não como de natureza sexual, mas como uma energia originária e criativa que se identifica com o conceito genérico de divindade e constitui o inconsciente coletivo, que é a base comum da natureza humana (Psicologia do inconsciente, 1942-5). Adler, ao contrário, identificou o instinto fundamental do homem com a vontade de potência de que falava Nietzsche, ou seja, como um espírito de agressão e de luta em conflito com outro instinto, o sentimento de comunidade humana, que liga o indivíduo a todos os outros. A interação dessas duas forças determinaria o caráter de cada homem e suas manifestações patológicas (Conhecimento do homem, 1927). [Abbagnano]


O método de análise da personalidade que visa o simples conhecimento teórico do psiquismo humano ou a terapêutica clínica das neuroses, dos complexos e, em geral, das perturbações mentais de origem exclusivamente psicológica. — O fundador da psicanálise é Sigmund Freud (1856-1939), que aponta uma origem erótica para a maioria das perturbações psíquicas. A libido, ou instinto da vida, leva-nos a nutrir desejos que o "superego", ou consciência social, nos faz reprimir no inconsciente. O afloramento desses desejos à consciência provoca a angústia e toda a espécie de inibições e complexos na vida. O "ego", a personalidade, define-se como um equilíbrio, sempre instável, entre as tendências instintivas ("id") e a censura da consciência social ("superego"). Qual é a técnica da terapêutica psicanalítica? As motivações e os desejos inconscientes só se manifestam por ocasião das "associações livres", que se desenvolvem principalmente no sonho. A psicanálise apresenta-se como uma análise dos sonhos. O princípio da cura é que a conscientização dos motivos reais de nossas perturbações, angústias, obsessões e fobias provoca, ela mesma, a restauração do equilíbrio psíquico: reações instintivas, impulsos obscuros e incontroláveis, que angustiam profundamente o indivíduo, são substituídos, através da psicanálise, pela felicidade da consciência clara, da conduta racional e voluntária. A psicanálise é aconselhada para os casos de perturbações da sexualidade (impotência no homem, frigidez na mulher), para as psicoses (esquizofrenia, perda da noção do real), para os casos de fracassos repetidos na vida, de crianças delinquentes. A cura pode ser muito longa, de vários anos. A psicanálise não é somente uma terapêutica e uma prática, é também um conhecimento teórico, uma análise do homem: nessa qualidade, toca a filosofia. Não é a teoria psicanalítica que é interessante para a filosofia, e sim a experiência humana que se realiza na análise psicanalítica: ela permite revelar o sentido das relações do homem consigo mesmo e com os outros. A experiência psicanalítica é uma experiência inter-humana particularmente profunda, uma pesquisa apaixonadamente sincera sobre o outro e sobretudo a respeito de nós mesmos: em suma, revela todas as implicações da comunicação com o outro e o significado profundo de nossas condutas.

Na medida em que a filosofia deve responder à pergunta fundamental: "O que é o homem?" — como escrevia Kant —, não pode atualmente negligenciar esse método rigoroso e incomparável de aprofundamento da natureza humana, representado pela psicanálise. Finalmente, no plano da moral, a análise psicanalítica é uma procura do indivíduo autêntico e, pela análise, uma ascese purificadora que lhe deve permitir superar seus próprios impulsos agressivos e suas reações incontroláveis. Nessa qualidade, possui uma significação moral, uma vez que seu objetivo é promover uma individualidade perfeitamente livre e consciente de si mesmo e dos verdadeiros valores humanos.

Em resumo, a psicanálise é simultaneamente uma terapêutica médica, uma aproximação filosófica do homem e uma ascese moral que visa a dar-nos, além dos problemas morais que nos particularizam, a verdadeira figura do homem. [Larousse]


É o nome que recebeu o método psicoterapêutico introduzido por S. Freud, aproximadamente desde 1890, e que consiste em tornar inteligível a origem (psicogênese) de certas perturbações da vida psíquica consciente mediante o descobrimento de suas causas psíquicas inconscientes, a fim de as suprimir pela subsequente consciencialização destas causas. Alguns fatos notados nas pesquisas sobre os estados hipnóticos (Charcot, Bernheim) e, principalmente, as observações levadas a efeito na prática clínica, levaram Freud à sua brilhante, e então inaudita, concepção da estrutura da vida psíquica. Segundo ela, a vida consciente assenta, como tênue camada superficial, sobre as camadas muito mais espessas do psíquico inconsciente (pessoal). Vivências "recalcadas" da consciência ou da memória, orientações da vida tendencial e afetiva, em suma, "complexos" repelidos para o inconsciente (recalcamento), tendem a regressar à consciência. Impedidos de aflorarem à consciência por uma "censura" que, por assim dizer, emprega no limiar da zona pré-consciente, iludem essa censura e influem na vida da consciência, "disfarçando-se" em sintomas neuróticos e psicopáticos ou também numa forma "sublimada", tais, como tendências de ordem estética, científica, religiosa, etc. (sublimação). Freud, indo muito longe em suas afirmações, interpretou como energia sexual a energia tendencial reprimida (libido) que desde a zona do inconsciente atua na vida consciente e espiritual, interpretação que, sem protesto especial por sua parte, seus primeiros discípulos tornaram ainda mais exclusiva e apriorística (pansexualismo). (A teoria do complexo de Édipo, ou seja, do apego sexual do filho a sua mãe e da filha a seu pai, desempenhou importante papel na literatura psicanalítica "clássica" e, principalmente, nos escritos de vulgarização). Numa de suas últimas obras, Freud chegou a reduzir a religião ao complexo de Édipo, pensando que, desmascarando-a por essa forma, ela seria obrigada a mostrar sua inanidade ("O porvir de uma ilusão").

