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Léxico Filosofia

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intuição

Definition:
(gr. theoria; lat. intuitus, intuitio; in. Intuition; fr. Intuition; al. Anschauung; it. Intuizioné).

As duas fontes do uso atual do termo intuição, cartesiana e kantiana, introduzem na acepção da palavra duas tendências que ou se combinam ou dissociam, consoante os casos: a primeira é a ideia de evidência, de plena clareza intelectual (cf. videri, intueri); a segunda é a de apresentação concreta, de realidade atualmente dada. Ao passo que a primeira não contém nem admite qualquer inferência, a segunda não se opõe necessariamente ao uso do raciocínio: há um modo de aplicação dos princípios inseparavelmente incorporados nas coisas sobre as quais se raciocina e que constitui um raciocínio intuitivo. [...]

Por outro lado, e pelas mesmas razões, a palavra intuição serve frequentemente para designar simultaneamente a visão concreta das coisas (na medida em que se opõe a abstração) e a penetração com que se sente ou se adivinha o que nelas não é aparente. [...]

A acepção mais original desta palavra, aquela em que não pode ser substituída por qualquer outra, é o sentido de visão imediata e atual, apresentando as mesmas características que o conhecimento sensível, e por isso propomos que só seja autorizada nesta acepção; e nos outros casos sirvamo-nos tanto quanto possível dos termos evidência, instinto, divinação, etc.. [André Lalande. Vocabulaire Technique et Critique de la Philosophie, 5.a ed., pp. 525-526]


Relação direta (sem intermediários) com um objeto qualquer; por isso, implica a presença efetiva do objeto. A intuição foi entendida desse modo ao longo da história da filosofia, a começar por Plotino, que emprega esse termo para designar o conhecimento imediato e total que o Intelecto Divino tem de si e de seus próprios objetos (Enn., IV, 4, 1; IV, 4, 2). Nesse sentido, a intuição é uma forma de conhecimento superior e privilegiado, pois para ela, assim como para a visão sensível em que se molda, o objeto está imediatamente presente. Boécio falava da "intuição divina", que é o golpe de vista com que Deus abrange as coisas sem mudá-las (Phil. cons., V, 6). E Tomás de Aquino dizia, referindo-se a Deus: "A sua intuição versa sobre todas as coisas que estão diante dele em sua presencialidade" (S. Th., intuição q. 14, a. 13, cf. q. 14, a. 9). Por esse caráter, o conhecimento divino distingue-se do humano, que age compondo e dividindo, por meio de atos sucessivos de afirmação e de negação (Ibid., I, q. 85, a. 5). O caráter intuitivo do conhecimento divino contrapõe-se aqui ao caráter de discurso do conhecimento humano (v. dianoia; discursivo). Mas a filosofia medieval empregou esse termo para indicar uma forma particular e privilegiada da consciência humana, em primeiro lugar o conhecimento empírico. Bacon dizia que "a alma não se acalma na intuição da verdade se não a encontrar por força da experiência" (Opus maius, VI, 1). Duns Scot privilegiava como intuitivo (cognitio intuitiva) o conhecimento que "se refere àquilo que existe ou àquilo que está presente em determinada existência atual", distinguindo-o do conhecimento abstrativo, que abstrai da existência atual (Op. Ox., II, d. 3, q. 9, n. 6). Essa noção foi aceita por Durand de S. Pourçain (In Sent., Prol., q. 3 F) e por Ockham, que, tal como Bacon, identificava o conhecimento intuitivo com a experiência (In Sent., Prol., q. 1 Z). A partir de então, até Kant, o significado específico desse termo é experiência .

