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fantasma

Definition:
VIDE imagem

Freud, que em nenhum de seus escritos elaborou uma verdadeira teoria orgânica do fantasma, não define precisamente que papel o mesmo desempenha na dinâmica da introjeção melancólica. Contudo, uma tradição antiga e persistente considerava a síndrome do humor negro intimamente vinculada a uma hipertrofia mórbida da faculdade fantástica, a ponto de se poder afirmar que só se a pusermos no contexto do fundo complexo da teoria medieval do fantasma será possível entender perfeitamente todos os seus aspectos. E provável que a psicanálise contemporânea, que resgatou o papel do fantasma nos processos psíquicos e parece ter até a pretensão de se considerar, cada vez mais explicitamente, como teoria geral do fantasma, encontraria um ponto de referência útil em uma doutrina que, com antecedência de muitos séculos, havia concebido o Eros como processo essencialmente fantasmático e havia atribuído lugar importante ao fantasma na vida do espírito. A fantasmologia medieval surgia de uma [49] convergência da teoria da imaginação, de origem aristotélica, com a doutrina platônica do pneuma como veículo da alma, a teoria mágica da fascinação e aquela médica, das influências entre espírito e corpo. Segundo esse multiforme conjunto doutrinai, que se encontra já enunciado de diversas maneiras na Teologia pseudo-aristotélica, no Uber de spiritu et anima, de Alquero, e no De insomniis, de Sinésio, a fantasia (φανταστικόν πνεύμα [phantastikon pneuma] — spiritus phantasticus) é concebida como uma espécie de corpo sutil da alma que, situado na ponta extrema da alma sensitiva, recebe as imagens dos objetos, forma os fantasmas dos sonhos e, em determinadas circunstâncias, pode separar-se do corpo para estabelecer contatos e visões sobrenaturais; além disso, ela é a sede das influências astrais, o veículo dos influxos mágicos e, como quid medium entre corpóreo e incorporeo, permite dar conta de uma série de fenômenos que sem isso seriam inexplicáveis, como a ação dos desejos maternos sobre a “matéria mole” do feto, a aparição dos demônios e o efeito dos fantasmas de acasalamento sobre o membro genital. A mesma teoria permitia também que se explicasse a gênese do amor; e não é possível, especialmente, compreender o cerimonial amoroso que a lírica trovadoresca e os poetas do dolce stil novo deixaram em herança para a poesia ocidental moderna, se não se considerar o fato de que ele se apresenta, desde a origem, como um processo fantasmático. Não é um corpo externo, mas uma imagem interior, ou melhor, o fantasma impresso, através do olhar, nos espíritos fantásticos, que é a origem e o objeto do enamoramento; mas só a elaboração atenta e a descomedida contemplação desse fantasmático simulacro mental eram consideradas capazes de gerar uma autêntica paixão amorosa. Andrea Capellano, cujo De amore é considerado a teorização exemplar do amor cortês, define o amor como “immoderata cogitatio” do fantasma interior, acrescentando que “ex sola cogitatione... passio illa procedit” [“aquela paixão provém exclusivamente da fantasia”]. [50]

Desta maneira, dada a fundamental pertença do humor negro ao processo erótico, não causará surpresa que a síndrome melancólica seja desde a origem tradicionalmente vinculada à prática fantasmática. As “imaginationes malae” [“imaginações más”] aparecem por algum tempo em tanta evidência na literatura médica entre os “signa melancoliae” [“sinais da melancolia”], que se pode afirmar que a doença atrabiliária se configura essencialmente, segundo a expressão do médico paduano Girolamo Mercuriale, como um “vitium corruptae imaginationis” [“vício da imaginação corrompida”]. [Cf. G. TANFANI. “II conceito di melancolia nel ‘500’” (Rivista di Storia delle Science Mediche e Naturali, Florença, jul./dez. 1948).] Lullo, por sua vez, menciona a afinidade entre a melancolia e a faculdade imaginativa, sublinhando que os saturninos “a longo accipiunt per ymaginacionem, quae cum melancolia maiorem habet concordiam quam cum alia compleccione” [“de longe percebem pela imaginação, a qual concorda mais com a melancolia do que com qualquer outro modo de compreensão”]; e em Alberto Magno encontra-se escrito que os melancólicos “multa phantasmata inveniunt” [“descobrem muitos fantasmas”], porque o vapor seco retém mais firmemente as imagens. Mas é, mais uma vez, em Ficino e no neoplatonismo florentino que a capacidade da bílis negra de reter e fixar os fantasmas é afirmada no interior de uma teoria médico-mágico-filosófica, que identifica explicitamente a contemplação amorosa do fantasma com a melancolia, cuja participação no processo erótico encontra assim a própria razão de ser em uma excepcional disposição fantasmática. Se na Teologia platônica se pode ler que os melancólicos “por causa do humor térreo, fixam com os seus desejos a fantasia de forma mais estável e mais eficaz”, na passagem do De amore de Ficino, citada anteriormente, é a obsessiva e desfibrante presença dos espíritos vitais à volta do fantasma impresso nos espíritos fantásticos o que caracteriza, conjuntamente, o processo erótico e o desencadeamento da síndrome atrabiliária. Nessa perspectiva, a melancolia [51] surge essencialmente como processo erótico envolvido em um comércio ambíguo com os fantasmas; e tanto a funesta propensão dos melancólicos à fascinação negromântica, quanto a sua inclinação para a iluminação estática devem-se à dúplice polaridade, demônico-mágica e angélico-contemplativa, da natureza do fantasma. [AgambenE:49-52]

Submitted on 26.12.2021 13:02
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