Não só a explicação psicogenética dos transtornos psíquicos, oposta à interpretação biológica dos mesmos então imperante, como principalmente os exclusivismos não raro ridículos e as construções conceptuais apriorísticas, e também sua adesão ao positivismo do século XIX e sua condição de psicanálise da cultura, suscitaram, logo de início, nos círculos de especialistas dedicados ao cultivo da psiquiatria e da psicologia, uma enérgica resistência ao movimento psicanalítico que (principalmente desde 1910) se tornou mais forte. A. Adler e C. G. Jung, a princípio discípulos de Freud, elaboraram outros tipos de teorias psicogenéticas: a psicologia individual de Adler substituiu a concepção pansexualista pela redução (sem dúvida tão unilateral como o pansexualismo) de todas as perturbações neuróticas à oposição entre o esforço de se fazer valer e a vontade de comunidade. C. G. Jung elaborou a doutrina do inconsciente coletivo. A psicossomática reduz muitas e até ultrapassa todas as enfermidades corporais a pertubações psíquicas. Hoje, a discussão em torno da psicanálise (que, certamente, domina ainda a psicologia norte-americana) serenou muito. Tomam-se da teoria de Freud sugestões e conceitos fundamentais e valiosos, sem aceitar a totalidade do sistema nem as conclusões que implicam uma mundividência, e utilizando com maior prudência o que na psicanálise há de legítimo, consoante sugerem, a cada momento, os casos particulares. — Willwoll. [Brugger]


Segundo Althusser, o objeto da psicanálise seria "1) uma prática (a cura analítica); 2) uma técnica (método da cura) que dá lugar a uma exposição abstrata do aspecto teórico; 3) uma teoria que está em relação com a prática e com a técnica. Este conjunto orgânico prático (1), técnico (2), teórico (3) recorda-nos a estrutura de todas as disciplinas científicas" (5). Aceitando-se este status científico da Psicanálise, apresentam-se imediatamente dificuldades em compreender o problema da comunicação, de vez que esta seria apenas um de seus aspectos. Para evitar tais dificuldades pode-se tomar a obra científica de um psicanalista contemporâneo, Jacques Lacan, e ver como ele aborda a estrutura da comunicação na Psicanálise. A psicanálise quer saber como os homens se comunicam uns com os outros, como se constitui esta capacidade de comunicar, e não elaborar uma concepção de mundo do que o homem é ou deve serverdade que há "psicanálises" que fazem isto, mas sua inspiração maior está no campo filosófico, onde se fundamentam as Weltanschauungen, e não no científico. Uma tal atitude pode ser estudada, por exemplo, na eclética obra de Erich Fromm) . Trata de explicar a origem da psyche, função entre o simbólico e o imaginário. Aqui aparecem três questões centrais na interpretação lacaniana: 1) — "o aparecimento de resistências do eu durante o período de transferência mostra que a negatividade está no cerne do modo de existência do analisando". Comunicação e recusa de comunicação são inseparáveis e a resistência se tornará num dos problemas básicos de compreensão da comunicação; 2) — a resistência se manifesta não verbalmente, pelo silêncio. Mas o elo essencial entre analista e analisando é a comunicação verbal: o sujeito só pode libertar pela manifestação da fala, de sua palavra. O que significa o outro do diálogo se não houver diálogo intersubjetivo, se o diálogo se reduzir à intrasubjetividade? (entre as instâncias constitutivas do sujeito: id, ego, superego). Melhor dito, a quem se atinge no diálogo, e quem atinge? 3) — Lacan acha necessário interpretar psicanaliticamente as psicoses, pois a comunicação não pode ser dada, mas precisa ser provada (a ciência não pode se restringir a tautologizar os fatos existenciais).

