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H humanismo
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Category:
Heidegger - Ser e Tempo etc.
humanismo
Definition:É ao tempo da República Romana que, pela primeira vez, e expressamente com seu nome próprio, se pensa e aspira a humanitas. O homo humanus se opõe ao homo barbarus. O homo humanus é aqui o romano que exalta e enobrece a virtus romana, pela "incorporação" da paideia tomada dos gregos. Os gregos são os gregos do Helenismo, cuja formação se fizera nas escolas filosóficas. Ela se refere à eruditio et institutio in bonas artes. A paideia assim entendida se traduz por humanitas. A romanitas propriamente dita do homo romanos consiste nessa humanitas. É em Roma que encontramos o primeiro humanismo. Em sua Essência, portanto, o humanismo permanece um fenômeno especificamente romano, que nasce do encontro da romanidade com a cultura do helenismo. A chamada Renascença dos séculos XIV e XV na Itália é uma renascentia romanitatis. Porque o que interessa é a romanitas, trata-se da humanitas e, por conseguinte, da paideia grega. Mas o grego aqui é sempre o grego em sua forma posterior e esta ainda assim, à romana. Também o homo romanus da Renascença está numa oposição ao homo barbarus. Todavia, o in-umano é agora o pretenso barbarismo da escolástica gótica da Idade Média. Por isso, ao humanismo, entendido historicamente, sempre pertence um stadium humanitatis que, num certo e determinado modo, retoma a antiguidade e assim se torna cada vez um reviver da Grécia. É o que se mostra em nosso humanismo do século XVIII, empreendido e sustentado por Winckelmann, Goethe e Schiller. Hoelderlin, porém, não pertence ao "humanismo’. E irão pertence, porque ele pensa o destino (Geschick) da Essência do homem mais originariamente do que é capaz de fazer esse "humanismo’.
Se, no entanto, por humanismo em sentido geral, se entende o esforço tendente a tornar o homem livre para a sua humanidade e a levá-lo a encontrar nessa liberdade sua dignidade, então o humanismo se diferenciará segundo a concepção de "liberdade" e de "natureza" do homem. Do mesmo modo, serão diferentes as vias de sua realização. O humanismo de Marx não necessita de uma volta à Antiguidade nem tampouco o humanismo, concebido, por Sartre, como existencialismo. Nesse sentido amplo, também o Cristianismo é um humanismo de vez que, na doutrina cristã, todo se dirige à salvação (salus aeterna) do homem, e a história da humanidade aparece dentro da história da salvação. Por mais diversas que sejam, segundo suas finalidades e seus fundamentos, quanto aos modos e meios de suas realizações específicas ou consoante a forma de suas doutrinas, essas espécies de humanismo, na realidade, coincidem no fato de todas elas determinarem a humanitas do homo humanus a partir de uma interpretação já assente da natureza, da história, do mundo, do fundamento do mundo, isto é, a partir de uma interpretação já assente do ente em sua totalidade. [CartaH, Carneiro Leão; GA9; GA9ES]
É o humanismo que pensa a humanidade do homem pela proximidade do Ser. Todavia é também o humanismo em que não está em jogo o homem mas a Essência Histórica do homem em sua proveniência da Verdade do Ser. Mas então nesse jogo não cai e fica de pé também a ec-sistência do homem ? Sem dúvida alguma. [CartaH, Carneiro Leão; GA9; GA9ES]
O Senhor pergunta: "Comment redonner un sens au mot ‘Humanisme’?" "De que maneira se pode restituir um sentido à palavra, "humanismo’?" Sua pergunta não pressupõe somente que o Senhor pretende conservar a palavra "humanismo". Ela implica também o reconhecimento que essa palavra perdeu o seu sentido.
