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I Iluminismo
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Termos chaves da Filosofia
Iluminismo
Definition:(in. Enlightenment; fr. Philosophie des lumières; al. Aufklàrung; it. Illuminismó).
Linha filosófica caracterizada pelo empenho em estender a razão como crítica e guia a todos os campos da experiência humana. Nesse sentido, Kant escreveu: "O Iluminismo é a saída dos homens do estado de minoridade devido a eles mesmos. Minoridade é a incapacidade de Utilizar o próprio intelecto sem a orientação de outro. Essa minoridade será devida a eles mesmos se não for causada por deficiência intelectual, mas por falta de decisão e coragem para Utilizar o intelecto como guia. ‘Sapere aude! Tem coragem de usar teu intelecto!’ é o lema do Iluminismo" (Was ist Aufklärung?, em Op., ed. Cassirer, IV, p. 169). O Iluminismo compreende três aspectos diferentes e conexos: 1) extensão da crítica a toda e qualquer crença e conhecimento, sem exceção; 2) realização de um conhecimento que, por estar aberto à crítica, inclua e organize os instrumentos para sua própria correção; 3) uso efetivo, em todos os campos, do conhecimento assim atingido, com o fim de melhorar a vida privada e social dos homens. Esses três aspectos, ou melhor, compromissos fundamentais, constituem um dos modos recorrentes de entender e praticar a filosofia, cuja expressão já se encontra no período clássico da Grécia antiga (v. Filosofia). O discurso de Péricles em Tucídides (II, 35-46) é a melhor e mais autêntica descrição do Iluminismo antigo. Por Iluminismo moderno entende-se comumente o período que vai dos últimos decênios do séc. XVII aos últimos decênios do séc. XVIII: esse período muitas vezes é designado simplesmente Iluminismo ou século das luzes.
1) O Iluminismo, por um lado, adota a fé cartesiana na razão e, por outro lado, acha que é bem mais limitado o poder da razão. A lição da modéstia que o empirismo inglês, sobretudo em Locke, dera às pretensões cognoscitivas do homem não é esquecida: o empirismo, aliás, passa a fazer parte integrante do Iluminismo A expressão típica desta limitação dos poderes da razão é a doutrina da coisa em si , lugar-comum do Iluminismo e como tal compartilhado por Kant. Essa doutrina significa que os poderes cognoscitivos humanos, tanto sensíveis quanto racionais, vão até onde vai o fenômeno, mas não além. Assim, o Iluminismo é caracterizado, em primeiro lugar, pela extensão da crítica racional aos poderes cognoscitivos, portanto pelo reconhecimento dos limites entre a validade efetiva desses poderes e suas pretensões fictícias. O criticismo kantiano, que, como Kant afirma, pretende levar a razão ao tribunal da razão (Crít. R. Pura, Pref. à la edição), nada mais é que a realização sistemática de uma tarefa que todo o Iluminismo assumiu.
Ao lado desta limitação dos poderes cognoscitivos, primeira característica do Iluminismo por ser o primeiro efeito do compromisso de estender a crítica racional a qualquer campo, há outro aspecto fundamental desse mesmo compromisso: não existem campos privilegiados, dos quais a crítica racional deva ser excluída. Sob este segundo aspecto, o Iluminismo, mais que extensão, é correção fundamental do cartesianismo. De fato, para Descartes a crítica racional não tinha direitos fora do campo da ciência e da metafísica. Os campos da política e da religião deveriam continuar sendo tabus, e no próprio campo da moral Descartes acha que a razão não tenha a sugerir outra coisa a não ser a reverência às normas tradicionais. O Iluminismo não aceita estas renúncias cartesianas; seu primeiro ato, aliás, foi estender a indagação racional ao domínio da religião e da política. O deísmo inglês é de fato a primeira manifestação do Iluminismo; consiste na tentativa de determinar a validade da religião "nos limites da razão" (como dirá Kant), mas de uma razão cujas possibilidades já foram delimitadas previamente pela experiência. Por outro lado, os Tratados sobre o governo de Locke iniciam a crítica política iluminista, depois retomada e levada a termo por Montesquieu, Turgot, Voltaire e pelos escritores da Revolução. No domínio moral, a Teoria dos sentimentos morais (1759) de Adam Smith, as obras dos moralistas franceses (La Rochefoucauld, La Bruyère, Vauvenargues), que punham em evidência a importância do sentimento e das paixões na conduta do homem, bem como as doutrinas morais de Hume, marcam a abertura deste campo de indagação à crítica racional e à busca de novos fundamentos para a vida moral do homem. Ao mesmo tempo, a obra de Beccaria, Dei diritti e delle pene (1764), abria à indagação racional o domínio do direito penal. Obviamente, os resultados obtidos em todos esses campos são diferentes e sua importância varia. Mas o significado do Iluminismo não consiste na soma de seus resultados, mas no fato de haver aberto à crítica domínios até então fechados e por haver iniciado em tais domínios um trabalho eficaz que desde então não foi interrompido.