Para a psicanálise a história do sujeito se constitui exteriormente à consciência que este sujeito tem de si. A rede de significações onde o seu subjetivo se determina só pode ser examinada no nível de seu desenvolvimento histórico. Este não é determinado pelos instintos, mas por um desejo "que renova sem cessar sua historicidade pelas substituições imaginárias que não cabe ao "eu" dominar". É através desta função histórica que se pode analisar o sujeito. O instinto de morte (thanatos) se opõe ao seu desenvolvimento, pois é regressivo. Mas pelo fato mesmo de sua condição negativa, thanatos "é a condição primeira a partir da qual o sujeito se historializa, já que sendo a morte puramente instintual, ela é o começo da substituição simbólica onde se opera a historialização".

Lacan afirma que o fundamento dos saberes sobre a Comunicação só pode ser atingido quando da enunciação da fala. Quando o eu estatui o outro, sua relação se dá sempre no plano de imaginário, o eu se situando (a si mesmo) e situando o outro ao mesmo tempo, numa estrutura de significação constituída por este mesmo eu (e não pelo outro, que repete o mesmo processo). Esta constituição se dá no plano da língua. O discurso que o sujeito coloca entre ele próprio e o outro é o inconsciente: "o inconsciente do sujeito é o discurso do outro". A comunicação se estabelece à medida do desenvolvimento do discurso do sujeito e só é possível através do inconsciente que fundamenta as falas do sujeito e do outro, que o sujeito constitui em si. O papel do psicanalista será, exatamente, permitir o desdobramento da fala do analisando tornando-se seu outro. O outro que o analisando constitui rompe com o outro já anteriormente constituído, mas dá-se sempre no plano do analisando. O analisando é remetido "à linguagem primeira de seu desejo", que lhe propiciará a possibilidade de constituir um novo outro (e, ao mesmo tempo, um novo eu). Ou seja, permanência de inconsciente como lugar do reconhecimento do outro, mas desta vez há a tematização da constituição deste outro, onde o desejo pode se exprimir livremente.

Para Lacan a psicanálise se definirá assim: "seus meios (do método analítico) são os da fala enquanto ela confere um sentido às funções do indivíduo; suas operações são as da história enquanto esta constitui a emergência da verdade no real". Donde se poderiam tomar "três dimensões essenciais da experiência psicanalítica".

1) — teoria histórica do símbolo — O símbolo só existe quando o significante se torna autônomo em relação ao significado. Diversamente do signo, onde o significante remete sempre ao significado (o leitor deve observar que os termos usados em Comunicação não estão homogeneizados. Ver a definição de símbolo, por exemplo). O símbolo psicanalítico refere-se à história individual do sujeito, mas está dado na universalidade de uma linguagem pois seus referenciais são os mesmos nas várias falas particulares: corpo, nascimento, morte, vida, relações de parentesco (poucas estruturas, imagens infinitas). Língua e simbólico estão intrincados. O simbolismo inconsciente não constitui a língua, mas se enxerta sobre ela, super-determinando-a, o que a torna possível não apenas como signo, mas como símbolo, isto é, ela não informará apenas, mas também evocará (por isto é que a língua é contínua, apesar de ser constituída por elementos discretos). Este é o lado mais profundo da língua e da função simbólica e que possibilita os discursos cotidiano e analítico. De acordo com o que foi discutido, em linhas acima, não há univocidade no discurso já que este só se estabelece desde que o interlocutor aparece constituído. E a univocidade do eu difere da univocidade do outro interlocutor deste eu que o estatui como outro. Logo, o significante só tem valor de mensagem no outro, e não no próprio sujeito. E a única referência científica possível entre o eu do sujeito e o eu do outro que ele constitui (esta dialética é multívoca) é a cadeia do significante. Por isto Lacan dirá que a linguagem originária do sujeito (do analisando, no caso) é a linguagem do desejo do sujeito. Esta linguagem não é "natural" mas é sempre simbólica, como algo negativo (já que exprime do "objeto" que visa alguma coisa que ele não é). A relação com o pai e a mãe é com os objetivos concretos referenciais "meu pai" e "minha mãe" pois o nível simbólico situa ambos num lugar imaginário. O Pai será o mediador da relação com o outro; este Pai é referência no significante, no nível inconsciente e não o pai do sujeito. A relação com o Pai é simbólica: já as primeiras manifestações do desejo fazem com que a relação do sujeito com o outro sejam dadas num campo necessário, determinado. Não é um encontro empírico de um sujeito "natural" que imprimirá em si um outro sujeito empírico, bom ou mau. As relações são estatuídas simbolicamente e não livre e arbitrariamente. O homem só é homem constituído na cadeia do significante.