E o perdeu por se haver percebido que a Essência do humanismo é metafísica, e isso significa agora, por se haver percebido que a metafísica não só não coloca a questão sobre a Verdade do Ser mas a obstrui, enquanto persiste no esquecimento do Ser. Ora, o próprio pensamento, que leva a perceber a Essência questionável (= digna de ser posta em questão) do humanismo, também nos conduziu a pensar, mais originariamente, a Essência do homem. Com essa Humanitas mais Essencial do homo humanus se dá a possibilidade de restituir à palavra "humanismo" um sentido Histórico mais antigo do que aquele que lhe possam atribuir os cálculos historiográficos. Essa restituição de sentido, no entanto, não é para se entender como se a palavra "humanismo" fosse, simplesmente destituída de sentido, um mero flatus vocis. Pois na palavra "humanismo" o humanus indica a humanitas, a Essência do homem. O ismo indica que a Essência do homem é para ser concebida Essencialmente. Esse é o sentido da palavra "humanismo", como palavra. Por isso, restituir-lhe um sentido só pode significar: redimensionar o sentido da palavra. Ora, isso requer duas coisas: tanto que se experimente a Essência do homem de modo mais originário, quanto que se mostre a medida em que essa Essência é, a seu modo, destinada Historicamente (geschicklich). Ora, repousando a Essência do homem na ec-sistência, é dessa que depende Essencialmente, isto é, de acordo com o próprio Ser, a medida em que o Ser a-propria (ereignit) o homem a ec-sistir na Verdade do Ser para a vigília de Sua própria Verdade. No caso de decidirmos manter a palavra, humanismo significa, então: a Essência do homem é Essencial para a Verdade do Ser, mas de tal sorte que o mais importante não seja o homem simplesmente como tal. Nesse sentido pensamos um humanismo todo especial (seltsamer Art). A palavra indica um título que é um "locus a non lucendo".
Será que ainda se pode chamar de "humanismo" esse "humanismo", que se pronuncia contra todo humanismo vigente, mas sem advogar, de maneira alguma, o inumano? E somente para, talvez participando no uso do título, nadar nas correntes em voga, que se afogam no subjetivismo metafísico e submergem no esquecimento do Ser? Ou não será que o pensamento, por meio de uma oposição aberta ao humanismo, não deve antes suscitar um escândalo, capaz de despertar, primeiro, a atenção sobre a humanitas do homo humanus e sua fundamentação? Desse modo — mesmo que o momento atual da História do mundo já não provocasse por si mesmo — poder-se-ia promover uma meditação, que pensasse não somente sobre o homem mas sobre a "natureza" do homem, e não só sobre a natureza e sim, de modo mais originário ainda, sobre a dimensão, onde, determinada pelo próprio Ser, mora (heimisch) a Essência do homem! Será que não deveríamos suportar, ainda por algum tempo, os mal-entendidos, a que vem sendo exposto o caminho de pensamento no elemento de Ser e Tempo, e deixar que se gastem lentamente? Esses mal-entendidos são, naturalmente, interpretações do que se lê ou mesmo do que se pretende ter lido, segundo o que se crê já saber antes da leitura. Todos eles apresentam a mesma estrutura e o mesmo fundamento.
Porque se fala contra o "humanismo", teme-se que se defenda o inumano e se glorifique a brutalidade e barbaridade. Pois, o que é "mais lógico" do que isto: quem nega o humanismo, não lhe resta senão afirmar a desumanidade? [CartaH, Carneiro Leão; GA9; GA9ES]
Desse modo se dão as coisas, por isso não é de se estranhar que o humanismo surja somente ali onde o mundo se converte em imagem. Porém, do mesmo modo que, na grande época grega era impossível algo semelhante a uma imagem do mundo, tampouco era possível que prevalecesse algum tipo de humanismo neste momento. Por isso, o humanismo, em sentido histórico estrito, não é mais que uma antropologia estético-moral. Aqui, este nome não se refere a uma investigação científico-natural do homem, nem significa a doutrina fixada pela teologia cristã acerca de um homem criado, decaído e redimido. Este nome designa aquela interpretação filosófica do homem que explica e valora o ente em sua totalidade a partir do homem e para o homem. [DZW]
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