A atitude crítica própria do Iluminismo está bem expressa em sua resoluta hostilidade à tradição. Na tradição, o Iluminismo vê uma força hostil que mantém vivas crenças e preconceitos que é sua obrigação destruir. Aquilo que impropriamente tem-se denominado anti-historicismo iluminista na realidade é antitradicionalismo: a recusa em aceitar a autoridade de tradição e de reconhecer nela qualquer valor independente da razão. O Dicionário histórico e crítico (1697) de Bayle, concebido como coletânea e refutação dos erros da tradição, é o maior documento da atitude constante dos iluministas de todos os países. Tradição e erro para eles coincidiam. E embora hoje essa tese possa parecer extremista e tão dogmática quanto a tese que identifica tradição e verdade, não se deve esquecer que só ela, graças a um esforço hercúleo, possibilitou a libertação dos fortes entraves que a tradição impunha à livre pesquisa, permitindo chegar aos novos conceitos (de que ainda hoje dispomos) de história e de historiografia. Esta última vinha constituindo, nesse período, os cânones que lhe garantiam, na medida do possível, a Independência em relação a crenças e preconceitos no reconhecimento e na avaliação dos fatos. Por outro lado, a história vinha-se configurando como o progresso possível (v. adiante).
2) Já se disse que o empirismo fez parte do Iluminismo De fato, só a atitude empirista garante a abertura do domínio da ciência e, em geral, do conhecimento, à crítica da razão, pois consiste em admitir que toda verdade pode e deve ser colocada à prova, eventualmente modificada, corrigida ou abandonada. Isso explica por que o Iluminismo sempre esteve estritamente unido à atitude empirista. O empirismo é o ponto de partida e o pressuposto de muitos deístas; é a filosofia defendida por Voltaire, Diderot, D’Alembert e que, através da obra de Wolff, domina os rumos do Iluminismo alemão até Kant. Em estreita ligação com essa atitude está a importância que o Iluminismo atribui à ciência. Com o Iluminismo, a ciência, esta filha mais nova da cultura ocidental, candidata-se ao primeiro lugar na hierarquia das atividades humanas. A física, cuja primeira sistematização se encontra na obra de Newton (Princípios matemáticos de filosofia natural, 1687), é acatada pelos iluministas como a ciência mãe ou como a "verdadeira" filosofia. As pesquisas de Boyle encaminham a química para a guinada decisiva, que levou à sua organização como ciência positiva; a obra de Buffon e de outros naturalistas assinala, também para as ciências biológicas, etapas fundamentais de desenvolvimento. Mas, também aí, o mais importante não são os resultados obtidos, mas sim a direção do caminho tomado. Tudo o que esses resultados têm de dogmático, incompleto, provisório, pode ser corrigido pelo próprio compromisso fundamental do Iluminismo, de não bloquear a obra da razão em nenhum campo e em nenhum nível.