2) — a lógica intersubjetiva — "O encontro do outro se opera, então, na fala como atualização da língua e portadora de sua intersubjetividade". A atualização depende da cadeia do significante, lugar do reconhecimento do outro e de si mesmo (conforme o item anterior). A lógica subjetiva não é aleatória, mas depende da estrutura desta cadeia: à medida que a língua fica mais geral, ela se torna imprópria à fala e se nos tornando demasiado particular ela perde sua função de língua". A expectativa delimita, para o nível psicológico, a comunicação da fala na estrutura da língua. O que o psicanalista procura na história do sujeito não será a memória, mas o modo originário de sua organização simbólica.

Desenvolvendo este esquema, Lacan demonstrará a universalidade do complexo de Édipo, de acordo com Freud. Não se trata da relação empírica filho/mãe/pai, "porque se trata de uma relação simbólica e não real, a relação primeira entre a mãe e o filho não é uma simples relação dual: esta relação que se sabe ser feita de presença e ausência deixa intercalar no seu bem estar o elemento imaginário, cujo papel de significante é maior, o falo, ligado ao pai simbólico, em nome do pai, que se torna a sede do significante. O pai, no complexo (de Édipo), representa a interdição da mãe e a relação do pai ao filho é comandada pelo temor de castração, temor que só adquire seu sentido na ordem simbólica". Falo e Nome do Pai constituirão o significante essencial, "em torno do qual se constitui a aquisição pelo sujeito da ordem do significante na qual ele se historializa". Pode-se concluir que o psicanalista não substitui sua (dele, do psicanalista) ordem simbólica pela do analisando. A fala do analisando, atendendo aos reclames originários de satisfação do desejo, se experimenta como re-originária através dos mesmos processos de constituição (imposta pela lógica intersubjetiva, que é original no homem só há homem porque há o sistema onde ele se insere). A verdade segue o mesmo processo que a não-verdade, mas no caso da verdade a comunicação não é mais velada: o desejo se faz ouvir.

3) — a temporalidade do sujeito — então o sujeito não permanece mais encerrado na repetição a que seu ego constituído o levava: "o sujeito realiza o verdade de sua história em continuidade com um futuro". A temporalidade implica no encontro do simbólico, encontro e assunção. Que só se dão numa comunicação que se auto-conhece, que fundamenta e manipula (ao mesmo tempo) o lugar de sua origem.

Pode-se ver o papel fundamental da teoria da comunicação na obra de Lacan, mas, conforme frisado naquele verbete, não se deve ser deixado guiar pelas armadilhas dos "fatos comunicativos". O uso em voga na psicanálise de "comunicação" com sentidos inúmeros e estruturas nenhuma fazem o teórico duvidar de sua existência no único lugar possível: a teoria. (Chaim Katz - DCC)


Do ponto de vista da psicanálise, o comportamento não é inteiramente explicável pelos dados conscientes; para compreendê-lo de maneira satisfatória, é preciso que, a título essencial, façamos intervir uma interpretação que repousa sobre uma teoria do inconsciente. Visto que o inconsciente é, por definição, inacessível a uma apreensão direta, para atingi-lo faz-se necessário recorrer à mediação de uma estrutura teórica. É preciso então perguntar-se de que modo esta estrutura pode justificar-se, levando-se em conta, é claro, o seu conteúdo, isto é, aquilo que ela própria afirma acerca das motivações subjacentes do discurso. Ou ela há de ser capaz de fornecer uma completa elucidação de suas próprias pressuposições, ou deve revelar-se independente do inconsciente. No primeiro caso, trata-se de estabelecer a possibilidade de se obter um controle completo do inconsciente, ou seja, de realizar uma reflexão total do inconsciente no consciente, programa este, no mínimo, ambicioso demais. No segundo caso, trata-se efetivamente de provar que o próprio discurso psicanalítico é independente do inconsciente. Isto pode ser feito graças a uma redução fisicalista: o discurso psicanalítico será então considerado como uma formulação provisória que finalmente deve conduzir a uma interpretação exaustiva do comportamento em termos de conceitos físicos, por exemplo, em termos de cibernética. Isto pode ser feito ainda graças a uma formalização rigorosa do discurso psicanalítico (como parece sugerir a interpretação estruturalista da psicanálise): tratar-se-á, então, de um discurso que, sem ser necessariamente fisicalista, possuirá, em todo caso, a mesma forma lógica das teorias físicas. Enfim, isto pode fazer-se, ainda, graças a um apelo à filosofia: tratar-se-á de compreender o discurso psicanalítico como uma variedade do discurso filosófico, ou então, de fornecer uma teoria filosófica que possa lhe servir de fundamento. Contudo, qualquer que seja o método adotado, será preciso mostrar como e porque a interpretação utilizada (fisicalista, formalista ou filosófica) é privilegiada, isto é, em razão do que pode ser tida como realmente autônoma em relação às determinações inconscientes, bem como, de modo geral, em relação a toda determinação extrínseca. [Ladrière]
Reference: PSICANÁLISE

Submitted on 22.12.2021 18:35
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