Mas, ao mesmo tempo, conserva-se o significado genérico de relação imediata com um objeto qualquer. Nesse sentido, Descartes falava da intuição evidente (evidens intuitus), como um dos dois caminhos que levam ao conhecimento certo (o outro é o da "dedução necessária"), entendendo com ela a apreensão de qualquer objeto mental: "A intuição da mente estende-se às coisas, ao conhecimento de suas interconexões necessárias e a tudo o que o intelecto experimenta com precisão em si mesmo ou na imaginação" (Regulae ad directionem ingenii, 12). No mesmo sentido, Locke chamava de intuitivo o conhecimento que percebe a concordância ou a discordância entre duas ideias imediatamente, ou seja, sem a intervenção de outras ideias (An Essay Concer., IV, 2, 1), e chamava de intuição, exatamente pela sua imediação, o conhecimento que temos de nossa própria existência (Ibid., IV, 9, 3). Ainda no mesmo sentido, Leibniz dizia que são conhecidas por intuição as "verdades primitivas" tanto de razão quanto de fato (Nouv. ess., IV, 2, 1), ou seja, as verdades que o intelecto apreende ou possui sem a mediação de outras. Este significado era aceito por Stuart Mill: "As verdades são conhecidas de duas maneiras: algumas diretamente ou por si mesmas, outras através da mediação de outras verdades. As primeiras são objeto da intuição ou consciência; as segundas, da inferência" (Logic, Intr., § 4). Kant, por sua vez, referia-se ao sentido tradicional desse termo ao afirmar que "a intuição é a representação tal qual seria pela sua decorrência da imediata presença do objeto" (Prol., § 8). Por isso, para Kant, a intuição geralmente é o conhecimento para o qual o objeto apresenta-se diretamente. Mas Kant distingue a intuição sensível e a intuição intelectual. Sensível é a intuição de todo ser pensante finito, ao qual o objeto é dado: ela é, portanto, passividade, afeição (Crít. R. Pura, Anal. dos conceitos, seç. 1). A intuição intelectual é originária e criativa: nela o objeto é posto ou criado, portanto só se encontra no Ser criador, de Deus (Ibid., § 8, ao final; passim). Em outros termos, intelectual é a intuição divina da filosofia tradicional: a presença do objeto a esta intuição é inevitável e necessária porque o objeto é criado pela própria intuição.

Essa distinção kantiana foi conservada pelo Romantismo, mas só com a finalidade de reivindicar para o homem a intuição intelectual ou criativa que Kant e os antigos reservavam para Deus. Isso é compreensível, visto que, para os românticos, o conhecimento humano é o mesmo conhecimento com que o Espírito Absoluto ou criador se conhece a si mesmo, ou pelo menos é um aspecto ou um momento dela. Assim, Fichte entende por intuição intelectual "a consciência imediata de que eu ajo e daquilo que faço, sendo aquilo graças a que o Eu sabe enquanto faz" (Werke, I, p. 463). Por sua vez, Schelling afirma que "a filosofia transcendental deve ser constantemente acompanhada pela intuição intelectual" e que o eu é "uma intuição intelectual contínua", porquanto "se auto-produz". E acrescenta: "Assim como, sem a intuição do espaço, a geometria seria absolutamente incompreensível, porque todas as suas construções são apenas formas e maneiras variadas de limitar essa intuição, também sem a intuição intelectual a filosofia seria impossível porque todos os seus conceitos não passam de limitações diversas do produzir que se tem por objeto, em outras palavras, a intuição intelectual" (System der transzendentalen Idealismus, seç. I, cap. I, trad. it., p. 39). Hegel, por sua vez, identificava intuição e pensamento: "O puro intuir é o mesmo que o puro pensar... Fé e intuição devem ser tomadas em sentido mais elevado, como fé em Deus, como intuição intelectual de Deus.- vale dizer que se deve abstrair exatamente daquilo que constitui a diferença entre intuição e fé, de um lado, e pensamento, de outro. Não se pode afirmar que fé e intuição, transportadas para essa região mais alta, ainda sejam diferentes de pensamento" (Enc., § 63). A mesma tese é sustentada por Schopenhauer, que identifica intelecto e intuição, e pretende que até as conexões lógicas sejam reduzidas a elementos intuitivos (Die Welt, I, § 15). À mesma linha de conceitos pertence a noção de intuição encontrada em Rosmini: como apreensão imediata da ideia do ser em geral (Nuovo saggio, § 1.159; Antropologia, § 40, 505; Psicologia, § 13). E, apesar de opor-se a Rosmini quanto ao caráter indeterminado e vazio da ideia de ser, Gioberti aceitava a noção de intuição como relação imediata, total e necessária da mente humana com Deus e com sua ação criadora (Intr. alio studio della fil., II, p. 46). Esta continuava sendo uma "intuição intelectual", mas também é intelectual a intuição de que fala Bergson, conquanto carregada de polêmica anti-intelectualista ou anti-racionalista. De fato, como órgão próprio da filosofia, ela possui as características da intuição intelectual romântica: relação imediata ou direta com a realidade absoluta, ou seja, com a duração da consciência ou com o impulso criativo da vida. Bergson afirma: "A intuição é a visão do espírito por parte do espírito." "intuição significa principalmente consciência, mas consciência imediata, visão que mal se distingue do objeto visto, conhecimento que é contato e até coincidência" (La pensée et le mouvant, 3a ed., 1934, pp. 35-36). As mesmas características formais encontram-se na intuição eidética ou intuição da essência da qual fala Husseri: "A essência é um objeto de nova espécie. Assim como o dado da intuição individual empírica é um objeto individual, também o dado da intuição eidética é uma essência pura. Não se trata de uma analogia externa, mas sim de uma afinidade radical. Também a intuição eidética é uma intuição, assim como o objeto eidético é um objeto. A generalização dos conceitos correlativos ‘intuição’ e ‘objeto’ não é arbitrária, mas exigida necessariamente pela natureza das coisas" (Ideen, I, § 3). Por fim, a intuição que Croce identifica com a arte tem as mesmas características formais: é conhecimento originário e imediato, que por isso não distingue entre real e irreal; tem caráter ou fisionomia individual e expressa diretamente o objeto (Estética, cap. 1).