3) O Iluminismo não é somente uso crítico da razão; é também o compromisso de utilizar a razão e os resultados que ela pode obter nos vários campos de pesquisa para melhorar a vida individual e social do homem. Esse compromisso não é compartilhado igualmente por todos os iluministas. Alguns deles, que contribuíram de forma eminente para o desenvolvimento da crítica racional do mundo humano, não o aceitam. Isso ocorre, p. ex., com Hume, que declara filosofar para seu próprio deleite. Mas, por outro lado, ele constitui a substância da personalidade de muitos pensadores iluministas e também de empreendimentos como a Enciclopédia, que tomaram para si a tarefa da luta contra o preconceito e a ignorância. Essa luta, assim como a luta contra os privilégios empreendida pela Revolução Francesa com base nos compromissos e nas concepções iluministas, tem como objetivo declarado a felicidade ou o bem-estar do gênero humano. Nesse aspecto, o Iluminismo é responsável por duas concepções de fundamental importância para a cultura moderna e contemporânea: a concepção de tolerância e a de progresso. O princípio da tolerância religiosa, que não só exige a convivência pacífica das várias confissões religiosas, mas também impede que a religião se torne um instrumento de governo, encontra no Iluminismo a primeira defesa no sentido de defini-lo como elemento da cultura ocidental, não suscetível de negação no âmbito dessa mesma cultura. Por outro lado, o compromisso de transformação, próprio do Iluminismo, leva à concepção da história como progresso, ou seja, como possibilidade de melhoria do ponto de vista do saber e dos modos de vida do homem. Voltaire, Condorcet e Turgot são os que mais contribuem para formular a noção de um devir histórico aberto à obra do homem, suscetível de receber as marcas que o homem lhe quer imprimir. Essa noção serviu para apagar o sentimento de fatalidade histórica que impedia qualquer iniciativa de transformação. Mais tarde, o Romantismo dirá que a história é a própria Razão Absoluta, que nela, em cada um de seus momentos, tudo aquilo que deve ser é e o progresso é fatal ou inevitável; e verá no Iluminismo, que contrapôs a história à tradição e negou esta última, uma concepção "abstrata" ou "anti-histórica". Mas na realidade o que o Romantismo visava era apenas declarar inútil ou impossível o compromisso de transformação: confiando na força da Razão Histórica, pretendia imprimir o selo da eternidade nas lições em que a via encarnada. Isso confirma que, se e quando a filosofia quiser assumir a tarefa (que Platão já lhe atribuía) de tornar o mundo humano, a atitude iluminista e seus pressupostos fundamentais são as primeiras condições dessa tarefa. [Abbagnano]
Assim se denomina o movimento cultural e intelectual que pretende dominar pela razão a problemática total do homem. — Movimentos dessa natureza, houve-os sempre em número avultado, mas de modo especial recebe este nome o período histórico que abrange os séculos XVII e XVIII. — Causa do Iluminismo foi o prurido de liberdade que a razão sentiu, quando os povos ocidentais chegaram à maioridade e, devido aos êxitos da ciência natural, se lhes desvelou a consciência de si mesmos. A razão humana julgou-se capaz de compreender de modo exaustivo a realidade e propôs-se transformar, de acordo com suas opiniões, todas as esferas da vida, pondo de lado a história. Daí, o caráter sedutor da filosofia iluminista e sua influência literária sobre a massa dos intelectuais ("filosofia popular"). Do ponto de vista religioso, o iluminismo foi motivado pelo cansaço provocado pelas divisões em matéria de crenças, diante das quais se esperava encontrar na razão, comum a todos os homens, um princípio de unidade e de conciliação. Extraindo dos diversos credos religiosos o que neles havia de comum a todos, obtinha-se uma religião natural puramente racional, que excluía toda sorte de revelação e vínculo sobrenatural bem como toda autoridade natural recebida de Deus. Esta religião, apresentada geralmente sob a forma de deísmo, era tida como a religião pura e primitiva.
O Iluminismo teve início na Inglaterra e na França. Na Inglaterra, uniu-se ao empirismo de Locke e de Hume, na Holanda e na França, a Descartes e a Spinoza. Traço fundamental do Iluminismo francês e alemão (Leibniz, Wolff, Reimarus, Lessing, Kant) é o racionalismo. A filosofia moral do Iluminismo, cultivada principalmente na Inglaterra (Hobbes, Shaftesbury, Bentham), procurou, por um lado, apoio no deísmo, libertando-se, por outro lado, de toda pressuposição religiosa e metafísica (Bayle). O Iluminismo desembocou no radicalismo de Voltaire e dos enciclopedistas, e acabou, finalmente, no crasso materialismo de Holbach e Lamettrie. A par do racionalismo do Iluminismo e em oposição a ele, surgiu uma corrente que enveredou pela senda do sentimento, não menos natural, fazendo deste a fonte mais profunda da humana atividade (Rousseau e outros). Contrária ao desdém da história, característico da concepção puramente científico-naturalista do Iluminismo da primeira fase, é a filosofia da história de Herder, que transfere para o domínio da história a concepção evolutiva do orgânico. — Brugger.
Linha filosófica caracterizada pelo empenho em estender a razão como crítica e guia a todos os campos da experiência humana. Nesse sentido, Kant escreveu: "O Iluminismo é a saída dos homens do estado de minoridade devido a eles mesmos. Minoridade é a incapacidade de Utilizar o próprio intelecto sem a orientação de outro. Essa minoridade será devida a eles mesmos se não for causada por deficiência intelectual, mas por falta de decisão e coragem para Utilizar o intelecto como guia. ‘Sapere aude! Tem coragem de usar teu intelecto!’ é o lema do Iluminismo" (Was ist Aufklärung?, em Op., ed. Cassirer, IV, p. 169). O Iluminismo compreende três aspectos diferentes e conexos: 1) extensão da crítica a toda e qualquer crença e conhecimento, sem exceção; 2) realização de um conhecimento que, por estar aberto à crítica, inclua e organize os instrumentos para sua própria correção; 3) uso efetivo, em todos os campos, do conhecimento assim atingido, com o fim de melhorar a vida privada e social dos homens. Esses três aspectos, ou melhor, compromissos fundamentais, constituem um dos modos recorrentes de entender e praticar a filosofia, cuja expressão já se encontra no período clássico da Grécia antiga (v. Filosofia). O discurso de Péricles em Tucídides (II, 35-46) é a melhor e mais autêntica descrição do Iluminismo antigo. Por Iluminismo moderno entende-se comumente o período que vai dos últimos decênios do séc. XVII aos últimos decênios do séc. XVIII: esse período muitas vezes é designado simplesmente Iluminismo ou século das luzes.
1) O Iluminismo, por um lado, adota a fé cartesiana na razão e, por outro lado, acha que é bem mais limitado o poder da razão. A lição da modéstia que o empirismo inglês, sobretudo em Locke, dera às pretensões cognoscitivas do homem não é esquecida: o empirismo, aliás, passa a fazer parte integrante do Iluminismo A expressão típica desta limitação dos poderes da razão é a doutrina da coisa em si , lugar-comum do Iluminismo e como tal compartilhado por Kant. Essa doutrina significa que os poderes cognoscitivos humanos, tanto sensíveis quanto racionais, vão até onde vai o fenômeno, mas não além. Assim, o Iluminismo é caracterizado, em primeiro lugar, pela extensão da crítica racional aos poderes cognoscitivos, portanto pelo reconhecimento dos limites entre a validade efetiva desses poderes e suas pretensões fictícias. O criticismo kantiano, que, como Kant afirma, pretende levar a razão ao tribunal da razão (Crít. R. Pura, Pref. à la edição), nada mais é que a realização sistemática de uma tarefa que todo o Iluminismo assumiu.
Ao lado desta limitação dos poderes cognoscitivos, primeira característica do Iluminismo por ser o primeiro efeito do compromisso de estender a crítica racional a qualquer campo, há outro aspecto fundamental desse mesmo compromisso: não existem campos privilegiados, dos quais a crítica racional deva ser excluída. Sob este segundo aspecto, o Iluminismo, mais que extensão, é correção fundamental do cartesianismo. De fato, para Descartes a crítica racional não tinha direitos fora do campo da ciência e da metafísica. Os campos da política e da religião deveriam continuar sendo tabus, e no próprio campo da moral Descartes acha que a razão não tenha a sugerir outra coisa a não ser a reverência às normas tradicionais. O Iluminismo não aceita estas renúncias cartesianas; seu primeiro ato, aliás, foi estender a indagação racional ao domínio da religião e da política. O deísmo inglês é de fato a primeira manifestação do Iluminismo; consiste na tentativa de determinar a validade da religião "nos limites da razão" (como dirá Kant), mas de uma razão cujas possibilidades já foram delimitadas previamente pela experiência. Por outro lado, os Tratados sobre o governo de Locke iniciam a crítica política iluminista, depois retomada e levada a termo por Montesquieu, Turgot, Voltaire e pelos escritores da Revolução. No domínio moral, a Teoria dos sentimentos morais (1759) de Adam Smith, as obras dos moralistas franceses (La Rochefoucauld, La Bruyère, Vauvenargues), que punham em evidência a importância do sentimento e das paixões na conduta do homem, bem como as doutrinas morais de Hume, marcam a abertura deste campo de indagação à crítica racional e à busca de novos fundamentos para a vida moral do homem. Ao mesmo tempo, a obra de Beccaria, Dei diritti e delle pene (1764), abria à indagação racional o domínio do direito penal. Obviamente, os resultados obtidos em todos esses campos são diferentes e sua importância varia. Mas o significado do Iluminismo não consiste na soma de seus resultados, mas no fato de haver aberto à crítica domínios até então fechados e por haver iniciado em tais domínios um trabalho eficaz que desde então não foi interrompido.