Recapitulando as características comuns e as diferenciais da intuição ao longo da história da filosofia, podemos dizer sobre as primeiras que a intuição é uma relação com o objeto, caracterizada: 1) pela imediação e 2) pela presença efetiva do objeto. Constantemente, com base nessas características, a intuição é considerada uma forma de conhecimento privilegiado. Por outro lado, suas características diferenciais podem ser assim distintas: 1) a intuição pode ser exclusiva de Deus e considerada o conhecimento que o criador tem das coisas criadas; 2) pode ser atribuída ao homem e considerada a experiência como conhecimento de um objeto presente, sendo, nesse sentido, percepção ; 3) pode ser atribuída ao homem e considerada conhecimento originário e criativo no sentido romântico. As três alternativas deixaram, em grande parte, de despertar o interesse da filosofia contemporânea. A primeira de fato pertence à esfera das especulações teológicas. A segunda tende a ser substituída pelo conceito de experiência como método ou como conjunto de métodos. A terceira está estritamente ligada à metafísica do Romantismo (velho e novo): ascende e declina com ele.

Em 1868 Peirce fez uma crítica do conceito de intuição, negando: 1) que ela pudesse servir para garantir a referência imediata de um conhecimento ao seu objeto; 2) que ela pudesse constituir o conhecimento evidente que o Eu tem de si mesmo; 3) que pudesse capacitar a distinguir os elementos subjetivos de conhecimentos diferentes. Ao mesmo tempo, Peirce afirmava a impossibilidade de pensar sem signos e de conhecer sem recorrer ao vínculo recíproco dos conhecimentos (Coll. Pap., 5.213-263). Essas negações e afirmações de Peirce foram e são amplamente aceitas pela filosofia contemporânea.