A atitude crítica própria do Iluminismo está bem expressa em sua resoluta hostilidade à tradição. Na tradição, o Iluminismo vê uma força hostil que mantém vivas crenças e preconceitos que é sua obrigação destruir. Aquilo que impropriamente tem-se denominado anti-historicismo iluminista na realidade é antitradicionalismo: a recusa em aceitar a autoridade de tradição e de reconhecer nela qualquer valor independente da razão. O Dicionário histórico e crítico (1697) de Bayle, concebido como coletânea e refutação dos erros da tradição, é o maior documento da atitude constante dos iluministas de todos os países. Tradição e erro para eles coincidiam. E embora hoje essa tese possa parecer extremista e tão dogmática quanto a tese que identifica tradição e verdade, não se deve esquecer que só ela, graças a um esforço hercúleo, possibilitou a libertação dos fortes entraves que a tradição impunha à livre pesquisa, permitindo chegar aos novos conceitos (de que ainda hoje dispomos) de história e de historiografia. Esta última vinha constituindo, nesse período, os cânones que lhe garantiam, na medida do possível, a Independência em relação a crenças e preconceitos no reconhecimento e na avaliação dos fatos. Por outro lado, a história vinha-se configurando como o progresso possível (v. adiante).
2) Já se disse que o empirismo fez parte do Iluminismo De fato, só a atitude empirista garante a abertura do domínio da ciência e, em geral, do conhecimento, à crítica da razão, pois consiste em admitir que toda verdade pode e deve ser colocada à prova, eventualmente modificada, corrigida ou abandonada. Isso explica por que o Iluminismo sempre esteve estritamente unido à atitude empirista. O empirismo é o ponto de partida e o pressuposto de muitos deístas; é a filosofia defendida por Voltaire, Diderot, D’Alembert e que, através da obra de Wolff, domina os rumos do Iluminismo alemão até Kant. Em estreita ligação com essa atitude está a importância que o Iluminismo atribui à ciência. Com o Iluminismo, a ciência, esta filha mais nova da cultura ocidental, candidata-se ao primeiro lugar na hierarquia das atividades humanas. A física, cuja primeira sistematização se encontra na obra de Newton (Princípios matemáticos de filosofia natural, 1687), é acatada pelos iluministas como a ciência mãe ou como a "verdadeira" filosofia. As pesquisas de Boyle encaminham a química para a guinada decisiva, que levou à sua organização como ciência positiva; a obra de Buffon e de outros naturalistas assinala, também para as ciências biológicas, etapas fundamentais de desenvolvimento. Mas, também aí, o mais importante não são os resultados obtidos, mas sim a direção do caminho tomado. Tudo o que esses resultados têm de dogmático, incompleto, provisório, pode ser corrigido pelo próprio compromisso fundamental do Iluminismo, de não bloquear a obra da razão em nenhum campo e em nenhum nível.