Hoje, mais que aos filósofos, a intuição serve aos cientistas, particularmente a matemáticos e lógicos, quando estes querem frisar o caráter inventivo de sua ciência. Claude Bernard dizia: "A intuição ou sentimento gera a ideia ou a hipótese experimental, ou seja, a interpretação antecipada dos fenômenos da natureza. Toda a iniciativa experimental está na ideia, pois só ela provoca a experiência. A razão ou o raciocínio servem apenas para deduzir as consequências dessa ideia e para submetê-las à experiência" (Intr. à l’étude de la médecine expérimentale, 1865, 1, 2, § 2). Poincaré repetia, com referência à matemática, o que Bernard dissera a propósito das ciências experimentais: "Demonstra-se com a lógica, mas só se inventa com a intuição (...) A faculdade que nos ensina a ver é a intuição. Sem ela, o geômetra seria como o escritor bom de gramática, mas vazio de ideias" (Science et méthode, 1909, p. 137). Ainda segundo Poincaré, na matemática a exigência lógica leva à formulação analítica; a exigência intuitiva, à formulação geométrica. "Assim, a lógica e a intuição têm cada uma sua missão. Ambas são indispensáveis. A lógica, a única que pode dar certezas, é o instrumento da demonstração: a intuição é o instrumento da invenção" (La valeur de la science, 1905, p. 29). Nesse sentido, como já se observou algumas vezes, a intuição tem caráter mais negativo que positivo: ela antecipa o que não decorre da observação empírica ou não pode ser deduzido dos conhecimentos já possuídos. Portanto, parece designar apenas certo grau de liberdade do pesquisador e nada tem a ver com o significado filosófico tradicional do termo, no qual se insere o emprego que dele fazem os matemáticos intuicionistas (v. intuicionismo, 4a). [Abbagnano]


VIDE noûs, noesis

conhecimento imediato. — Em princípio, distingue-se a intuição "empírica", que se relaciona a um objeto do mundo, da intuição "racional", que se designa a apreensão imediata de uma relação entre duas ideias (por ex., é uma intuição racional que nos permite apreender a demonstração que a soma dos ângulos de um triângulo é igual a dois ângulos retos). Toda intuição tem um caráter de descoberta, quer se trate da descoberta de um objeto do mundo, de uma nova ideia ou da análise de um sentimento. É nesse sentido que se tem falado da natureza "divinatória" da intuição. Distingue-se, em psicologia, as inteligências "intuitivas" e as inteligências "discursivas", segundo a rapidez da compreensão e suas exigências de demonstrações objetivas ou, ao contrário, suas repugnâncias por essas demonstrações. [Larousse]


Em sentido estrito, é a visão direta de algo individual existente, que se mostra imediatamente em sua concreta plenitude (isto é, sem intervenção de outros conteúdos cognitivos). Pelo que, só pode denominar-se intuitivo, em sentido rigoroso, aquele conhecimento que apreende o objeto em seu próprio ser presente; pelo contrário, é obstrutivo o conhecimento que prescinde da presença viva do conhecido. — Distinguem-se duas espécies de intuição: sensorial e intelectual, denominando-se esta última também visão intelectual.

A intuição sensorial encontra-se no animal e (em grau mais perfeito) no homem. Ligada a órgãos do corpo, limita-se às manifestações do mundo corpóreo. O termo "intuição" provém do sentido da vista, que no homem tem a primazia entre os demais sentidos; contudo estes possuem igualmente, a seu modo, uma "intuição" (mais ou menos altamente valiosa). Em sentido pleno, só pode designar-se como intuição a percepção imediata, porque só ela co-apresenta nos fenômenos sensoriais a existência do individual. Em acepção mais ampla, qualifica-se também de intuitiva a representação, na medida em que se forma de elementos intuitivos puramente sensoriais, mas prescinde da existência do individual representado. Entre a representação e a percepção situam-se as chamadas "imagens intuitivas subjetivas" dos eidéticos (do grego eidos = imagem); produzidas pela fantasia (não pelo objeto) como representações correntes, igualam, todavia, em clareza plástica (e, tratando-se de certos tipos, também em independência da vontade) as percepções (representação). — A intuição sensorial como percepção e representação reveste-se da maior importância para o pensamento humano, porque é a partir dela que este elabora muitos de seus conceitos primeiros e permanece constantemente incrustado nela durante seu curso ulterior (conversio ad phantasma dos escolásticos). VIDE formação do conceito, entendimento.