3) O Iluminismo não é somente uso crítico da razão; é também o compromisso de utilizar a razão e os resultados que ela pode obter nos vários campos de pesquisa para melhorar a vida individual e social do homem. Esse compromisso não é compartilhado igualmente por todos os iluministas. Alguns deles, que contribuíram de forma eminente para o desenvolvimento da crítica racional do mundo humano, não o aceitam. Isso ocorre, p. ex., com Hume, que declara filosofar para seu próprio deleite. Mas, por outro lado, ele constitui a substância da personalidade de muitos pensadores iluministas e também de empreendimentos como a Enciclopédia, que tomaram para si a tarefa da luta contra o preconceito e a ignorância. Essa luta, assim como a luta contra os privilégios empreendida pela Revolução Francesa com base nos compromissos e nas concepções iluministas, tem como objetivo declarado a felicidade ou o bem-estar do gênero humano. Nesse aspecto, o Iluminismo é responsável por duas concepções de fundamental importância para a cultura moderna e contemporânea: a concepção de tolerância e a de progresso. O princípio da tolerância religiosa, que não só exige a convivência pacífica das várias confissões religiosas, mas também impede que a religião se torne um instrumento de governo, encontra no Iluminismo a primeira defesa no sentido de defini-lo como elemento da cultura ocidental, não suscetível de negação no âmbito dessa mesma cultura. Por outro lado, o compromisso de transformação, próprio do Iluminismo, leva à concepção da história como progresso, ou seja, como possibilidade de melhoria do ponto de vista do saber e dos modos de vida do homem. Voltaire, Condorcet e Turgot são os que mais contribuem para formular a noção de um devir histórico aberto à obra do homem, suscetível de receber as marcas que o homem lhe quer imprimir. Essa noção serviu para apagar o sentimento de fatalidade histórica que impedia qualquer iniciativa de transformação. Mais tarde, o Romantismo dirá que a história é a própria Razão Absoluta, que nela, em cada um de seus momentos, tudo aquilo que deve ser é e o progresso é fatal ou inevitável; e verá no Iluminismo, que contrapôs a história à tradição e negou esta última, uma concepção "abstrata" ou "anti-histórica". Mas na realidade o que o Romantismo visava era apenas declarar inútil ou impossível o compromisso de transformação: confiando na força da Razão Histórica, pretendia imprimir o selo da eternidade nas lições em que a via encarnada. Isso confirma que, se e quando a filosofia quiser assumir a tarefa (que Platão já lhe atribuía) de tornar o mundo humano, a atitude iluminista e seus pressupostos fundamentais são as primeiras condições dessa tarefa. [Abbagnano]
Assim se denomina o movimento cultural e intelectual que pretende dominar pela razão a problemática total do homem. — Movimentos dessa natureza, houve-os sempre em número avultado, mas de modo especial recebe este nome o período histórico que abrange os séculos XVII e XVIII. — Causa do Iluminismo foi o prurido de liberdade que a razão sentiu, quando os povos ocidentais chegaram à maioridade e, devido aos êxitos da ciência natural, se lhes desvelou a consciência de si mesmos. A razão humana julgou-se capaz de compreender de modo exaustivo a realidade e propôs-se transformar, de acordo com suas opiniões, todas as esferas da vida, pondo de lado a história. Daí, o caráter sedutor da filosofia iluminista e sua influência literária sobre a massa dos intelectuais ("filosofia popular"). Do ponto de vista religioso, o iluminismo foi motivado pelo cansaço provocado pelas divisões em matéria de crenças, diante das quais se esperava encontrar na razão, comum a todos os homens, um princípio de unidade e de conciliação. Extraindo dos diversos credos religiosos o que neles havia de comum a todos, obtinha-se uma religião natural puramente racional, que excluía toda sorte de revelação e vínculo sobrenatural bem como toda autoridade natural recebida de Deus. Esta religião, apresentada geralmente sob a forma de deísmo, era tida como a religião pura e primitiva.
O Iluminismo teve início na Inglaterra e na França. Na Inglaterra, uniu-se ao empirismo de Locke e de Hume, na Holanda e na França, a Descartes e a Spinoza. Traço fundamental do Iluminismo francês e alemão (Leibniz, Wolff, Reimarus, Lessing, Kant) é o racionalismo. A filosofia moral do Iluminismo, cultivada principalmente na Inglaterra (Hobbes, Shaftesbury, Bentham), procurou, por um lado, apoio no deísmo, libertando-se, por outro lado, de toda pressuposição religiosa e metafísica (Bayle). O Iluminismo desembocou no radicalismo de Voltaire e dos enciclopedistas, e acabou, finalmente, no crasso materialismo de Holbach e Lamettrie. A par do racionalismo do Iluminismo e em oposição a ele, surgiu uma corrente que enveredou pela senda do sentimento, não menos natural, fazendo deste a fonte mais profunda da humana atividade (Rousseau e outros). Contrária ao desdém da história, característico da concepção puramente científico-naturalista do Iluminismo da primeira fase, é a filosofia da história de Herder, que transfere para o domínio da história a concepção evolutiva do orgânico. — Brugger.
Reference: A VISITAR: CITAÇÕES DE HEIDEGGER, POR TERMOS CHAVES
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