A intuição intelectual, em sentido estrito, só o espírito puro a possui; seu arquétipo é a visão com que Deus se compreende e compreende todo o existente finito no espelho de si mesmo (onisciência). Esta visão dirige-se ao ser (em oposição ao aparente ou fenomênico), e, por conseguinte, no caso de ente corpóreo, penetra até seu núcleo essencial, desde o qual contempla os fenômenos. Pelo que, não é só a fixação opaca do faticamente existente (como a intuição sensorial), mas é, ao mesmo tempo, e necessariamente, a apreensão ou compreensão dele em seu fundamento. Esta intuição intelectual é interdita ao homem, por mais que o ontologismo, e bastas vezes também o idealismo, lha atribuam. Contudo, há, em seu conhecer intelectual, intuição em sentido lato, na medida em que este conhecimento participa de alguns traços essenciais da intuição intelectual.

Muito próxima a ela vem a compreensão dos atos espirituais de pensar e querer. Podemos aqui falar de intuição, porque tais atos se mostram imediatamente como algo existente singular; não na acepção plenária do termo, visto que se tornam presentes não em visão direta, senão unicamente mediante a reflexão. — Nosso conhecimento conceptual aparece primariamente como o polo oposto de toda intuição, uma vez que tem em mira o universal, prescinde do existente e nunca extrai da plenitude concreta senão rasgos isolados; tampouco é um apreender imediato, mas sempre é levado a cabo mediante a intuição sensorial ou a reflexão. Não obstante, atendendo a que o universal primeiramente se conhece como que totalmente incrustado nestes modos intuitivos de apreensão, o próprio conceito ganha uma certa intuitividade, podendo, então, falar-se de "intuição da essência". Além disso, o conhecimento conceptual qualifica-se de intuitivo, na medida em eme imediatamente, ou seja, sem intervenção de um raciocínio, apreende seus objetos, quer estes sejam essências, quer conexões essenciais. Neste sentido fala S. Tomás de Aquino elo intelectus principiorum e distingue entre intelectus e ratio, isto é, entre conhecimento intelectual e conhecimento discursivo respectivamente, o primeiro dos quais, segundo ele, participa, em grau mínimo, da visão do espírito puro. — De modo mais assinalado, podemos falar de intuição, quando abarcamos com um só olhar (sem mediação do discurso) relações de maior amplitude; isto se aplica principalmente à visão artística, porque nela o objeto contemplado concretiza-se também em formas sensorialmente intuitivas. — Tal visão é sentida como inspiração, quando repentinamente abre perspectivas imprevistas e se apresenta como mercê graciosa, sem que haja intervenção própria. Segundo S. Tomás, o conhecimento intuitivo aqui descrito não difere essencialmente elo conhecimento discursivo, visto que "intelectus" e "ratio" constituem unicamente duas funções de uma só potência cognoscitiva intelectual.

A filosofia moderna restringe muito e de muitas maneiras o rico âmbito do conhecimento teorético (tomado, sobretudo, como discursivo), subtraindo-lhe principalmente os conhecimentos orientadores da vida e as realidades metafísicas. Estas são, então, postas em correspondência com modos de compreensão extra-intelectuais, irracionais ou emocionais, que frequentemente se manifestam como intuições. Devem aqui incluir-se, além ela filosofia da vida, a "apresentação emocional" e o "sentimento intencional" da atual filosofia dos valores, bem como também a irracional apreensão de Deus preconizada pela filosofia da religião em nossos dias. Embora tais orientações enfermem de uma infra-valorização do racional, todavia puseram em destaque, com grande intensidade, a insuficiência da "ratio" moderna descaracterizada, mate matizada e escrava ela técnica. Ensinam também que só a inserção na totalidade das forças psíquicas outorga ao conhecimento sua plena eficácia e vitalidade, com o que, muitas vezes, uma apreensão globalmente intuitiva se antecede à análise racional. — Lotz. [Brugger]




Podemos dizer que quando os fatos são corpos, nós os intuímos por intermédio dos sentidos. Quando são estados de alma, nós os percebemos imediatamente, isto é, diretamente. Denominamos intuição essa capacidade de darmos conta dos fatos espaciais e temporais. Intuímos o sensível. Também se usa o termo intuição em acepção figurada, que é aplicada à visão ideal. Assim se fala em intuição intelectual, poética e mística.


O vocábulo intuição designa em geral a visão direta e imediata de uma realidade ou a compreensão direta e imediata de uma verdade. Condição para que haja intuição em ambos os casos é que não haja elementos intermediários que se interponham em tal “visão direta”. Tem sido comum por isso contrapor o pensar intuitivo ao pensar discursivo, mas vários autores preferem a intuição à dedução (Descartes) ou ao conceito (Kant).

Platão e Aristóteles admitiram tanto o pensar intuitivo como o discursivo, mas enquanto Platão se inclinou para destacar o valor superior do primeiro e para considerar o segundo como um auxílio para o atingir, Aristóteles procurou sempre estabelecer um equilíbrio entre ambos. A intuição pode ser dividida em sensível e inteligível, mas a intuição a que os citados filósofos se referiram quase sempre foi a inteligível. Muitos autores escolásticos examinaram o problema da intuição em estreita relação com o da abstração. Muito vulgar entre eles foi distinguir entre a ideia intuitiva - ou seja, a que é recebida imediatamente pela presença real da coisa conhecida - e a ideia abstrativa - em que tal reação não é imediata. A intuição é por isso a visão, de tal modo que no ato intuitivo o sujeito vê a coisa ou se sente sentir, e assim sucessivamente, ao contrário do que sucede no ato abstrativo, onde se conhece uma coisa pela semelhança, como a causa pelo efeito.

Para Descartes, a intuição é um ato único ou simples, diferentemente do discurso, que consiste numa série ou sucessão de atos; por isso, como Descartes especialmente evidencia nas Regras para a Direção do Espírito, apenas há evidência propriamente dita na intuição, que apreende as naturezas simples, assim como as soluções imediatas entre estas naturezas. A intuição cartesiana tem três propriedades essenciais: a) ser ato de pensamento puro (por oposição à percepção sensível); b)n ser infalível, na medida em que é ainda mais simples que a dedução, a qual não é mais que a progressão espontânea da luz natural; c) aplica-se a tudo o que possa cair sob um ato simples do pensamento, quer dizer, os juízos e as relações entre juízos. Por sua vez, a captação imediata e não discursiva ou mediata das naturezas converte-se para Leibniz na apreensão direta das primeiras verdades. A intuição é, assim, um modo de acesso às verdades de razão ou, para uma mente infinita, às próprias verdades de fato, na medida em que têm o seu fundamento naquelas e podem ser abarcadas por intermédio de um só olhar intelectual. Kant empregou o termo intuição em vários sentidos: intuição intelectual, intuição empírica, intuição pura. A intuição intelectual, aquele tipo de intuição por intermédio do qual alguns autores pretendem que se pode conhecer diretamente certas realidades que se encontram fora do limite da experiência possível. Kant rejeita este tipo de intuição. O tipo de intuição aceitável é aquele que tem lugar “na medida em que o objeto nos é dado, o que unicamente é possível, pelo menos para nós, os homens, quando o espírito foi afetado por ele”. Segundo Kant, os objetos são-nos dados por meio da sensibilidade, e só esta produz intuição. A intuição é empírica quando se relaciona com o objeto por meio das sensações, chamando-se fenômeno ao objeto indeterminado desta intuição. A é pura quando não há nela nada do que pertence à sensação. A intuição tem lugar a priori, como forma pura da sensibilidade “e sem um objeto real do sentido ou sensação”. A intuição, todavia, não basta para o juízo. este requer conceitos, os quais são produzidos pelo entendimento. É fundamental na teoria kantiana do conhecimento a tese de que “os pensamentos sem conteúdo são vazios; as intuições sem conceitos são cegas”.

O idealismo alemão pós-kantiano tendeu para aceitar a noção de intuição intelectual.. Isto sucedeu por várias razões: eliminação da coisa em si, importância outorgada à atividade não só constituinte mas também construtora do Eu.

Também se podem compreender as ideias de intuição que se sustentaram ao longo da história da filosofia se nos ativermos a uma classificação geral das espécies de intuição. A intuição pode ser dividida em sensível ou inteligível, espiritual ou ideal. A primeira é a visão direta no plano da sensibilidade de algo imediatamente dado e, em rigor, de algo real. A segunda, que é a propriamente filosófica, dirige-se ao ideal, capta essências, relações, objetos ideais, mas capta-los, por assim dizer, através da intuição sensível, sem que isto queira dizer que o apreendido neste segundo tipo de intuição seja uma mera abstração do sensível. Como Husserl assiná-la, toda a intuição individual ou empírica pode transformar-se em essencial, em intuição das essências ou ideação, a qual capta o “quê” das coisas de modo que enquanto “o dado da intuição individual ou empírica é um objeto individual, o dado da intuição essencial é uma essência pura”. Junto a estas duas intuições fala-se de uma intuição ideal, dirigida às essências, de uma intuição emocional, dirigida aos valores, de uma intuição volitiva, encaminhada à apreensão das existências.

Para Bergson, a intuição é aquele modo de conhecimento que, em oposição ao pensamento, capta a realidade verdadeira, a interioridade, a duração, a continuidade, o que se move e se faz; enquanto o pensamento aflora o externo, converte o contínuo em fragmentos separados, analisa e decompõe, a intuição dirige-se ao futuro, instala-se no coração do real. A intuição é por isso intimamente inefável; a expressão da intuição cristaliza e, de certo modo, falsifica a intuição. A intuição bergsoniana é uma intuição de realidades, ou, inclusivamente, da realidade. Esta abre-se à intuição quando se desarticulam e rompem categorias “espacializadoras” e “pragmáticas” do pensamento. Para Husserl, a intuição pode ser individual, mas esta intuição pode transformar- se - não empiricamente, mas como “possibilidade essencial” - numa visão essencial. O objeto desta é uma pura essência desde as categorias mais elevadas até ao mais concreto. A visão essencial intuitiva pode ser adequada ou inadequada conforme for mais ou menos completa (o que não corresponde necessariamente à sua maior ou menor clareza e distinção). A intuição essencial capta uma pura essência, a qual é dada à dita intuição. A intuição categorial é para Husserl a intuição de certos conteúdos não sensíveis tais como estrutura e números. As diferentes espécies de “visões de essenciais” são equivalentes a diferentes tipos de intuição categorial.

Pode ver-se que se propôs um tipo diferente de intuição para cada ordem de objetos - entendo objeto num sentido muito geral, que inclui coisas tais como essências, números, relações, e...

Há algum fundamento comum em tão variadas formas de intuição? Para já parece que não pode haver fundamento comum pelo menos de dois tipos de intuição: a chamada intuição sensível e a intuição não sensível. Com efeito, a primeira refere-se a dados, objetos, processos, etc, percebidos pelos sentidos, enquanto a segunda, tanto se refere a universais como se refere a entidades metafísicas, encontra-se para lá de toda a apreensão sensível.

Não obstante, quando não consideramos nem o tipo de objeto nem o órgão ou faculdade de apreensão do mesmo e nos limitamos a estudar a forma de relação entre o objeto e a intuição, podemos advertir vários caracteres comuns em todas as espécies de intuição citadas. Entre tais caracteres mencionamos os seguintes: O ser direta (na intuição não há rodeios de nenhuma espécie); o ser imediata (na intuição não há nenhum elemento mediador, nenhum raciocínio, nenhuma inferência, etc); o ser completa (nem toda a intuição apreende por completo o objeto que se propõe intuir, mas toda a intuição apreende totalmente o apreendido); o ser adequada (na medida em que deixa de haver adequação deixa de haver intuição). A generalidade destes caracteres mostra-se em que correspondem por igual não apenas à intuição de realidades, sensíveis ou não, mas também à intuição de conceitos e de proposições. [Ferrater]

Submitted on 16.10.2023 12:43
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